Atavismos
A recente polémica em torno do congelamento da actividade de várias companhias de teatro no Porto (e entre elas «As boas raparigas....», o que é uma pena) e da dificuldade em garantir os apoios para o FITEI, despertaram na minha memória um texto com mais de cento e cinquenta anos. Está lá tudo: o ressentimento contra Lisboa, a dependência do subsídio estatal, a exigência por uma profissionalização e a decadência cultural da velha Invicta. Atavismos? «...O theatro do Porto, da segunda cidade do Reino, que tanto jus tem aos desvelos de quem governa, não tem huma companhia estavel, por falta de protecção, e está huma boa parte do anno fechado; e isto porque?! Porque não participa do benefício que se faz aos theatros de lisboa, a que tanto direito tinha; porque na proporção da sua grandeza o Porto he talvez mais contribuinte que Lisboa: deste abandono nasce o não termos no Porto huma companhia constante, o que faria com que os actores velhos criassem actores novos, e que huns e outros animados pela esperança, de que os seus trabalhos lhes proporcionarão os meios de decente sustentação, progredissem no aperfeiçoamento de sua arte. Oxalá que assim se verifique, ou então o theatro do Porto caminhará no sentido inverso do progresso dos outros theatros da Europa.» O Espectador Portuense – Jornal de Theatro, 14 de Dezembro de 1848 «Fação-se leis para o theatro, estabeleça-se o quadro das companhias, marquem-se as habilitações para os actores, faça-se alguma reducção do subsídio dos theatros de Lisboa, em beneficio do do Porto, sugeite-se o theatro a uma vigorosa disciplina – E a arte Dramatica terá entre nós o lugar que occupa em todas as nações illustradas.» O Espectador Portuense – Jornal de Theatro, 28 de Dezembro de 1848 |
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