O Buraco (Revisitado)
O buraco abria um espaço, não estava cheio nem vazio, ele constituia as paredes de uma viscosidade muito porosa (aliás a própria viscosidade abria e dava lugar aos transeuntes. Sem aparentar era um buraco, só que não se conseguia ver), enchia ou deixava passar consoante tivesse ou não tivesse fundo. O buraco contentor, com fundo, Anfitrião, o poço era um museu para a memória. Sem fundo o buraco 'mesmo buraco' era difícil de apreender nas suas relações com o tempo, parecia fugir, não tinha atrito, teríamo-lo tomado como algo intemporal. O buraco mesmo buraco fugia ao tempo, viajava nele. O buraco sem atrito, viajante no tempo, tornava as coisas (a viscosidade) que por ele passavam num buraco. Teria sido algo semelhante que criou a casca do caracol ou a 'semente'. O espaço é uma viscosidade porosa contendo em seus poros outras viscosidade, do subtil a matéria grossa, é a pasta do universo, é a pasta universo. O movimento de súbito já fazia sentido, o mar não podia estar parado, senão eram os peixes que se tornariam mar. O buraco aparecia à superfície, na superfície, viu-se até que nunca tinha deixado de ser superfície, e por aí chegou-se à conclusão que toda a superfície era essencialmente um buraco, e que nem sempre estava virado para dentro mas também para fora. O quê? A esfera também era buraco? E o mundo estava repleto de pérolas... estavam metidas em buracos, as vezes como a água no poço, vinho no barril ou como pessoas perdidas, rolando de um buraco para outro... O buraco com entrada e saída nele próprio tornou-se então a questão temporal por excelência ('Eu' próprio buraco, perguntava-me como sair 'daí', daqui). Punha-se a questão de não estar em nenhum buraco (parar o tempo) ou, por outro lado, de estar metido em todos os buracos ao mesmo tempo. Surgiu então o elemento essencial das ciências da exploração topológica, o nervo e seus respetivos mapas. As forças electromagnéticas estavam em jogo, convinha saber o que havia entre duas superfícies, o tacto aparecendo como a ciência que estuda as propriedades da superfície (assim indo em direcção ao 'outro') deu origem ao olho, ao pincel, ao cinzel. Isso deixa vislumbrar porque é que hoje em dia os verdadeiros geógrafos e amantes estejam metidos num buraco. |
Publicado por Anónimo às 14:28
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