Contas em dia (3 de 5)*
Por falar em mudar de vida: às vezes dou por mim a pensar se a única maneira de reabilitar a baixa não será, afinal, de exigir àqueles que batem com orgulho e furor tripeiro no peito, ritmando a ladaínha das lamúrias e exigências gastas, que fossem consequentes com as suas palavras e tomassem a única atitude coerente: que viessem viver para a baixa! Que deixassem o conforto da periferia e que voltassem para cá. Este desafio é dirigido às gerações que a abandonaram, àqueles que, agora com 40, 50 e até 60 anos, ficam admirados por os filhos até preferirem viver no velho Porto (“O que prova como o Porto é atractivo para os jovens!” pois...), àqueles que visitam a Baixa quase como se de uma cidade estrangeira se tratasse, àqueles que só cá vêm no S. João e quando o FCP ganha algum título, apesar de cá terem nascido e de se dizerem tripeiros. Mas também é um desafio aos políticos que põem o Porto num pedestral, mas dele só conhecem o que vêm fugazmente nas arruadas de campanha eleitoral e também aos responsáveis e técnicos que orientam o processo de reabilitação urbana da cidade. Quantos deles cá viverão? Se a estes todos, juntássemos uma percentagem da população exilada nos bairros sociais (porque razão a rehabitação da cidade nobre não pode ser feita também com esta gente?!), então sim, tinhamos cidade! E o resto são cantigas! |
Comments on "Contas em dia (3 de 5)*"
Viva David,
Acho muito interessante uma expressão que utiliza neste post.
Eu conheço o Porto mas não o seu tecido social, quando sempre me desloquei ao Porto como turista, por isso compreenda a estranheza (para quem vive nos suburbios de Lisboa) que o David diga "Que deixassem o conforto da periferia e que voltassem para cá" existe mesmo conforto na periferia?
Depende da periferia. Fora do Porto, em Gaia, Maia e Matosinhos, a população não pára de crescer e parte dessa população é originária do Porto e é de classe média, média-alta, mas também existem os bairros sociais que cercam a cidade (basta consultar um mapa do Porto para constatar o facto). Para além disso, fora do centro histórico e nas raias do concelho tem-se investido muito em condomínios fechados. Quando comprei a casa onde agora vivo, tive muitas dificuldades em convencer as imobiliárias de que não queria viver em Matosinhos ou na Maia, mas no Porto e no centro. Foi uma luta, mas consegui.
Interessante... como se reparou na campanha autárquica, Lisboa neste momento é um misto de Bairros sociais e condominios de luxo, totalmente inacessivel à classe média como eu.
Não deve ser muito diferente do Porto-região: um donut!