Colecção Berardo No Porto?*
![]() Ora, parece-me que Área Metropolitana do Porto está a deixar escapar uma grande oportunidade. Já imaginaram o que seria ter cá essa colecção? O peso que o Porto ganharia a nível mundial no panorama da arte contemporânea? Se juntássemos a Serralves, uma das já mais prestigiadas instituições museológicas da especialidade, esta magnifíca colecção, nenhum amante de arte poderia prescindir de nos visitar. Creio que na Península, nenhuma outra cidade nos poderia fazer sombra. Falei em área metropolitana porque um projecto desta dimensão parece-me ambicioso demais para ser levado a cabo apenas pelo Porto, por um lado, e, por outro, todos os municípios agregados beneficiariam com a dinâmica entretanto gerada. Poderiamos ter então um Museu Metropolitano de Arte Contemporânea, o qual poderia até ficar localizado em qualquer outro concelho que não o próprio Porto, como por exemplo em Gaia ou Matosinhos. No entanto, a localização excelente seria na Alfândega: em primeiro lugar, porque poderiamos dar um destino digno a um edifício que tem sido subaproveitado; em segundo lugar, a Alfândega tem área mais do que suficiente para receber toda a colecção; em terceiro lugar, porque a sua reconversão não seria muito honorosa; em quarto lugar, porque relançaríamos, em definitivo, a reabilitação da Baixa e do Centro Histórico; em quinto lugar, porque o Museu Metropolitano poderia estabelecer uma simbiose muito interessante com outro projecto pendente para aquela zona, a Marina da Alfândega. Haja vontade e visão por parte dos nossos autarcas e dos nossos empresários e podemos resolver já o problema do Comendador Joe Berardo. PS: Também seria uma boa ocasião para Rui Rio embaraçar mortalmente a ministra da cultura. Para o fim que proponho, captar a Colecção Berardo, até as más motivações podem ser boas motivações. |
Comments on "Colecção Berardo No Porto?*"
Deixei uma nota minha sobre este assunto na cópia deste post publicada n'A Baixa do Porto.
Saudações!
"Na Península, nenhuma outra cidade nos poderia fazer sombra"... um pequeno delírio em que a mitomania se confunde com a mania das grandezas.
A coleção Berardo integra obras de muitos nomes-chave da arte moderna, mas sempre com obras de segunda ou terceira linha. Colecção estimável e exclente para se comunicar um panorama global deste período; mas de modo algum um acervo impressionante de obras-primas.
Como é que poderia fazer frente, mesmo juntando-se a meia dúzia de Serralves, ao Thyssen ou ao Guggenheim de Bilbo? Isto para já nem mencionar, claro está, o Prado...
Viva Tiago,
De facto, estamos a falar de uma hipótese remota. Quanto ao post no blasfémias sobre este assunto, a argumentação aí aduzida é irrelevante.
Caro José,
A "mitomania" estará do lado de quem toma o Thyssen e o Prado como museus de arte contemporânea. Resta-nos Bilbao. Sabia que, para além do aparato cénico, Serralves não fica a dever a nada ao Guggenheim espanhol?
Quanto à Colecção Berardo: é verdade que é desiquilibrada, coexistindo obras de valor desigual. Sendo assim, não nos interessa. E se Berardo fizesse a mesma proposta a qualquer cidade espanhola? Aposto que nenhuma diria que não. Mas afinal que sabem eles disto?
Caro David, o post do Blasfémias explicita algumas das razões pelas quais será muito difícil alcançar um acordo com Joe Berardo. Tanto me faz que ele saia ou não beneficiado, o que me interessa é que o Estado (Central ou Local) não saia prejudicado.
Tiago,
Reproduzo aqui o meu comentário ao post do blasfémias:
«Meu caro,
Ninguém no seu perfeito juízo tomará alguma vez o Comendador Berardo por "homem da cultura". É, como se sabe, um homem de negócios. O que ele faz está previsto na legislação que regulamenta o Mecenato Cultural (ao contrário do que se pensa, ser mecenas implica contrapartidas): Dec. Lei nº74/99 de 16 de Março e Lei nº 160/99 de 14 de Setembro. Se não gosta do que vê, não ataque o homem, mas a lei.
Quanto às negociações em si, é natural que sejam complexas. O estado deverá pesar os prós e os contras. As despesas de manutenção e segurança são cobertas pela mais valia que é ter aberta ao público esta colecção? Se sim, que não se hesite.
Berardo deve estar à procura da melhor solução para si mesmo, a qual dependerá muito do estatuto final da colecção. É natural que os estado exija mais garantias e até possíveis contrapartidas. Sugiro uma: que as contrapartidas fiscais obtidas pelo comendador sejam reinvestidas na colecção de modo a mantê-la activa e renovada. Era bom para todos.
Para finalizar, sabe que isto de mercado da arte é muito caprichoso. Não é uma fatalidade que uma colecção se valorize. É um negócio, que apesar de tudo, também implica riscos.
PS: E na minha opinião a Colecção Berardo ficava melhor no Porto»
E o "Reina Sofia", será museu de arte paleolítica, porventura?
Mas o que estava em causa não era, como agora diz, saber se a colecção interessa ao Porto ou não; era apenas saber se constituiria oferta insuperável na Península. E claro que não.
José,
Agora sim, fez o trabalho de casa. O Reina Sofia não é um museu de arte paleolítica. Contudo, tem objectivos diferentes de Serralves.
Talvez a oferta não fosse insuperável, mas a verdade é que quando começamos a falar em Madrid e Bilbao, isso só quer dizer que o Porto ficaria insrtalado no circuíto da arte contemporãnea ombreando com outras cidades ibéricas. Nada mau.
E que "circuito" é esse?? Há uma série de outras localidades em Espanha que também se poderiam lá colocar; e mesmo o ICAM não anda longe de tal, com um excelente núceo Pop, por exemplo...
Os espanhois já perceberam a importância da oferta museológica para fins turisticos e culturais. Por esse motivo, enquanto ainda discutimos se Lisboa (ou Porto) devem ou não albergar mais uma colecção, os espanhois já têm uma rede de pequenos museus dedicados à arte contemporânea, rede essa que se pretende presente em todas as cidades de mádia dimensão (ex: Vigo e Santiago de Compostela). Essa rede é complementar aos grandes pólos. Uma descentralização inteligente.
A colecção fica bem em todo o lado excepto nas mãos do próprio Joe Berardo. A mesma pessoa que detém uma colecção deste género, disse numa entrevista que um dia tinha visto uma cópia da gioconda e perguntou se podia comprar o original... Lisboa, Porto ou Madrid, pouco importa, tirem-no é das mãos dquele senhor antes que ele a use como base para copos.