Nada o fazia esperar, mas os últimos desenvolvimentos dos diversos casos de corrupção que afectam o PT, inclusíve a voz de prisão de vários dos seus candidatos, impedida por se encontrarem em campanha (impedimento previsto pela lei eleitoral brasileira), acabaram por arrastar Lula para uma segunda volta.
O Brasil e por arrasto toda a América do Sul são palco de todas as lutas entre esquerda e direita. Ali é o campo para todas as experiências e em todo o mundo confrontam-se duas visões sobre o futuro da América do Sul que acabam sempre por sair frustradas.
A esquerda vê sempre no combate à pobreza e à exclusão o caminho para o desenvolvimento dos povos sul-americanos e a direita vê sempre no desenvolvimento dos mercados capitalistas o futuro do desenvolvimento destes povos.
No final todos se enganam. A corrupção está de tal forma enraízada na cultura destes países, que nem esquerda nem direita fazem qualquer esforço para lhe resistirem, acabando por arrasar as expectativas do mundo inteiro e principalmente dos seus povos.
A herança das potências coloniais e o domínio anterior à II guerra mundial dos sistemas económicos pelos europeus, deixaram marcas neste países que ao abrigo de princípios excepcionalmente bem elaborados de separação e equilíbrio de poderes criaram verdadeiros monstros políticos, impossíveis de gerir sem compadrio e corrupção.
A excepcionalidade do sistema político brasileiro elege uma quantidade absurda de cargos, estratificados em entidades estaduais, locais e federais (só eles compreenderão porque razão o Brasil é uma república federal). Tudo coroado com um sistema bicameral (a Câmara dos Deputados e o senado).
Para ajudar, os deputados são igualmente eleitos em função do território que representam, assim como da população que representam. Ou seja, era como se o distrito de Beja fosse a zona do país que menos deputados elegesse em função da sua população, mas acabasse por ter garantidos determinados deputados em função da sua dimensão. É o que acontece em alguns estados da Amazónia.
Assim não é possível a nenhum partido politico chegar ao poder sem que pelo meio exista corrupção e maos bem sujas, que calculo sejam do conhecimento de todos, mas da qual sazonalmente uns e outros se aproveitam como arma de arremesso politico.
Com a expressiva votação do candidato Geraldo Alckmin (que há apenas duas semanas tinha apenas 20% das intenções de voto), vai começar o verdadeiro escabeche da política brasileira.
Lula não vai poder continuar a fugir aos debates e a todas as boas oportunidades de estar sob os holofotes da rede globo, mas sabe também que isso vai ter um preço, devido aos escândalos de corrupção, que Alckmin vai aproveitar ao máximo.
Comments on "Lula de escabeche"
Apesar do escabeche ser muito indigesto, parece-me que é mais apropriado descrever a situação cardapial como uma bela caldeirada de lulas.
Jorge Ferreira