Higiene E Turismo*
Rui Moreira num artigo no jornal Público (no fim-de-semana passado, creio) colocou a questão nos seus devidos termos: nada nos falta, a não ser estratégia. Isto foi dito a propósito do potencial turístico da cidade do Porto, mas também o podia ser a propósito de tudo o resto. Na minha opinião, é nisto que nos devemos concentrar, pensar na cidade numa perspectiva geral ao mesmo tempo que damos atenção aos pequenos grandes pormenores. São necessárias estratégias globais, tal como é necessário conhecer o terreno, é que tanto deus como o diabo, têm a tendência para se esconderem nos detalhes. A que propósito vem isto? Não há estratégia para o turismo que resista à imundice que ameça afogar o centro histórico. Durante a semana, a coisa ainda se vai compondo pela acção das equipas de limpeza (uma tarefa sisífica essa, a de dar uma vassoura para as mãos de um homem, apontar-lhe o Porto e lhe ordenar: Agora limpa!). O pior é durante o fim-de-semana quando o Património da Humanidade fica abandonado a si próprio. A chatice é o estranho hábito que os turistas têm (principalmente os irrequietos dos espanhóis) de nos visitarem durante os Sábados e os Domingos, enquanto estamos de chinelas a ver o FCP na TV. As más impressões não acontecem por acaso. Se não estão a ver lá muito bem do que estou a falar para aqui, no próximo fim-de-semana vão visitar o vosso centro histórico e vão ver o que tem afastado os infelizes dos turistas. Não é preciso ir muito longe, fiquem pelo Largo Duque da Ribeira, aquilo é qualquer coisa de dantesco: dejectos e urina de animais e de homens, sacas de lixo doméstico atiradas pelos cantos, lixo espalhado por tudo quanto é lado. Em bom português do norte: é uma badalhoquice! É urgente criar brigadas de limpeza que zelem pelo centro histórico durante fins-de-semana e feriados. Aliás, na situação actual, não basta recolher o lixo e lavar tudo pela manhã, já que ao meio da tarde volta tudo ao estado inicial. Não é apenas uma questão de higiene, mas também uma questão de apresentação do produto turístico. Não vale a pena culparmos apenas os residentes porque estes, na verdade, não têm muitas alternativas. O projecto da autoria de Barbosa e Guimarães, Lda, promovido pelo CRUARB em 1996, foi idealizado como um cenário turístico (granítico, claro) e não como uma área residencial. Não vale a pena procurarem por pontos de recepção de lixos domésticos. O máximo que encontrarão é uma solitária papeleira que esforçadamente desempenha um papel muito mais ambicioso do que aquele para o qual foi pensada. Devia até ser condecorada... [**foto gentilmente roubada aqui] |
Publicado por David Afonso às 15:49
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