Grandes Dramas Judiciários: URBINO DE FREITAS (1)
Grandes Dramas Judiciários trata-se de uma publicação editada pelo O Primeiro de Janeiro entre 1944 e 1945. Todos os textos são da autoria do profícuo Sousa Costa. Esta é também uma forma de homenagem a este -agora- desconhecido homem das letras impressas. Vamos começar por um caso que fez escândalo no Porto: o caso URBINO DE FREITAS. ![]() [A casa, na Rua das Flores, onde ocorreu o crime - ilust. original] 1. A rua das Flores e a casa do negociante Sampaio. Os netos de Sampaio. A rua das Flores, assim baptizada, não se adrega por que e por quem, é uma das ruas mais típicas do velho burgo portuense. Tudo pode sugerir, em nomenclatura e atributos, a sua traça e o seo odor, pelo menos em nossos dias, excepto álea de vergel ou incenso de rosas. No entanto, é esta a sua graça na toponímia citadina. E é nesta rua das Flores que tem o seu estabelecimento, a sua vivenda e a sua família, em mais de meio o século de oitocentos, o abastado mercador de linhos José António Sampaio. Mercador opulento, dos que ostentam no nobiliário da Bolsa brasão de «grande negociante», brasão em que se esquartelam os metais e os papéis correspondentes a oitocentos contos de réis, dinheiro de contado, êle, mulher e descendência usufruem na cidade os privilégios inerentes à sua alta jerarquia – a mulher, Dona Maria Carolina Bastos Sampaio, os filhos, Guilherme, José e Maria das Dores, no usufruto legítimo de benfeitorias outrora exclusivas de família de rico-homem de pendão e caldeira. Na altura própria, filhos e filha constituíram seus lares. A filha, Dona Maria das Dores, em Outubro de 1877, casou com Vicente Urbino de Freitas, Médico formado pela Universidade de Coimbra, nado no Pôrto, também na rua das Flores, filho também de mercador que nesta rua goberna o seu mercado de papeleiro, João António de Freitas Júnior. E o marido, que notabilizara o seu nome por méritos de clínico insigne, por famosos artigos, àcêrca do tratamento da lepra, publicados na Coimbra Médica, revista dirigida pelo seu condiscípulo Augusto Rocha, Lente de Medicina na Universidade coimbrã, conquista, no campo da luta científica, batendo-se contra a Rotina e a Tradição, o alto pôsto de Professor da Escola Médico-Cirúrgica da terra natal. O Guilherme Sampaio morrera pouco depois de casado – deixando dois filhos,Mário Guilherme e Maria Augusta, que os avós paternos chamaram ao seu ninho acolchoado de afectos e mimos. A mulher de José Sampaio morrera, igualmente, a curtos passos das bodas esponsalícias – a sua filhinha, Berta Fernanda, por morte da mãe, recolhida, como os primos, ao ninho avoengo. E mais, o José Sampaio, José António Sampaio Júnior, boémio endinheirado cujo nome ecoara por todos os morgadios do Prazer, quer do Pôrto, quer de Lisboa, morrera no Pôrto, no Hotel de Paris, assistido pela mãe, Dona Maria Carolina, tratado por Miss Karter Lothie, inglesa que desviara dum estabelecimento comercial do Chiado alfacinha. Morrera, há meses, relativamente à data em que se inicia o drama que vamos projectar no «écran» - procurando o fiel equilíbrio na projecção das suas cenas mestras, alheios ao maior ou menor grau de simpatia ou antipatia consignados a cada uma das personagens centrais, ouvidos surdos ao marulho da tempestade de paixões desencadeada em tôrno do drama pungente, paixões ainda hoje em vaga grossa. [PS: A actual divisão dos capítulos é da responsabilidade do Dolo Eventual] |
Comments on "Grandes Dramas Judiciários: URBINO DE FREITAS (1)"
David
Uma boa ideia era ter fotos actuais dos locais.
Sei que o Hotel Paris ainda existe!
Já tinha pensado nisso. Mais: já iniciei a recolha. Mas vamos publicar também as ilustrações originais, algumas delas são gravuras de grande qualidade.