O Fenómeno Da Rua Do Almada*
No seguimento do meu post «A Baixa Morreu. Viva a Baixa!», pretendia agora chamar a atenção para o renascimento da Rua do Almada. No entanto, o Público de Segunda-feira passada, 27 de Fevereiro, antecipou-se. O que temos por lá de tão especial? Pedras e Pêssegos (mobiliário nórdico), Retroparadise (artigos usados), Louie Louie (loja de discos), Espaço 555 (mais um multifunções), Troika (supermercado russo), Roupagem (marroquinaria), Café Pontual (um dos herdeiros das míticas francesinhas do ex-Café Luso), Restaurante Cão Que Fuma. A estes e às tradicionais lojas de ferragens e afins, é de acrescentar dois outros projectos em fase de eclosão: Zona 6 (loja especializada em gravação de discos de vinil personalizada) e Maria Vai com as Outras (livraria e afins). Sobre este fenómeno, que contraria o discurso apocalíptico sobre a Baixa do Porto gostaria de deixar algumas notas: 1.A média de idade dos novos colonizadores da Baixa é mesmo baixa. Trata-se, de resto, de uma tendência que a Europa foi presencianda nos seus centros históricos renascidos; 2. O nível de formação é bastante elevado, sendo frequente a licenciatura, o que é sempre bom sinal; 3. A oferta é diferente da proposta tradicional, especializando-se em nichos muito especifícos mas promissores, incorporando ainda muita criatividade e conhecimento de causa; 4. Naquela área podemos encontrar para além da Troika, um outro estabelecimento Russo na Dr. Ricardo Jorge, uma loja de artesanato africano ao topo da Almada e ainda um supermercado de produtos alimentares chineses na Praça da República (que recomendo vivamente). Esta presença, apesar de incipiente, representa uma das outras portas de saída para a estagnação da Baixa. Também se trata de uma tendência registada em outras cidades europeias.; 5. A filosofia que sustenta esta reocupação da Baixa é bastante interessante. É como se estivessemos perante uma operação espontânea de reutilização e de reciclagem da Cidade através da invenção de novos usos e de formas de viver. Ora, neste aspecto parece-me que divergem da filosofia definida pela SRU que, no fundo, é uma tentativa de importar para o centro da cidade os estilos de vida da classe média/alta tradicional que habita na cintura gorda da cidade. Ao contrário do exemplo da Rua de Almada (e Miguel Bombarda, já agora), esta opção exige uma intervenção muito mais profunda sobre o centro histórico e Baixa, dado que, para satisfazer as necessidades desse target, é necessário levar a cabo uma operação urbanística radical, suportada em grandes investidores, que implica, por exemplo, a reformulação das tipologias e esquartejamento dos quarteirões para criar lugares de estacionamento. Em última instância, não se propõem tanto a reabilitar, mas construir um cidade nova por debaixo da pele de outra cidade. No futuro, será interessante acompanhar com atenção tudo isto e observar como vão coexistir estas duas formas de reocupação da cidade. |
Publicado por David Afonso às 04:34
Comments on "O Fenómeno Da Rua Do Almada*"
É mesmo isso.