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sábado, maio 14, 2005

Eterno Retorno

Se há um assunto que me entusiasma – a mim, que envergo o título de tripeiro apenas por empréstimo – é o da reabilitação da baixa desta cidade cabisbaixa. É verdade que às vezes sou dado a amuos e digo sobre a cidade do Porto aquilo que Lord Byron disse sobre Sintra: os portugueses não a merecem! E quem diz portugueses, diz portuenses. Mas amuos e outros aborrecimentos à parte, o abandono da cidade é o único problema sério desta cidade. Esqueçamo-nos dos futebóis, das acrobacias políticas e do eterno despeito para com Lisboa e olhemo-nos no espelho:

O Porto só pode dizer mal dele próprio. A verdade é que fugiu para os arrabaldes, fugindo da memória e do desconforto da cidade velha. Uns pelo seu próprio pé, outros empurrados pelos mirabolantes planos de (re)engenharia urbano-social do tempo em que os bairros sociais brotaram que nem cogumelos pela cidade fora. Ainda agora se vai empurrando diligentemente os estudantes para as bordas do prato. Com estes movimentos migratórios houve muita gente que ganhou a vida: a autarquia que vive das taxas sobre a construção (triste sina!); os grandes, pequenos e improvisados promotores imobiliários; e os também grandes, pequenos e improvisados empreiteiros e subempreteiros. E a banca, claro! A banca que vive deste luxo improvável da casa-própria para todos e cada um e que, ao mesmo tempo que finaciava o endividamento vitalício das familias que desertavam da cidade, ia destruindo o centro cívico desalojando os cafés históricos, ocupando posições nos edifícios emblemáticos da baixa. O que nos sobrou foi este casco vazio, muito bem servido de sucursais bancárias (as sedes já fugiram para Lisboa), cercada de condomínios privados, bairros sociais, vivendas e, enfim, de gente que teima em se dizer do Porto apesar de tudo.

Agora que se bateu no fundo, abre-se um novo ciclo: o ciclo do retorno à baixa. analisa-se a cidade ao microscópio para quantificar aquilo que toda a gente já sabe, arregimentam-se os técnicos, limpam-se as medalhas de mérito político, convoca-se a imprensa e está anunciada a recuperação. A banca, os empreiteiros e os promotores imobiliários apreciam o eterno retorno que lhes é proporcionado pela cidade.

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