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quarta-feira, dezembro 14, 2005

O Público Esteve Mal

Comments on "O Público Esteve Mal"

 

Blogger ocontradito said ... (dezembro 14, 2005 7:07 da tarde) : 

Como é de esperar, os sindicatos vão exercendo a sua magistratura demagógica e vão contestando todas as medidas ministeriais, uma a uma.
Agora, o alvo da demagogia é a medida que, sem qualquer dúvida, trará muito mais estabilidade às escolas: a colocação plurianual dos professores: 3 ou 4 anos, passará a ser o período mínimo obrigatório de prestação de serviço para todos os que se candidatam a esses lugares.

Apesar de aceitarem esse facto (que será maior a estabilidade das escolas) dizem que a medida não é aceitável. Porque os docentes devem se poder candidatar todos os anos, porque senão perdem lugares em confronto com colegas pior classificados. E porque isso penalizará os professores deslocados…

Primeiro: a Escola é para os alunos. E está em causa uma situação bem concreta: a melhoria da Escola portuguesa que é má. E não é aceitável que, apesar de ouvidos, possam sequer (os sindicatos) por em causa a medida devido a interesses pontuais de alguns docentes. A Escola é demasiado importante para o País para ficar à mercê de interesses corporativos.

Segundo: professores deslocados? Afinal, concorreram a esses lugares. Afinal é um emprego. Bem pago (em Portugal dizem as estatísticas da EU) e desejado por muitas dezenas de colegas que não são, anualmente, colocados. Não têm de se queixar. É o incómodo de haver empregos numa zona e candidatos noutras… É o custo do emprego. Quem não quer, larga. Há muitos candidatos para a vaga.

Terceiro: até agora, todos os anos uma multidão de docentes evoluem de uma escola para outra, em direcção à escola mais apetecível. Onde chegam a meio da carreira… Agora, vão chegar exactamente no mesmo tempo a essa escola. Apenas darão “passos maiores” de 3 em 3 ou de 4 em 4 anos, ao invés de pequenos passos, todos os anos, deixando um “rasto” terrível de instabilidade em todas as escolas por onde vão passando, sem deixar lembrança, sem desenvolver projectos, sem estabelecer amizades, sem criar “raízes”. Ou seja, tudo aquilo que precisa uma Escola, um projecto educativo…
Tudo o que faz falta (hoje) aos alunos nas Escolas Portuguesas.

Isto para além do facto de, se num ano intermédio (do período contratual), um colega menos bem colocado, poder “passar à frente” devido à impossibilidade de ser candidato, a situação repõe-se no (seu) ano de candidatura, passando ele, à frente de outros. No final, um processo de “resto zero”, sem prejuízo da colocação final do professor, no mesmíssimo prazo em que ocorreria no processo anterior.

Mas, e isso é que interessa, com enormes benefícios para as Escolas, seus alunos e, quer queiram, que não queiram reconhecer, lá da altura da sua demagogia, os sindicatos, com benefício dos (bons) professores, que, durante o percurso podem, finalmente fazer tudo o que até agora é impossível. E, repetindo-me, poderão passar a deixar amizades, projectos, raízes e melhores alunos… que se lembrarão deles no futuro.

 

Blogger David Afonso said ... (dezembro 14, 2005 9:26 da tarde) : 

Estranhos tempos estes tempos. De repente os sindicatos passaram a ser uma tenebrosa máquina corporativa. Esta atitude é tão ingénua quanto perigosa. Não sou sindicalista, não sou sindicalizado e desconfio (também) de alguns sindicatos. Mas não alinho nesse tipo de discurso. Precisamos é de sindicalistas mais inteligentes, sem a língua de pau de costume.
Quanto à questão dos professores: a medida, à partida, é acertada, mas, aparentemente, é demasiada rígida. Não há nenhum professor que não queira se fixar de vez numa escola, ou julga que têm uma tendência inata para o nomadismo? Mas nem todos podem ou querem ficar a leccionar em Faro quando são de Braga ou em Lisboa quando são do Porto. Pegar ou largar? Não se admire se muitos começarem a largar, principalmente os melhores, ou pelo menos, os mais proactivos. Daqui a alguns (não muitos) anos vai ser muito difícil encontrar professores para algumas disciplinas. Veja o que está a acontecer no UK. A única coisa que os professores pedem é a oportunidade de desenvolverem a sua profissão junto dos seus e da sua comunidade. Ganham todos com isso, a começar pelos próprios alunos. Creio ser possível compatibilizar estes dois grandes interesses. Existem mecanismos elementares que devem ser utilizados, como, por exemplo: a permuta de professores colocados fora da sua área de residência. É fácil e eficaz.

 

Blogger ocontradito said ... (dezembro 15, 2005 8:50 da manhã) : 

Não me choca nada a permuta. Mas aí, poderemos ter um professor melhor classificado a ser preterido por outro, só porque este têm "moeda" (lugar) para troca...
Quanto ao desejo de trabalhar na sua comunidade, é lícito. Mas quando a comunidade já está servida de professores é preciso aguardar por vagas (reformas ou saídas de outro tipo). Entretanto, vão ocupando empregos onde eles existem.
O novo sistema, como escrevi, garante que todos chegam aonde querem no mesmo tempo. Só que o percuro é feito com menos (e mais longas) paragens. Nada de muito mais. Os sindicatos são importantes, mas desligaram-se das realidades do sistema educativo e entricheiraram-se na defesa corporativa dos seus associados. É exemplo esta questão. A medida do ME é boa para o sistema e não é má para os docentes. Mas o que deixa de ser ideal já é combatido...
Daí que seria bem vinda uma Ordem dos Professores. Poderia ter outra visão da realidade.

 

Blogger David Afonso said ... (dezembro 15, 2005 3:19 da tarde) : 

Concordo perfeitamente com a criação de uma Ordem dos Professores porque recuso-me a ver nos professores uma classe profissional reduzida ao mero funcionalismo público. Os professores são - e é bom não esquecer - uma elite profissional que deve exigir mais de si própria. A subalternização ao Ministério é perigosa até para a independência pedagógica, científica e cívica dos docentes. Por exemplo: a deontologia da profissão não pode estar entre ao poder político! As sanções disciplinares (fora do âmbito estritamente laboral) devem ser da responsabilidade dos pares e não do ministério ou conselhos executivos. As coisas deviam ser muito mais claras do que são hoje em dia.
Quanto ao concurso insisto: tal como se apresenta a actual proposta, ela poderá ter resultados contraproducentes. É necessário introduzir mecanismos correctores que permitam uma maior racionalização dos recursos (manter um professor afastado centenas de km e por quatro anos da família e da comunidade onde deveria exercer plenamente a sua cidadania, é prolongar esta irracionalidade) e o equilíbrio dos interesses legítimos de todos.

Com isto tudo esquecemos a questão do Público: não concorda que ali houve uma tentativa de manipular a informação?

 

Blogger ocontradito said ... (dezembro 15, 2005 6:14 da tarde) : 

Sem conhecer a fundo a notícia, julgo que o Público entende por mobilidade o facto de 30% dos professores mudarem de escola todos os anos...
Ou seja, conforme refere, uma notícia bem "encomendada" (mas não é sempre assim?) para suportar as medidas do Ministério (que, neste caso, sou defensor).
Julgo que a mobilidade aqui referida não é a estrita (destacamentos, por doença, conjugal, etc) mas a geral que eu registei no meu comentário, em cima.
E, terá de reconhecer que não é bom para nenhuma escola e nenhum aluno que todos os anos 30% dos docentes mudem...
Para mais, sabendo que isto é como o frango : se numas escolas (as apetecíveis) poucos mudam, em outras, todos os anos temos mais professores novos do que aqueles que se mantêm... E, os novos, a contarem os dias até ao final do ano, para de lá sairem...
Assim, não pode ser.
Daí que você possa ter razão (idealisticamente) que seria bom cada um trabalhar junto à sua comunidade, mas sabe bem que isso não é possível. O emprego não existe onde nós queremos, mas onde é necessário...

 

Blogger David Afonso said ... (dezembro 15, 2005 6:59 da tarde) : 

De acordo. Mas por acaso são os professores missionários? Se uma entidade patronal precisa de mão de obra especializada tem de saber competir por ela. Se um governante, magistrado ou até deputado tem direito a uma compensação em função da distância que tem de percorrer da sua área de residência para o local de trabalho, então porque motivo não podem as escolas (o ministério) aliciar os professores com uma medida do género? Um simples suplemento de deslocação e/ou residência faria toda a diferença e seria justo. Quem não estivesse para grandes deslocações ganharia menos.
É preciso ver que os professores deslocados sujeitam-se muitas das vezes a condições inaceitáveis, vivendo em quartos ou suportando arrendamentos elevados e outras despesas. Uma coisa é permanecer um ano nessas condições, outra coisa é sujeitar-se aisso durante 4 anos. Não se esqueça que, ao contrário do que se passa lá fora, não existe um verdadeiro mercado de arrendamento nacional, o que tem por consequência a resistência à mobilidade por dois motivos: 1) porque já se está a pagar a casa num ponto do país;2) porque noutro ponto do paísterá de arrendar uma casa por preços incomportáveis. Junte-se a tudo isto as despesas com transportes e o tempo perdido e verá como os salários dos professores não são assim tão altos (pelo menos os dos contratados). Querem professores por 4 anos? Muito bem! O que têm para oferecer? É que esse argumento de que há mais oferta de mão de obra do que procura não vai servir para sempre.

Folgo em saber que concorda comigo, no que diz respeito ao facto de a notícia ter sido «encomendada». Acha então que os fins (mesmo que discutíveis) justificam os meios?

 

Blogger ocontradito said ... (dezembro 16, 2005 8:42 da manhã) : 

Julgo que é incomparável o caso dos professores com, por exemplo os juizes. Esses são MESMO deslocados. São contratados para estarem em constante deslocação de comarca em comarca. Os professores não. São colocados a concurso lugares fixos (agora, por 3 ou 4 anos). Na realidade, não há professores deslocados. Há professores que se candidatam a lugares (os disponíveis) que são longe do seu local de morada inicial. Que até pode mudar...
Quanto à notícia encomendada, não gosto. Mas são tantas... Mas o relevante é se a encomenda contém informação verdadeira ou falsa.
Independentemente dos fins...

 

Blogger David Afonso said ... (dezembro 16, 2005 2:42 da tarde) : 

Os dois casos só não são comparáveis porque os magistrados são recompensados pela deslocação e os pofessores nâo. Os professores são deslocados porque têm de dar resposta às diferentes necessidades da rede do sistema de ensino e se concorrem para outra escola é porque não têm outro remédio, já que o nosso sistema sobrevive à custa dos contratados. Eu próprio sou contratado há 11 anos (!) e já trabalhei em escolas em que dois terços dos grupos disciplinares são constituidos por contratados. Repare bem: os juízes são deslocados de modo a preencherem as necessidades do sistema em todo o território e são, muito justamente, recompensados por isso; os professores também são deslocados e não são recompensados. Porquê? Ainda por cima a esmagadora maioria desses deslocados são contratados! Ora, a primeira medida do ministério seria fixar esta mão d'obra flutuante da qual se tem vindo a aproveitar. Depois sim, poderiamos falar da modalidade dos contratos.
Outro ponto interessante é o de o diploma "em discussão" prevê que no caso de a escola deixar de precisar do professor, esse deverá então ser deslocado para outra escola onde os seus serviços sejam necessários independentemente de ter cumprido ou não a totalidade do contrato de 4 anos. Ora, sendo assim, deverão ser recompensados ou não por esta deslocação? Onde está a diferença em relação aos juízes?

O facto de existirem muitas notícias encomendadas não iliba o Público.
A instrumentalização da informação é mesmo isso: a partir de informações verdadeiras transmitir uma mensagem falsa.

 

Anonymous Anónimo said ... (dezembro 16, 2005 6:49 da tarde) : 

A circulação dos Juizes não é efectuada por razões de necessidade mas porque não podem, pela natureza do cargo, ficar mais do que um certo tempo numa determinada posição. São obrigados a mudar... Daí, ser diferente.
O caso dos professores é igual a tantos e todos outros. Há vagas num determinado sítio que são disponibilizadas. Quem quer concorre. E assume o facto...
Não há concorrentes daqui ou dali. A origem do candidato é indistinta e irrelevante.
Repare que não quero dizer com isto que o sistema é bom e que não causa problemas. Mas são problemas pessoais que se aplicam a todas as profissões. Ter um emprego, nos dias de hoje, já é uma benesse.

 

Blogger David Afonso said ... (dezembro 17, 2005 12:48 da manhã) : 

Não, ter um emprego não é uma benesse. É por essas e por outras que vou mudar de vida.
Sabe, o problema é as necessidades existirem e as vagas não serem abertas. Isso cria essa falsa impressão de que um emprego é uma benesse. O meu emprego é uma necessidade social que eu satisfaço e pela qual sou insuficientemente remunerado. Seria uma benesse se se tratasse de um bónus incluido no meu cartão partidário.

 

Blogger ocontradito said ... (dezembro 17, 2005 10:54 da manhã) : 

Não é seu emprego que é uma necessidade social: é o seu trabalho.
E não havendo trabalho, não há (devia haver) emprego. Daí que o emprego não é um direito imediato. Será sim, se a ele estiver, realmente associado o trabalho (necessidade social) respectivo...
Diz você, e talvez com razão, que no seu caso e de outros seus colegas, haverá trabalho (e emprego) sem efectividade e segurança (contrato).
Sou de opinião que a possibilidade de aproximar mais os quadros às necessidades advirá, justamente, da implementação de medidas como esta, de fixar docentes...
E, aí, estou consigo: passagem aos quadros ao fim de x anos, com redução significativa dos contratados.

 

Blogger David Afonso said ... (dezembro 18, 2005 11:40 da tarde) : 

Bom! Acabou por vir ter onde eu queria: um dos efeitos perniciosos desta lei é justamente o de congelar o acesso aos quadros! Repare bem: se os contratos plurianuais forem estendidos aos contratados, estes não se poderão candidatar a qualquer escola para ocuparem as vagas de efectivação entretanto abertas! Docentos que têm vindo a desempenhas as suas funções em regime de contratados durante vários anos, verão negada a possibilidade de mudarem de estatuto contratual! Na pratica, o ministério vai poupar aqui muito dinheiro e tenho quase a certeza de que o propósito do ministério com esta medida é de índole financeira e não pedagógica como quer fazer crer.

 

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