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quinta-feira, março 23, 2006

Gengivas Sangrentas


João era um escritor e na sua busca de novos escritos tornou-se um homem demasiado fechado, o que acontecia à sua volta era sempre analisado segundo múltiplas perspectivas com o intuito de assim chegar a uma verdade maior, João gradualmente abandonou o olhar e o reagir e passou a observar e a reflectir.
Com o tempo João tornou-se cada vez menos conversador, no Café sentava-se na mesma mesa com as mesmas pessoas de sempre, no entanto bebia as suas bebidas e fumava os seus cigarros de forma silenciosa.
Fumava cada vez mais cigarros enquanto os seus pensamentos viajavam nas questões sobre as quais escrevia, interessava-lhe escrever sobre como o Mundo forçava tantas gentes à loucura e a actos estranhos, interessava-lhe a Sociedade da Informação, a Mecanização do Homem, As Depressões, As Relações Humanas e todos os Comportamentos Humanos de Auto-destruição, Comiseração e Violência Gratuita.
Uma noite ao chegar à sua casa vazia reparou que os cigarros lhe estavam a tingir os dentes de amarelo, pegou na sua escova e dentífrico e enquanto os escovava pensava os pensamentos do costume em silêncio tendo apenas como barulho de fundo o som da escova a roçar os dentes.
Sem disso fazer ideia João esfregava os dentes de forma compulsiva há já 37 minutos, gotas de sangue escorriam-lhe pela boca e misturavam-se com a espuma da pasta, alheio a tudo João continuava a escovar os dentes enquanto focava um ponto invisível no azulejo, no canto da sua casa de banho junto ao bidé jazia o espelho que partira na noite anterior.

Comments on "Gengivas Sangrentas"

 

Blogger Pedro Santos Cardoso said ... (março 23, 2006 12:48 da tarde) : 

O sr. Adriano no seu melhor!

 

Blogger Wakewinha said ... (março 27, 2006 2:53 da tarde) : 

Tendem os escritores a ser tipos fechados. Tendem os mesmo a ser individualistas. São eles que povoam as tardes dos cafés mais tradicionais, e presenteiam as mesas com rabiscos antes de escrevinhar o papel. Tendem os solitários a ser escritores. Felizmente nem todos tendem aos vícios do tabaco, aqui como o "velho amigo" João a quem doem as gengivas. Concentrada ou inspirado? Deixa-me algo com que me entreter a pensar nos meus deambulismos antes da escrita.
Gostei mesmo muito de conhecer esta faceta do simpático e carnívoro (nunca esquecido) Adriano! =)

 

Anonymous Anónimo said ... (março 28, 2006 5:37 da tarde) : 

Muito bem escrito, isto é dominar a língua de Camões... simples, directo e inspirado...

 

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