A Greve e os Sindicatos
1. Quando abordei pela primeira vez este tema tinha concluido que estaríamos perante uma enorme inépcia política por parte do governo, dado que a «requisição civil» de professores parecia um acto gratuito, de tal modo desproporcionado que estaria a criar um problema, onde apenas havia um contratempo. Ora, hoje vejo as coisas de maneira bem diferente. Acho que se tratou de um acto de grande estratégia política. É que sendo o confronto com os sindicatos inevitável, o melhor a fazer seria antecipar esse confronto já para este mês de Junho em vez de o deixar para Setembro. Como a reacção dos sindicatos da educação é previsível, ou seja, a greve, o governo puxou-os para um terreno que lhe é muito favorável. A greve a exames suscita de imediato a repulsa por parte das famílias e generalidade da opinião pública e esta base de conforto para o governo permite-lhe subir o tom do confronto. Se os dirigentes sindicais fossem inteligentes, teriam percebido que a greve aos exames é um tiro no pé da sua credibilidade. Apesar da revolta dos professores ser, em alguns aspectos, justa, os sindicatos não têm mãozinhas para tocar a guitarra. 2. Um outro problema é o da real representatividade dos sindicatos. Sabemos que existem demasiados e que o nível de associados tem vindo a decrescer. De resto, é uma situação comum a vários sectores. Na educação a influência dos sindicatos é sustentada pelo próprio ministério. Como existe uma excessiva centralização dos serviços, bem como uma incapacidade de comunicar e esclarecer as pessoas (não apenas os professores...), quando o professor se depara com qualquer dúvida, vai procurar informações e esclarecimentos não junto da tutela - o que seria natural e desejável - mas junto dos sindicatos. O resultado é que os sindicatos acabam por desempenhar funções que são próprias da administração, ganhando desse modo um forte ascendente sobre os profissionais do ensino (esta situação torna-se mais evidente durante o período dos concursos). Se o governo estiver interessado em controlar a influência sindical, apenas precisa de tornar os serviços dos ministérios mais eficientes e abertos. 3. Não se julgue que quero mal aos sindicatos. Bem antes pelo contrário! Gostaria que evoluissem e se tornassem algo mais do clubes de associados, que vão reagindo às várias políticas. São apenas uma trincheira corporativa e pouco mais. Para quem tenha dúvidas fica aqui a minha história: em Setembro passado vi-me envolvido no kafkiano processo de colocação de professores; fui de tal maneira prejudicado que lá fui bater à porta de um sindicato (SPN), mais para procurar informações do que para pedir ajuda. Aí tive uma esclarecedora conversa com uma auto-intitulada "colega": entre uma cigarrada e outra, a minha prestável colega informou-me de que se precisasse de ajuda o SPN estava lá mesmo para isso, mas como não era associado para que um simples requerimento à ministra seguisse sob a chancela do dito sindicato teria de pagar antecipadamente 6 meses de cotas! Reparem que eu estava ali na qualidade de desempregado! Epílogo: pelos meus próprios meios preparei a minha exposição e vi o meu problema resolvido bem antes dos meus colegas que tiveram o «apoio» do sindicato. |
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