A Morte Burocrática Do Jornalismo*
Ano de 2005. O Presidente da Câmara Municipal do Porto, Dr. RR, num ímpeto democrático-burocrático sem par na história, resolve sujeitar os jornalistas ao mesmo tratamento que qualquer cidadão tem quando cruza as majestosas portas dos Paços do Concelho. Acabaram-se os privilégios! Agora é preencher o requerimento em impresso adequado, s.f.f. «Ai é para entregar uma entrevistinha? É lá em baixo, vira a direita, vá sempre em frente e...» «Não é aqui, é na porta ao lado.» «Quem lhe disse isso? É lá em cima...» «Sim é cá em cima mas tem de comprar o impresso para o requerimento na Tesouraria...» «Oh... mas não entregou em duplicado! Ah! E não se esqueça de uma cópia em papel vegetal por causa da transparência jornalistica. Que quer? São ordens lá de cima...» 6 meses depois: «O seu processo? Tem aí o recibo? Não? Então volte amanhã...» 6 meses e 1 dia depois: «Deixe ver o recibo... Tá bem. Mas estes processos só são tratados às segundas, quartas e sextas...» 6 meses e 2 dias depois: «Bem, o seu processo está a andar. Já está no gabinete da doutora.» «Não se queixe há quem esteja bem pior. Olhe ontem veio um senhor, coitado, daquele jornal, o... JN, já vai para quase um ano e nada! Já não o posso ver mais por aí, até mete dó...» «Mas olhe passe por cá para a semana que eu vou dar uma palavrinha...» 6 meses e 1 semana depois: «Já está. Mas agora teve de ir lá acima, ao gabinete do presidente para ser rubricado e carimbado... De hoje a oito já está!» 6 meses e 2 semanas depois: «Desculpe mas vai ser preciso fazer um aditamento à entrevista. Há aqui uma coisinha... O chato é que vai ter de entregar o processo todo de novo lá em baixo e...» 10 meses depois: «Este processo... não, não estou a ver. Espere aí: Está? Manel? Sabes de alguma coisa do processo nºA43567? Quê! Outra vez? (...) Olhe, perderam o seu processo! Não terá lá por casa uma cópia?» «Quer falar com a doutora? Não está. Está em reunião. Volte amanhã» 10 meses e um dia depois: «Mas diga lá então: o que quer?» Triiimm «Desculpe, é só um momento» «Sim, tou? TVI? Mas quantas vezes é preciso dizer que o Dr. RR só dá entrevistas para as páginas de Teletexto da RTP?!» (...) «Desculpe-me, dizia?...» -------------------- Entretanto, a resistência socialista exilada em Bruxelas reclama a liderança da oposição. Mas os maquis comunistas não estão pelos ajustes, afinal eles é que dão o corpo ao manifesto no terreno. A rádio Invicta Livre vai debitando os discursos fantasmagóricos d'Assis sobre os telhados dos escombros da outrora chamada Baixa... |
Publicado por David Afonso às 00:23
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