Chutos, Obras e Luc Ferry
1. Salas de chuto - Não resolvem o problema, mas ajudam. Uma coisa é certa: o estado a que se chegou dificilmente será pior do que já é. Todavia, compreendo o porquê de algumas resistências. A abertura de uma única sala de chuto num único local da cidade poderia, de facto, estigmatizar esse bairro e os seus residentes. Por esse motivo digo que a implementação das salas de chuto deverá ser feita em simultâneo em todos os lugares em que elas sejam necessárias. Creio que a cidade possui pessoas muito capazes e conhecedoras da realidade para ajudarem a estabelecer essa cartografia. Mas vou dizendo que se a toxicodependência não tem fronteiras sociais, também não deverá as ter na cidade. 2. Obras Urbcom – Partilho, em parte, do optimismo da Cristina por razões óbvias: porque todas aquelas artérias da cidade precisam uma intervenção adequada e porque o eléctrico tem de voltar a correr quanto antes nos carris da Baixa. Mas partilho também da apreensão de Pedro Lessa. Alguém conhece o projecto? O(s) autor(es)? Quem nos garante que não teremos mais uma asneira do calibre de algumas da Porto 2001 e, mais recentemente, da Metro (os Aliados, a Avenida da Ponte que escorre rios de lama para a Mouzinho, a rua das Flores que no seu topo norte ganhou um pavimento austero e infeliz...)? Eu, que sou optimista, espero apenas o pior, quer dizer, espero não ser surpreendido porque pior do que já vi parece ser difícil... 3. Luc Ferry. Esta Câmara, às vezes (!), desconcerta-me. Tanto é capaz do pior, como até de “dar uma prá caixa”. Desta vez, a propósito da “cerimónia evocativa da tomada de posse do executivo autárquico, convidou o filósofo e político francês Luc Ferry enquanto orador. Confesso que gostei da ideia. Isto de uma Câmara convidar um filósofo de renome internacional fica sempre bem a quem meteu no bolso do La Féria um teatro municipal intereiramente pago por nós. Então se a prelecção do ex-ministro for antecedida de uma comunicação do Presidente da Câmara e intercalada por Mozart, então até parece que já entrámos no domínio da oratória (peça dramático-musical longa com solistas e coro de assunto hagiográfico). Estive tentado. Mas não, até porque nem o senhor me cai no goto (o filósofo e o outro) e nem espero grande coisa vinda daí (já tive oportunidade de escutar Luc Ferry numa conferência e ele é mesmo o que parece...). Agradeço o convite e bom proveito. É o mínimo que eu posso dizer a quem se esquece se comemorar o 10º aniversário da eleição do Porto a Património Mundial, mas não se esquece de comemorar com pompa e circunstância o 5º aniversário da sua própria eleição! Prioridades... Etiquetas: Porto |
Publicado por David Afonso às 23:38
Comments on "Chutos, Obras e Luc Ferry"
Deparei-me com o pomposo convite nas páginas do Público! impressionante, tal exercício de vaidade!
de qualquer das forma é um bom programa, o sr. tem bons conselheiros.
mas de facto é grave não comemorar a elevação do centro histórico do Porto a Património Mundial!
Eu confesso que fiquei tentada em meter-me no comboio e ir rumo a norte! Duvido que o presidente da CML tivesse a mesma destreza ;)