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segunda-feira, dezembro 26, 2005

Os Pontos Dos «iis»*

«O God, I could be bounded in a nutshell and count myself a King of infinite space»
Hamlet, II, 2 [cit. por J.L.Borges n'O Aleph]

1. O debate é um incómodo, eu sei. Coisas há que gostariamos de não ter de ouvir, eu sei. Outras gostariamos de ter não dito, eu sei. Podemos evitar isto de uma forma muito simples: bastava falarmos apenas para a nossa própria tribo. Aí não teriamos destas dores de cabeça.

2. A propósito de tribo: nunca assumi que o Salvador fosse um representante da direita, embora o título de um post seu e as dores que assumiu assim o possa sugerir. Continuando no item tribo: Ribeiro e Castro disse (e passo a citar): «a origem do terrorismo está na esquerda». Esta proposição por si só quer dizer o seguinte: todo o «terrorismo» se encontra incluído na categoria «esquerda», ou seja, formalmente apenas se poderia referir a parte da esquerda. Contudo, temos aqui dois grandes problemas: o primeiro tem a ver com a premissa de que «todo o terrorismo é de esquerda», sobre a qual o meu amigo teve a honestidade de reconhecer que não é materialmente válida, dado que concordou comigo sobre a existência do terrorismo de direita (embora tenha, inexplicavelmente, tentado desvalorizar o facto, de onde posso, com toda a legitimidade, questionar os pesos e as medidas por si usadas). Logo, Ribeiro e Castro estava errado; o segundo problema já é de natureza diversa: estas declarações foram feitas num determinado contexto e para um determinado auditório e, como é natural, Ribeiro e Castro não procurava em tal ocasião reflectir sobre a natureza do terrorismo, mas tão somente seduzir o auditório, conduzindo-o a uma identificação entre as categorias «esquerda» e «terrorismo». Infelizmente este é um procedimento muito comum no discurso político, que é a de usar fórmulas potencialmente equívocas que permitam contrabandear a mensagem renegando-lhe depois a paternidade. Se Ribeiro e Castro foi mal interpretado, então que venha a público explicar-se e esclarecer que apenas pretendia dizer que «algum terrorismo teve origem em alguma esquerda». É claro que só não o faz porque este discurso já não é tão eficaz para os fins que almeja. Seria muito positivo que o líder partidário esclarecesse melhor o que pretendia dizer, se é que pretendia dizer algo diferente daquilo que foi genericamente interpretado. Já não é uma questão de mera clarificação argumentativa, mas uma questão de moralidade, dado que neste momento parece que tentou rentabilizar demagogicamente o sofrimento e o terror a favor da sua conveniência política.

3. E já que estamos em matéria de esclarecimentos gostaria de saber se Cavaco Silva se revê nestas polémicas afirmações de tão destacado apoiante. Atrevo-me a antecipar a resposta do candidato: «Não comento declarações de líderes partidários.»

4. Lamento muito que não ache útil continuar o debate neste fórum. Aquilo que agora o afasta de nós, foi precisamente o mesmo que o aproximou de nós: o desacordo. Se foi convidado para se juntar à trupe foi precisamente porque defendia pontos de vista próprios e bem diversos dos meus ou do Pedro. Repare bem: só se pode dialogar com quem é diferente de nós e é por isso que cá está, tal como o Biranta, como o João ou o Tiago. Espero que reconsidere a sua posição (isto também é válido para o Karloos) até porque parece haver muito para debater. A única coisa que posso prometer é que serei sempre um moderador imparcial (creio que isso nunca esteve em causa) e um adversário franco e leal. Mas nada dócil.
[*publicado n'O Eleito]

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