Jornalismo Mercenário
Não é a primeira vez que isto acontece e não será a última. O Jornal da SIC deste Domingo fez notícia de um mega-empreendimento a instalar por um grupo de investidores nos arredores de Lagos. Deste misterioso grupo de investidores apenas foi avançado o nome do ex-treinador do Benfica e actual seleccionador da Inglaterra, Erikson. Não por acaso, penso eu. Dada a dimensão da operação imobiliária, que pretende passar por ser um aldeamento olímpico não me parece que o papel de Erikson não seja maior do que a personagem-marketing que deverá legitimar e atestar a bondade da intenção dos promotores. A notícia da SIC aparece montada segundo uma estratégia a todo o título hipócrita: 1º Faz referência ao prestigiado treinador; 2º Enumera o número de postos de trabalho a criar; 3º Acena com os milhões investidos; 4º Anuncia que se trata de um projecto ecológico e amigo do ambiente. Pelo meio faz-se uma entrevista aos incontornáveis autarcas que pulam de contentamento. Quando estamos convencidos de que a coisa já está a andar, vem o balde de água fria: os terrenos estão em plena reserva agrícola e reserva ecológica. Oportunidade para o “jornalista” reafirmar o espírito ecológico e desportista do empreendimento e de os autarcas declararem o interesse da terra em que os investidores não fujam. Ora, isto não é uma notícia mas uma manobra de pressão sobre a opinião pública. Isto não é jornalismo, mas um acto mercenário. As reservas agrícola e ecológica não podem ser revistas ao sabor das vontades dos dinheiros. E como podem afirmar que um complexo de campos de golfe e de futebol é ecológico? O verde por si só não tem nada de ecológico. Este verão vai ser muito difícil os algarvios terem agua nas torneiras para darem de beber aos turistas. O ano passado já se recorreu a auto-tanques dos bombeiros para regar os campos de golfe. Ecológico? Vamos transformar todo o Algarve numa imensa Disneylândia para reformados ingleses. Uma última questão: a quem estarão os jornalistas da SIC a fazer o frete? |
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