Recado a Ribau Esteves
No «Público» de 30 de Agosto, Adelino Fortunato fez publicar um interessante artigo de opinião sobre a bolha especulativa do imobiliário. Recomendo vivamente a sua leitura a todos os portugueses e a todos os autarcas e, em particular, ao presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, Ribau Esteves, que mantém a estranha ambição em fazer construir o mega-empreendimento imobiliário disfarçado de Marina. É claro que este artigo só ilumina parte do problema. Quanto à outra parte do problema, é só perguntar ao Paulo Morais que ele explica.
Mesmo no que respeita ao governo central e aos partidos políticos tradicionais, profundamente penetrados por concepções ultrapassadas de desenvolvimento económico e pela lógica de interesses de curto prazo, há uma incapacidade em conjugar preocupações de desenvolvimento sustentável, inscritas em muita legislação portuguesa, desenvolvida a partir de directivas da União Europeia, com as decisões políticas que muitas vezes se contradizem. Só para citar alguns exemplos, atente-se na construção de um enorme centro comercial (o maior da Europa no seu género) em terrenos de Zona de Protecção Especial em Alcochete, nas intenções de investimento na Mata de Sesimbra contrariando a lógica de um Plano Regional em vigor e nos projectos de edificação em plena Rede Natura 2000 em muitos locais da costa Atlântica*. [*Outro exemplo que poderia ter sido dado era o exemplo do projecto da Marina da Barra, em Ílhavo.] Para além da insustentabilidade ambiental, o actual modelo vai conduzir muitos agentes e autarquias financeiramente mais débeis a confrontar-se com erros de apreciação. Quando o movimento de descida e contracção das margens de lucro se fizer sentir, quebrando a resistência dos grandes operadores que constroem, muitas vezes, como forma de investimento sem preocupações de venda imediata, o pânico pode invadir o mercado. Bastará uma pequena subida das taxas de juro e a cobrança a sério dos impostos e taxas municipais para que muitos pequenos aforradores tentem livrar-se das segundas e terceiras habitações, acelerando a tendência para a baixa de preços. Nessa altura, as autarquias vão coleccionar um monte de betão abandonado e desvalorizado, que não gera as receitas por elas antecipadas. Eis um desenlace possível de uma das maiores bolhas especulativas da história económica.» |
Publicado por David Afonso às 00:04
Comments on "Recado a Ribau Esteves"
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