Pelos Caminhos de Portugal

Em Lisboa os cartazes eleitorais são mais trabalhados e calculados. Este em particular da Maria José Nogueira Pinto (CDS/PP), é bem expressão disso: fotografia cuidada e montada, na qual o gesto de segurar os óculos numa atitude de reflexão pretende transmitir a ideia de preocupação e embora seja facilmente perceptível a artificialidade da postura, é eficaz e escapa ao padrão «fotografia-tipo-passe»; o texto vem enfatizar ainda mais esta aura snob: 1. «Lisboa com certeza em boas mãos» destaca uma expressão que, à partida, era de todo desnecessária para fazer passar a mensagem. Que mal teria «Lisboa em boas mãos»? Aparentemente, nada! Mas o uso do «com certeza» sugere um determinado universo social, habituado a este tipo de codificações linguísticas («Mas com certeza que sim, querida! Chá?»); 2. «Saber fazer em tempo útil!» sugere que a candidata sabe fazer as coisas e não perde tempo com ninharias. Aqui entramos no velho e estafado discurso do «obra feita»/«obra por fazer», um verdadeiro tique eleitoral! Para tornar ainda mais desagradável a coisa, a mensagem é colada numa espécie de «post hit», à maneira de recado da secretária para o chefe de secção. Uma reminiscência da existência meramente burocrática deste estranho personagem? O saudoso Paulinho em 2001 chegou aos 23.584 votos (7.5%), o que até ultrapassava em 3.258 a lotação máxima do Estádio do Restelo! Já agora: o que é feito do «Eu fico!»? (*Foto: colaboração involuntária do Lóbi do Chá)