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segunda-feira, outubro 31, 2005

A Falsa Sombra Do Professor*

Cavaco é um político profissional e a prova disso está na própria mensagem «Eu não sou um político profissional.»
Vamos por partes: a) Cavaco exerceu o cargo de ministro das finanças em 1980; b) em Junho de 1985 é eleito presidente do PSD; c) em Novembro do mesmo ano chega a primeiro-ministro, cargo que só abandonará em Outubro de 1995; d) não levou até ao fim o seu mandato porque preferiu arriscar a candidatura à Presidência da República, tendo perdido estrondosamente para Sampaio; e) conhecedor dos tiques do eleitorado português, Cavaco entrou em hibernação durante esta última década, rosnando aqui e acolá só para lembrar que ainda estava vivo, tendo esta hibernação sido financiada pela sua reforma de político e pelo seu trabalho académico e convém lembrar que aos ex-governantes nunca faltou emprego nas universidades públicas e/ou privadas, nas empresas públicas, na banca ou nas fundações; trata-se de uma espécie compensação tacitamente negociada e incluída no «caderno de encargos» de qualquer máquina partidária e Cavaco não é excepção alguma. Conclusão: Cavaco esteve sempre presente na política, ora no seu hard-core, ora nas suas metástases.
Mas o ex-primeiro-ministro não quer que o reconheçam na pele de político. Porquê? Porque projecta uma sombra de si próprio que não corresponde à realidade? Porque motivo se esforça por criar a imagem de uma austeridade e desinteresse pelas patifarias dos partidos, como que se situasse muito para além de tudo isso? Entregar o cartão de membro do partido ou repetir o mantra «Eu cá não sou político!» são momentos ritualizados de uma encenação de má qualidade. O desinteresse do professor é falso. Cavaco é um animal político, tal como Soares. O que fez Cavaco durante esta última década? Onde estava ele quando a sua intervenção poderia ter sido verdadeiramente decisiva? O homem que agora «não se resigna», resignou-se com a recente tragédia do PSD e com a vitória por KO do PS. O homem que «não se resigna» deixou que a sua criatura, Santana Lopes (sim, sua: foi o professor que o alimentou com os cargos de responsabilidade política que lhe atribuiu em 1986 e em 1991) transformasse o país numa anedota. Se é verdade que «não se resigna», então Cavaco deveria ter aparecido quando, então sim, poderia ter sido a tal personagem providencial: aquando do congresso do PSD que resolveu (mal) o imbróglio da fuga de Durão Barroso, impedindo que a tal «moeda fraca» ascendesse a primeiro-ministro. Isso sim! Isso é que teria sido um murro na mesa! Finalmente, o professor teria oportunidade de provar a sua competência quase sobrenatural, mas desta vez em tempos de vacas magras. No entanto, o homem das «ambições» ficou quieto a ver o circo a ser montado. É natural: afinal de contas ele próprio tem um historial de fuga do governo e, para além disso, estava muito entretido a preparar a sua candidatura à Presidência da República. Nada mau para político amador.
[*Publicado n'O Eleito]

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