Far West da Europa
Cruz Silva: o pequeno baronete do PSD/Águeda; o temível cacique local que tinha a fama de fazer/desfazer carreiras políticas dentro da sua coutada; o criador de Castro Azevedo (Presidente da C.M. Águeda); o dono da Unicola; o prestigiado deputado à Assembleia da República; o Silva dos Leitões! Este personagem dos bastidores da nossa “democracia” local é um dos principais envolvidos no processo de peculato e falsificação de documentos que terá lesado a autarquia da sua própria criatura política em mais de 250 mil euros, através de um esquema de compras e vendas fictícias. Pelo meio ainda há lugar para a Arsol, empresa do presidente da Junta de Freguesia de S.J. da Madeira. De quando em quando dão-se estes afloramentos da porcaria gerada pelos pequenos poderes locais. É um fenómeno interpartidário e até extrapartidário. As estratégias de enriquecimento e de conservação do poder à escala local não terão mudado muito nos últimos duzentos anos. De um modo geral, não passarão de esquemas mais ou menos toscos e pouco ou nada sofisticados. O seu sucesso decorre não da inteligência com que são desenhados, nem do seu secretismo (são sempre do domínio público: existe sempre a empresa do cunhado pronta a colaborar com a autarquia a bem do interesse do progresso da terra...). O seu sucesso decorre, por um lado, do facto de usufruírem da complacência geral - de todos nós - que vai aceitando com toda a naturalidade que estas coisas aconteçam e se reproduzam de geração em geração, contando que sobre alguma coisa para o nosso lado (um emprego, um concurso, um subsídio, um contrato, enfim...). Por outro lado, os partidos políticos vieram a estabelecer uma relação de simbiose com esta realidade que lhes preexistia (a nível local, do salazarismo – já para não falar do século XIX - ao pós-25 de Abril as diferenças são muito poucas; enfim, quanto muito dá-se uma verdadeira democratização na... corrupção; mas não sei se repararam que as elites locais são exactamente as mesmas!). Os partidos protegem esta realidade, dando-lhe uma máscara institucional e de respeitabilidade (quem não se lembra do deputado Cruz Silva entrincheirado no grupo parlamentar do PSD?), recebendo em troca o financiamento necessário à sua sobrevivência, nomeadamente o financiamento das campanhas eleitorais. Ninguém ficaria verdadeiramente surpreendido se se viesse a descobrir que parte desses 250 mil euros se destinassem a subsidiar actividades partidárias. Nada de novo no Far West da Europa. |
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