Ainda Os Medos Dos Editores
Os editores de manuais escolares estão muito preocupados. Tão preocupados estão que acusam o governo de querer violar a liberdade edição só porque este propôs a criação de uma comissão de avaliação e certificação dos livros escolares. Este delírio dos editores seria equivalente à acusação de que a obrigatoriedade de certificar e homologar os veículos automóveis era uma violação à liberdade de circulação. É óbvio que os manuais precisam de ser homologados por uma comissão nomeada pelo ministério ou até mesmo por uma comissão totalmente independente, na qual os próprios editores poderiam estar representados. Não há aqui nenhum perigo de «livro único» como os editores, sem pudor, pretendem fazer crer, mas apenas a necessidade de regulamentar um mercado em estado selvagem que criou os seus próprios vícios. Será que as pessoas sabem como se seleccionam, hoje, os manuais escolares? Cada grupo disciplinar reune-se numa tarde à volta de 10, 15, 20 manuais entretanto recebidos e tenta «adivinhar» qual será o melhor. O mais grave é que este procedimento, para além de ser nada rigoroso, favorece sempre as editoras que: a) já têm o seu manual adoptado nos anos anteriores, dado que esse pelo menos os professores já conhecem (se isto não é livro único...); b) enviaram individualmente, a cada professor, um exemplar de cada manual proposto e como só as grandes editores podem fazer isso, perde-se a biodiversidade manualística necessária (se isto não é livro único...). Hoje pagamos muito caro por manuais de qualidade incerta. A comissão, se funcionar bem e não for tomada de assalto por interesses sectoriais, poderá pelo menos eliminar os maus manuais. E isto é uma grande ajuda, acreditem. Aqui, neste mercado da qualidade, já as pequenas editoras poderão bater o pé e todos ficaremos a ganhar com isso. Afinal, do que têm medo os gigantes da edição? |
Comments on "Ainda Os Medos Dos Editores"
Os editores e livreiros portugueses mereciam que os professores se rebelassem e, tornando-se muito menos passivos e preguiçosos, investissem no trabalho em grupo, escolhessem os seus próprios materiais de ensino, os editassem e criassem actividadres de sala de aula. Mas lamento dizer que não estou a ver, muito menos a imaginar, um cenário destes. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)
Mas esse cenário existe! A adopção de manuais não é obrigatória. Em algumas escolas são os próprios professores que recolhem o seu próprio material quer por opção quer por que a isso são obrigados (existem disciplinas que já estão no seu segundo ano de funcionamento, mas cujos programas ainda não foram homologados pelo Ministério (!), logo não podem ter manual). Se isto não acontece mais não é apenas por causa da preguiça dos professores (por aí não se vê onde estes serão diferentes dos outros portugueses...), mas porque todos os anos são obrigados a mudar de escola e não há coesão suficiente para levar para a frente uma tarefa tão complexa quanto essa.
É verdade, mas tem de dar um desconto ao Octávio que até nem á má pessoa. Apenas precisa de se informar melhor e é tudo. Já agora Graça: quando é que nos brindas de novo com um post teu? ;)