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sexta-feira, outubro 28, 2005

Memória Sefardita, Cultura e Turismo*

A descoberta de um Ehal, uma espécie de nicho onde se resguarda a Torah, no n.º9 da Rua de S. Miguel, veio a comprovar a hipótese da existência de uma sinagoga naquela rua (uma outra hipótese seria a rua da Vitória). Este achado, apesar de raro (em Portugal só existem outros dois...), parece não ter despertado lá grande interesse por parte das diversas autoridades (com excepção do Governo Civil), o que me parece ser resultado de uma miopia cultural e falta de sentido de oportunidade. Continuamos a ver nestes achados arquelógicos um mal necessário de uma cidade velha, mais uma despesa para o investidor ou mais uma dor de cabeça para o proprietário, mais uma ficha para os serviços competentes arquivarem, mais um fait-divers para a secção local ou cultural dos jornais.
O Porto, cidade de comércio, atraiu desde cedo uma comunidade judaica de dimensão razoável, pelo menos com a dimensão suficiente para se chegar ao ponto de terem sido deslocados para a zona do Olival quando já não cabiam em Miragaia. Actualmente, o eixo desenhado pelas ruas de S. Miguel e da Vitória (e que compreende a Rua das Taipas e Belomonte e as Escadas da Esnoga) é um dos mais interessantes do Centro Histórico e, apesar de a história não ter parado e a cidade se ter apropriado daquele espaço, a verdade é que ainda hoje ali persiste uma certa memória do lugar, à qual ninguém ficará indiferente. Quem, informado da origem daquele bairro, por ali passeia não terá muita dificuldade em imaginar o que teria sido a antiga judiaria porque o essencial (desenho urbano e a escala de maior parte do edificado) continua intacto. O que é lamentável é que esta memória continue a ser tão pouco publicitada e que nem seja por aí além aproveitada para o bem de todos.
Já me referi a isto em outras ocasiões e hoje vou reincidir. Proponho uma abordagem em rede: 1º) O Porto precisa de desenhar pacotes turísticos alternativos, sob pena de ficar cada vez mais arredado do circuito mundial de turismo urbano e histórico; 2.º) O Porto precisa de proteger o Património da Humanidade que tem à sua guarda e tem de o rentabilizar; 3.º) A memória judaica do Porto tem algum relevo no contexto do território nacional; 4.º) Contudo, existem vários pólos de memória sefardita mais ou menos significativos espalhados pelo país, por exemplo: Belmonte, Castelo de Vide, Tomar, etc...; 5.º) Esta tipo de oferta turístico-cultural pode ser bastante apelativa para determinados mercados (norte-americano, europeu e até israelita, enfim o mercado da saudade sefardita e não só); 6.º) Ninguém vem ao Porto de propósito visitar os ténues vestígios da judiaria, mas se nessa oportunidade puder visitar um lote de vilas e cidades históricas ligadas à presença judaica...7.º) O que falta aqui? Uma rede de aldeias, vilas e cidades de memória sefardita que ofereçam um produto turístico-cultural em conjunto.
O que proponho não é nada de novo. Os nossos amigos espanhóis já experimentaram a receita (Red de Juderías de España), nomeadamente como iniciativa integrada na estratégia de reabilitação de centros históricos degradados, e o resultado tem sido muito positivo. Não há que ter vergonha em copiar boas ideias. É verdade que entre nós nem todo o património judaico será tão exuberante como o que podemos encontrar em Espanha, mas uma rede bem estruturada, que oferecesse um conjunto de produtos para além dos monumentos propriamente ditos, como gastronomia (Kosher ou não) e eventos académicos e culturais de qualidade só poderia ter bons resultados. A valorização do património, inclusive do património intangível, tem de passar pela sua valorização turística.
A partilha de recursos e de custos proporcionada pelo efeito de rede tornaria a Rede de Memória Marrana num produto bastante variado e apetecível para determinados segmentos da procura, sem que tal significasse um grande investimento. E, por tabela, acabaríamos todos nós por ficar a ganhar. A oportunidade está aí.

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