Apontamentos da Baixa*
![]() 1º) A propósito do quimérico inquérito diz: «Escolhíamos como público alvo jovens da mesma faixa etária dos inquiridos. Dávamos uma ideia maravilhosa da cidade e até os mais maduros acreditavam em nós.» Mas não! Longe de mim propor uma manobra de propaganda deste calibre! Tomo a liberdade de recorrer a uma imagem da Medicina: A cidade do Porto é um organismo urbano doente (em estado de coma dizem os péssimistas e fadistas do costume). Os sintomas são claros: tecido urbano morto, circulação vascular rodoviária entupida, incapacidade de reagir aos estímulos externos e internos, focos de infecção social (por todo o lado, minha senhora, por todo o lado) e, para piorar as coisas, viciada no novo ópio do povo, o futebol. A coisa está tão má que o electroencefalourbanograma já só regista actividade residual (um brilhozinho no fundo do túnel de Ceuta, dizem uns) e que os espasmos populistas não são afinal, como de resto seria de esperar, resultado de actividade consciente do Sistema Nervosinho Central (leia-se CMP). No entanto, descobriu-se a existência de micro-organismos multi-resistentes que têm a inesperada capacidade de regenerar o tecido urbano moribundo. Jovens e quase jovens (como sabe, o conceito de jovem foi pulverizado, de modo a que um quarentão pode hoje em dia afirmar-se com toda a impunidade jovem :) têm estado bastante activos pela Baixa. Uns residem, outros têm gabinetes (existem centenas, senão milhares, de escritórios à espera de quem os ocupe), outros exploram pequenos/grandes negócios. Exemplos? Maus Hábitos, Artes em Partes, Contagiarte, 100+, Gira-Pratos e muitos outros (um dia destes ainda prometo um roteiro da Baixa com futuro). Há que estudar o fenómeno a ver se aí se encontra um antídoto para esta morte anunciada ou não. Era mais ou menos isto que queria dizer a propósito do inquérito à nova fauna urbana. 2.º) Concordo, sem qualquer tipo de reserva, com a necessidade de melhorar a iluminação pública, de renovar as condutas e esgotos, de aperfeiçoar a limpeza urbana (de lixos, entenda-se) e com tudo o resto (com excepção do licenciamento de mais garagens, mas isso é outra questão). E como poderia eu não concordar? Não devem ser essas as preocupações de gestão corrente de qualquer município? Mas para além disto, é urgente pensar estrategicamente a cidade no contexto nacional/ibérico e europeu. É necessário estabelecer objectivos e agir de acordo com os mesmos. Acontece que já investimos muito num determinado trajecto com a Porto2001, Serralves e a Casa da Música. A cultura foi até ao advento de Rui Rio, considerado um sector estratégico. Na minha opinião, este era um bom caminho. Barcelona, Londres, Berlim, Bilbau e outras cidades europeias, demonstraram o poder regenerador que a cultura pode ter sobre os centros urbanos decadentes. Devemos quanto antes retomar este caminho que deixámos a meio, até porque o mais difícil já está feito. Aliás, corrijo: o mais dispendioso já está feito. Agora é só unir as pontas. [mais uma foto gentilmente roubada ao Carlos Romão do Cidade Surpreendente] |
Comments on "Apontamentos da Baixa*"
Esta muito boa essa da medicina urbana , ainda não tinha visto na Baixa , está excelente
Entendo perfeitamente o que o David quer dizer, as razões dos seus argumentos , e claro que tem razão , eu devia contribuir para credibilizar a renovação e não insistir neste fadismo , compreendo tudo isso e as vantagens que daí advem
a europa tudo, entendo bem e é optimo que continue com esse entusiasmo e o transmita a quantos mais melhor
mas a minha função agora passa por alertar sem dó nem piedade, para o que se esta a passar, passa por esta politica domestica de serviço minimos obrigatorios
compreenda que não quero ter razão nem me tarevia a destronar argumentos que para mim tambem são essenciais, quero que vozes como a sua se levantem, mas que ao levantar-se não façam cair as exigencias dos tais serviços minimos
é parece que uma coisa não pode funcionar a par da outra , e se tal não acontece por falta de verba , então que se arranje primeiro a casa e depois se tragam as visitas
ate sempre David e embora pareça uma cafona fadista tbm me incluo nesse perimetro da juventude
oh desculpe , que raio tinha este nome no usuario, como de certo comprendeu - embora incoerente - o meu nome é Cristina Santos
Viva Cristina,
É um prazer a ter por cá. Não lhe ocorreu que as «visitas» é que poderão ajudar a financiar o arranjo da casa? Quando Rui Rio ouve falar em cultura puxa, diz ele, do livro de cheques. Com mais inteligência poderia começar a puxar também pelo livro de recibos...
Já pensei nisso vezes sem conta, e não discordo da essencia da ideia
por estranho que pareça sempre que se discutiu a recuperação da Baixa , discutiu-se isso - torna-la um espaço estratégico de oferta cultural e requinte – uma espécie de Milão, mas a recuperação era o primeiro passo e na altura esse era um plano do «actual» executivo (actual não, que a equipa ´não é a mesma) , mas era um plano tbm de Rui Rio
amanha vou tentar explicar o que era esse plano, mas o objectivo final era uma dinamização atravez da cultura, do comercio e dos serviços - envolvia formação para o comercio , atendimento, linguas, parcerias culturais com diversos paises- só que o primeiro passo era recuperar, socorrermo-nos da nova lei das rendas e das SRU , reabilitar ...
Um abraço
Cristina Santos
Não me parece que haja aqui um 1º ou 2º passo: o passo é mais um salto de pés juntos. O Masterplan é claro: reabilitação e reanimação, edificado e cultura. Assim mesmo: uma co-dependência.
abraço
exacto, era isso mesmo, com o turbilhão de acontecimentos , já ninguem fala do masterplan...
isso mesmo , vale pena relançar o assunto, tá visto já esta esquecido.
Ate amanha
Ó David Afonso, roube-me gentilmente as fotos que quiser mas, por favor, não as atarraque :))