O Livro de Reclamações de Domingo: A Lagarta
A falta de higiene nos restaurantes é um problema de saúde pública. Demasiadas vezes tenho de almoçar e jantar fora de casa, pelo que sou particularmente vulnerável a episódios tristes. Não se julgue, no entanto, que é um perigo exclusivo das tascas e restaurantes modestos. Este Sábado fui jantar a Ovar numa coisa a que os autóctones apelidaram de «o melhor restaurante de Ovar», mas que só tem de bom o facto de estar virado para a ria. A coisa dá pelo nome de «Oxalá». Não vou falar da qualidade [sofrível] da comida, não vou falar do serviço [indigente], não vou falar da decoração [pirosa]. Vou falar de badalhoquice mesmo! A dado momento, enquanto mastigava com zelo ruminante aquilo que num gesto de boa vontade, concedemos o título, por ventura exagerado, de salada, uma bonita lagarta subiu energicamente pelo meu garfo acima. Convenhamos que, mesmo para um amador da vida selvagem – como eu gostaria de ser – o recontro com aquela fera segregadora de baba não era lá muito oportuno e, por isso, consultei o empregado sobre este belo, mas indesejável, brinde. Com uma eficácia singular o bom serviçal prestou-se a conduzir a lagarta à presença do cozinheiro. Estava feita! À noite sonhei com o pobre bicho. Pela manhã fui assaltado pela indignação: «Co’s diabos! A lagarta era minha! Eu paguei-a! E o cozinheiro é que ficou com ela?», seguido do remorso: «A lagarta era minha propriedade! Eu era responsável por aquela vida, não a deveria ter deixado ficar nas mãos daquela gente...» |
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