Ao contrário do lendário Rei Midas, que transformava em ouro tudo em que tocava, Rui Rio parece ter o misterioso condão de transformar em problema tudo em que toca. Túnel de Ceuta, Avenida dos Aliados, El Corte Inglès, Metro na Boavista e agora Mercado do Bolhão. Há ainda quem gabe a coragem política do Presidente da Câmara ao afrontar desta maneira os comerciantes do Bolhão. Eu, pela minha parte, não confundo coragem com inconsciência. Existem óbvias condicionantes de segurança que representam um perigo para os próprios comerciantes e clientes, às quais a autarquia enquanto proprietária e entidade responsável não poderia ficar indiferente. O que ninguém consegue compreender é esta forma abrupta e prepotente de abordar o problema! Ninguém compreende como é que a Câmara deixou o imóvel se degradar daquela maneira, sem fazer as obras de manutenção a que a lei obriga, e vem agora exigir que os comerciantes libertem o espaço em tempo recorde. Para piorar a situação Rui Rio em vez de acalmar as pessoas, resolve, qual Nero, atiçar ainda mais o fogo: comete a imprudência de declarar que nem todos os comerciantes vão poder voltar ao Bolhão depois das obras e, à socapa, durante a noite, interdita parte do Mercado! O resultado só poderia ser a revolta.
Para aqueles que dizem que o Bolhão morreu e que no seu lugar devia nascer uma espécie de centro comercial, ou um mercado snob e de recuerdos para turista ver e comprar, talvez fosse bom visitarem a um Sábado, pelo menos uma vez na vida, o mercado. Eu, apesar de morar mais perto do Bom Sucesso, prefiro apanhar o metro para o Bolhão, onde compro fruta e legumes que não consigo encontrar nas grandes superfícies, aproveito para me abastecer de várias variedades de azeitonas e de ervas aromáticas e, às vezes, quando vale a pena, compro algum peixe. Aproveito ainda para fazer algumas compras de mercearia fina nas mercearias que situam por ali à volta. Depois é só apanhar o metro de volta a casa. É claro que o Bolhão está decadente, é claro que tem problemas de higiene e de acondicionamento dos produtos, é claro que tem espaços desocupados, mas não morreu ainda! Todas as cidades europeias que conheço têm mercados de frescos: são mais arrumados, mais acolhedores, com oferta mais variada que o Bolhão, mas não tão bonitos e animados como o Bolhão. Há muito a melhorar: trazer mais comerciantes, variar ainda mais a oferta (uma loja de vinho era, de facto, excelente ideia, tal como outra de produtos africanos, ucranianos e outros, e claro, produtos biológicos), adaptar os horários às actuais exigências. E tudo isto é compatível com a manutenção dos actuais comerciantes, que merecem todo o nosso respeito e solidariedade.
Comments on "Rui Rio: O Anti-Midas"
05:37 da manhã, David?
O Tempo também é uma superstição