Falando De Álvaro Cunhal...
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Comments on "Falando De Álvaro Cunhal..."
Nao concordo nada com o VPV!
Ja viram que o Cunhal foi util para a saida de tao valorosos valores do PCP como Vital Moreira, José Magalhães ou Zita Seabra?
e para a quebra de votos?!
É, há sempre um lado mais optimista de encarar as coisas.
o VPV escreveu isso a que horas? bom nesta altura, ele já não tem horas sobrio...
temos que o desculpar já devia estar bebado.
Cunhal mesmo defendendo o que defendia, fez parte da democracia..e tem lugar na historia portuguesa.. (os outros não)
A democracia faz-se também com os anti-democratas. A natureza da democracia é precária e paradoxal. É o jogo em que as regras se vão fazendo e, no seu momento, Cunhal foi fundamental para aprendermos o jogo e redefinirmos as regras. Obrigado Álvaro.
Cunhal foi tão fundamental para aprendermos o jogo e redefenirmos as regras como Salazar. Eles não pertenceram ao núcleo essencial do ideário democrático, não: pelo contrário, ambos estavam na periferia [leia-se:longe] desse mesmo ideário, combatendo-se mutuamente de um extremo ao outro [do extremo da direita ao extremo da esquerda]. Se Cunhal foi fundamental para a democracia, não o foi porque verdadeiramente era um democrático, mas sim porque combateu a ditadura tendo em vista uma outra espécie de ditadura. Não tenho nada a agradecer-te, Álvaro. Ainda bem que neste blog há pluralidade de ideias: é sinal que Álvaro não triunfou.
Só me faltava agora esta... A pluralidade de ideias não depende do regime político ser mais ou menos democrático. Vê lá: estamos numa democracia e que pobreza de ideias... Já agora: se não fosse o PCP às tantas o 25 de Abril não seria em 74, mas - quem sabe? - lá mais para 84 ou nunca teria acontecido. Seja lá como for ainda demorámos 5 décadas para sacudirmos a pata da ditadura. A verdade é que nos sentiamos bem. Se não fosse a infiltração comunista no aparelho militar não teria havido o golpe militar que pos fim ao Estado Novo. Na altura os comunistas eram a única oposição minimamente organizada e com real poder. De facto, a democracia nada deve a Cunhal... Aqui não permito lavagens da história! Muito menos à lambidela!
Mas a expressão da pluralidade de ideias depende do regime ser mais ou menos democrático. Estamos numa democracia e temos pobreza de ideias, sim. Mas podem ser expressas, pobres ou não. É esta a verdadeira riqueza da democracia. Estou convencido de que o 25 de Abril foi feito mais por uma certa animosidade por parte dos militares em relação à guerra colonial, do que propriamente pela sua fidelidade às hostes comunistas. E há que não esquecer as outras forças políticas (algumas, sim, verdadeiramente apologistas da democracia) que também tiveram influência. Se acaso Cunhal tivesse triunfado, de que nos serviria o 25 de Abril? A substituição de uma ditadura por uma... ditadura fica ela por ela.
Também gostava de viver num mundo assim: em que os bons não se confundem com os maus e os maus com os bons. Ainda acusam o Bush de ingenuidade maniqueísta...
Não tenho a pretensão de catalogar em "bom" ou "mau" seja quem for. Certamente, e eu reconheço que, como homem, intelectual, político e artista Cunhal fez e faz parte incindivelmente da História do séc. XX. Mas o objecto da nossa questão não era geral e sim um ponto concreto que era este: Cunhal fez parte da democracia uma vez que tentou derrubá-la
1)porque era verdadeiramente da esquerda democrática
2)porque tinha planos no extremo oposto ao de Salazar para o país e, como tal, planos pouco ou nada democráticos.
A aceitar esta segunda hipótese, concluo que Cunhal só por um acaso do destino - o seu fracasso - contribuiu para a democracia. É esta segunda hipótese para a qual me inclino, sem pretensões de rotular Cunhal de "good guy" ou "bad guy".
Pois eu acredito que Cunhal desempenhou vários papéis na nossa história, adaptando-se às circunstâncias (aliás não alinho nesse elogio da coerência que por aí anda). Para o que nos interessa: 1) Reorganizou um partido que teve um papel crucial no fim do salazarismo; 2) Tentou impôr no prec a sua visão do mundo; 3) Quando se apercebeu de que tal não era possível, recusou-se a entrar na loucura da guerra civil (e tinha condições para isso); 4) Tornou a reorganizar o partido para a vida democrática. Querem mais?
Um extra: comparar Cunhal com Salazar é um exercício de desonestidade intelectual. Essa moda que aí anda de que os extremos se identificam só fica bem a quem perdeu a bússula política.
Muito bem, o sr. Cunhal organizou um partido que teve um papel crucial no fim do salazarismo. Muito bem, tentou impor no prec a sua visão do mundo. Mas qual era a sua visão do mundo? Esta é que é a verdadeira substância da questão. Julgo Cunhal não pelo seu papel na História portuguesa (que é indiscutível), mas sim pela sua material visão de modelo de sociedade para Portugal. Tanto eu, como tu, David, estaríamos um pouco mais pobres (em todos os sentidos) com esse modelo. Por favor, o homem admirava Stalin!
No meu comentário anterior os pontos 3) e 4)também são para serem tidos em consideração. Parar no ponto 1)(alguma esquerda) ou no ponto 2)(a direita acéfala) é ignorar todo o restante período em que Cunhal entrou no jogo democrático. Era admirador de Stalin? Pois bem! O novo 1ºministro frances é admirador confesso de Napoleão, pelo que temos de fazer alguma coisa relativamente a esse sacaninha anti-democrata!
Certo. Tentou impor no PREC a sua visão do mundo. Mas para isso é que Cunhal estava na política! Se ele não tentasse impor a sua visão, ou se tentasse impor a visão dos outros, aí sim, eu ficaria espantado. Quanto à recusa de entrar na guerra civil, tal facto também não o destaca em nada. No que respeita ao novo 1º ministro francês, é natural que seja admirador confesso de Napoleão. Não obstante o seu imperialismo desmedido, temos de situar cada homem no seu tempo. Napoleão, àquela altura, inovou em muitos quadrantes e deixou-nos testamento (Stalin também o deixou, mas só um testamento de dívidas e morte): o seu maior legado foi o Code Civil, de 1804, inspirador da actual legislação europeia continental(e portuguesa em particular), cujos princípios base resistiram à historicidade do tempo e estão entre nós. Os próprios princípios da legalidade e da igualdade (se bem que ainda entendidos apenas formalmente) foram criação de Napoleão! Uma coisa é ser admirador de Napoleão, homem de contexto histórico completamente diferente do do 1º ministro francês (por exemplo, admiro César Augusto, embora tenha sido um sanguinário) e não advogar as suas ideias para o país. Outra coisa é a admiração presente por um homem do seu tempo, com um modelo de sociedade bem conhecido, e com o curriculum de maior assassino do século XX. Presumo que o 1º ministro francês não queira para a França um Estado semelhante ao de Napoleão. Mas Cunhal já queria para Portugal um Estado semelhante ao da URSS. E Cunhal entrou no jogo democrático precisamente porque não conseguiu transformar Portugal numa Cuba (presumo que consideres Cuba um bom local para se viver - quanto a mim, só para passar férias). Há direita acéfala, sim, mas esquerda de Cunhal também o era. Se Cunhal tivesse triunfado e (só dois pequenos exemplo) abolisse o direito sucessório ou restringisse a aquisição de propriedade privada, tenho a certeza que não tinhas tanta veneração pelo finado.
Não tenho veneração. Mas tu tens-lhe um ódio totalmente despropositado que te impede de o considerar na sua complexidade e segundo parametros justos. E cunhal já é história, o que nos deveria facilitar uma apreciação menos fundamentalista. A nossa democracia seria impossível sem Cunhal. Ponto final.
Nem tu (segundo dizes) tens veneração, nem eu lhe tenho ódio. Até admiro a sua combatividade e a sua coerência de vida. Tu pensas que foi a galinha que nasceu primeiro, eu penso que foi o ovo. Ponto final.
E assim acaba um glorioso debate. Isto não sabe tão bem como à frente de um par de cervejas e um pires de tremoços, não é? Sinto falta dos insultos e dos murros na mesa entre uma rodada e outra...
Pois é, David, pois é... nostalgia... Moramos em cidades diferentes...