Rui Rio No Majestic*
Inspirado na germanofilia de Rui Rio, resolvi adoptar a regra do exército alemão, segundo a qual um oficial só poderá apresentar uma participação disciplinar de um subordinado passadas pelo menos 24 horas, resguardando-se desse modo de juízos de valor precipitados. Tratando-se do Rui Rio resolvi aguardar pelo menos 48 horas. Em primeiro lugar devo esclarecer que não houve tertúlia alguma, dado que a armada de apoiantes e de «membros da lista» tratou de transformar o debate num comício. Francamente não percebi a quem se dirigiam esses «membros da lista» com os seus discursos de bolso, não vi qual a utilidade para o esclarecimento político o testemunho-com-um-brilhozinho-nos-olhos da jovem que «trabalha pessoalmente com o Dr. Rui Rio», não vislumbrei nenhuma intervenção dos acólitos que procurasse a reflexão e o debate. A diferença entre o que se passou ali e o que se passa numa celebração de um culto carismático é muito pouca! A diferença é que em vez do «Amen!» tivemos uns 376 «Muito bem!». A política tem dificuldade em respirar na atmosfera partidária e ainda mais se estivermos a falar do partido do poder. Na intervenção inicial, Rui Rio fez uma aproximação aos três problemas estruturais que o ocuparam no mandato que agora termina e que continuam a ser o núcleo do programa eleitoral da coligação de direita, a saber: o social, a habitação e a mobilidade. As demolições no bairro de S. João de Deus («O que nós fizemos no Bairro de S. João de Deus é fantástico!»), a questão da marginalidade e criminalidade (os arrumadores não podiam faltar...) e o ensino primário (Rio lembrou que as escolas públicas são frequentadas por crianças de classes sociais desfavorecidas e nós acrescentamos que as classes sociais mais favorecidas frequentam os inúmeros externatos e colégios privados; não sei se já repararam, mas a classe média foi varrida do Porto para fora... e isso é também um problema social) foram os principais tópicos no que diz respeito ao problema social). No que diz respeito à habitação, puxou do trunfo da SRU (para o bem e para o mal, deve ser entendida como o legado maior do anterior executivo) e elogiou a sua gestão urbanística (é verdade que nenhum prédio com cércea excessiva é atribuível à gestão PSD, mas, da maneira que as coisas estão, outra coisa não seria de esperar; como se alguém conseguisse licenciar seja lá o que for em tempo útil na Câmara do Porto...). Na questão da mobilidade teve a honestidade em reconhecer o papel decisivo dos executivos socialistas que conseguiram levar para a frente o projecto do Metro e comprometeu-se em lutar contra o estacionamento selvagem e em 2ª fila (Pois, pois! Ironicamente, ao mesmo tempo que Rui Rio discorria sobre este assunto, um membro da comitiva saía do Majestic para retirar uma viatura mal estacionada! Aqui faço minhas as palavras do presidente da Câmara: «Isto é um problema de polícia»). A tentativa de tertúlia que se seguiu foi um misto de bajulação (Onde estava toda esta gente em 2001?), de ataques aos jornalistas (esses malvados que enganam as velhinhas sobre o carácter do nosso querido líder...) e de algumas – poucas – questões colocadas por alguns cidadãos ali presentes. Um dos únicos momentos positivos da noite foram as intervenções de TAF e Cristina Santos (só lamento que não tenham vindo a todos os outros debates). Cultura foi tema que só mereceu 10 minutos de atenção do candidato e, mesmo assim, se tocou no assunto foi porque se viu obrigado a responder a uma questão muito directa. Pois bem: desbaratou esses 10 minutos a lembrar que «a senhora que está à frente do Rivoli até é do PS», a lançar farpas ao Museu Soares dos Reis e a enumerar o pouco que já fez (Museu Vinho do Porto e...). Projectos para o futuro? Não tem. Recordo que as outras candidaturas apresentam a cultura como sector estratégico para a cidade. Para acabar, uma recomendação: o ainda Presidente da Câmara Municipal do Porto devia aprofundar a sua germanofilia, dado que continua a reagir às críticas como um verdadeiro latino. [Boneco da autoria de Cristóvão Neto] *Publicado no A Baixa do Porto |
Publicado por David Afonso às 22:35
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