O Correio Dos Nossos Leitores
As “postix” são o reflexo de um acontecimento real, mediático, numa ***ficção imaginativa, intemporal, no quotidiano de uma pequena aldeia gaulesa, bem conhecida pela valentia com que resiste ao cerco imposto pelas legiões de César. Postix (4) – Georgicus Nome: Georgicus, Altura: 1,5 m, Idade: 1,8 milhões de anos. A descoberta de Georgicus foi um notável acontecimento científico. Um nosso antepassado de baixa estatura, com um queixo a tender para uma proeminente mandíbula, apanhado na lava de algum vulcão, algures na Geórgia, provavelmente um caçador em grupo, que, seguramente, e por falta de utensílios manufacturados, ou talvez, já com alguns mal amanhados, depelava as presas e rasgava-lhes as carnes à custa da referida D2600 (assim fora registada a referida mandíbula). Ou talvez até, esmagasse raízes ou frutos oleaginosos de casca dura com a referida protuberância. Portanto, o Georgicus, de fraca figura, devia deslocar-se em grupo para melhor se proteger dos predadores da época e para melhor isolar as presa a abater. Isto na perspectiva de manter os hábitos trazidos de África de onde teria chegado não há muito tempo. E, provavelmente, também, dispunha de uns braços compridos e possantes manápulas para fixar a presa e fazer actuar a mandíbula. Bem, mas a nossa pequena história começa realmente em Abril de 2000, com a descoberta de 2 crânios, 1 metatarso e uma mandíbula, no sítio pré-histórico de Dmanissi, na Geórgia. Após ter sido feito o seu estudo aprofundado, a equipa franco-georgiana provocou uma revolução no mundo dos paleo-antropólogos, pois o que tinham entre mãos não se assemelhava a nenhuma espécie Homo conhecida. Homo ou Homnídeo? As diferenças encontradas pelos cientistas, quando compararam as ossadas descobertas em Dmanissi com os antigos representantes do género humano, são de tal ordem que tiveram de criar uma nova espécie a que designaram por Homo Georgicus! Esta nova espécie, na árvore genealógica do Homo Sapiens, viveu na Eurásia, há 1,81 milhões de anos! *** Os pseudo-eruditos artífices da pequena e aguerrida aldeia gaulesa que se mantinha cercada pelas legiões romanas, tinham, há muito, menosprezado a notícia que chegara pelas sentinelas das paliçadas - que negociavam com os romanos dos postos avançados a cidra gaulesa por artigos de cabedal e transitavam notícias várias - reunindo-se todos na grande mesa sob o carvalho secular, pois, indesfarçavelmente, menosprezavam a notícia da longínqua Geórgia. Duvidando abertamente da veracidade de tal idade atribuída ao pequeno Georgicus e mesmo à sua identidade pois de tão longínqua prospecção que outra saída houvera para uma equipa de antropólogos já fatigados e (paleo), perdidos meses a fio por aquelas tão rudes serranias, já com os subsídios em vias de se expirarem a breve termo, pois se tornara mais que evidente ser urgente a revelação de uma descoberta, mesmo que fora de alguns ossitos, que justificasse mais um reforço nas alforrias científicas prestadas pelos Institutos que os subsidiavam. Assim era o teor das conversas entre os artífices, em acção síndica, sempre muito críticos e pseudo-eruditos em várias matérias, inclusive a decorrente. E para que se conste, foi logo no dia seguinte que o frémito feito notícia percorreu a aldeia de lés a lés! E trazida pelo carregador de menires que veio informar o Chefe da aldeia, superiormente protegido, que ao ser feita a remoção de um antigo menir se deparou a existência de ossadas humanas logo por baixo! O que fez correr meio mundo gaulês para a pedreira para ver tão extraordinária notícia, pelo que tendo O Chefe, o pequeno e valoroso guerreiro de bigodes adequados, e, naturalmente, o carregador de menires, se abeirado do sítio e mandado afastar os artífices e aldeões, (tendo faltado os camponeses que, estando o tempo de feição, tinham mais que fazer do que ir desenterrar ossos) aguardando todos, com pagã ansiedade, as apreciações que o Venerável druida do caldeirão iria tecer após cuidadosa apreciação dos ossos expostos, com recurso a algumas gota acéticas e outras. E tendo a noite entrado pela aldeia logo se envolveu o sítio de archotes bem nutridos e feito a sua demarcação com fitas, enquanto a romaria de gauleses e gaulesas iam e vinham a saber notícias, dado estarem todos fortemente esperançados na descoberta de um Gáulicus, um espécimen que, pela sua idade, viria a constituir um marco científico tanto ou mais importante que o tal pequenote desajeitado lá da Geórgia. Ao raiar da madrugada, e após reunião sigiliosa entre o Venerável e o Chefe, veio a concluir-se que os ossos pertenciam a um infeliz gaulês, trabalhador na pedreira, que, seguramente, por lapso, adicionara à dose matinal da poção mágica alguma cidra fermentada, pelo que, a páginas tantas, sob o efeito dos primeiros eflúvios da fermentada cidra, se lhe arquearam as pernas, se lhe curvou a espinal, se lhe tremeram os braços, se lhe inchou a jugular, se lhe entumeceram as órbitas dos olhos e, num exaltante sopro e pungente gemido, já roxo, soçobrou, no fragor de ossos quebrados, sob o granítico menir. Havendo sido sentida bem fundo na alma gaulesa esta nefasta e vã esperança logo se fez uma sortida pelas cercanias desbaratando as romanas patrulhas para as ditas não ousassem tomar conhecimento da frustada esperança. E, para que se conste, regressaram todos, os artífices e aldeões às suas actividades, já que os camponeses continuavam na sua faina para melhor aproveitamento do tempo de feição, numa aldeia coberta por um manto de pungente silêncio, mas com a vã introvertida cobiça de, quem sabe, uma dia, poderem vir mesmo a descobrir as ossadas do Gaulicus, certamente um heróico ascendente de tão ilustre gesta gaulesa, erectus, sapiens e sem aquela medonha mandíbula despropositada e de tão mau gosto... Por Toutatis! Kalonge |
Publicado por Pedro Santos Cardoso às 21:51
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