Marina da Barra: entrevista de Ribau Esteves
Jardim Oudinot [Foto retirada do blogue da Paula Varela] No Diário de Aveiro de hoje, uma entrevista a Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo: «Em que fase se encontra o projecto da Marina da Barra? Estamos a trabalhar com o Governo e com entidades da mesma esfera para resolver as questões pendentes, no âmbito do ambiente e na área da defesa nacional. Estamos também a trabalhar com o senhor primeiro-ministro ao mais alto nível para a definição da vontade do Governo sobre este importantíssimo projecto, que esperamos que se feche com uma decisão breve e positiva ainda este ano. Creio que 2006 é o ano capital para essa decisão em definitivo. Qual é a importância do projecto? Creio que o Governo tem a noção de que estes projectos têm de andar para a frente. Uma zona como a nossa, em termos de desenvolvimento turístico, ou tem projectos âncoras como a Marina da Barra ou não tem volta a dar. Seremos sempre uma zona interessante, mas que nunca fica no mapa dos roteiros turísticos, como o Rio Douro, Coimbra, Fátima, Lisboa, Algarve, Madeira ou Açores. Espero que o Governo tome boas decisões nesta matéria, deixando-se de preconceitos, sem pés nem cabeça, e se deixe do cultivo de uma ideia errada de que a natureza se conserva não fazendo nada.» 1. Sobre este projecto da Marina da Barra já muito foi dito e parece estar demonstrado que apenas o presidente da edilidade e alguns interesses económicos é que continuam a demonstrar uma teimosia (embaraçosa no caso do autarca) em levar esta ideia para a frente. A tutela do ambiente já disse que não por duas vezes, tendo recomendado a sua reformulação para uma escala mais apropriada. A própria APA (Administração do Porto de Aveiro), que seria um parceiro incontronável, já deu sinais de ter deixado cair este projecto. Apenas Ribau Esteves continua agarrado ao estandarte. 2. Já não é a primeira vez que o nosso campeão da Marina da Barra faz alusão a negociações com o Primeiro-Ministro. A ser verdade, tal procedimento não ficaria nada bem a nenhuma das partes, revelando alguma excentricidade na compreensão da orgânica institucional que regula este tipo de projectos. Não é da competência de um chefe de governo apreciar projectos imobiliários, ainda mais quando este projecto em particular já foi avaliado e chumbado pelas instâncias apropriadas. Se Sócrates cai na asneira de fazer o jogo do autarca, não só estará a desautorizar os técnicos e o tutelar político da pasta do ambiente, como também abre um precedente perigoso, o qual teria como consequência final uma fila de autarcas de chapéu na mão à sua porta, exigindo a aprovação de todo e qualquer mirabolante projecto imobiliário. Eu não consigo imaginar um pesadelo pior... 3. Na longa e infeliz linhagem do pior poder local, que em três décadas desfigurou irremediavelmente o país, fica esta tirada lapidar: «Espero que o Governo tome boas decisões nesta matéria, deixando-se de preconceitos, sem pés nem cabeça, e se deixe do cultivo de uma ideia errada de que a natureza se conserva não fazendo nada.» Tem toda a razão! Mas daí não se aduz que a única hipótese a ser considerada terá de ser a de uma marina, aliás, de um estrondoso projecto imobiliário que compreende 2 hóteis, 130 moradias, 420 apartamentos, 1756 lugares de estacionamento automóvel, 858 lugares para embarcações (o tráfego/ano previsto é de apenas 50 embarcações...), implicando tudo isto a construção de uma ilha artificial com 700 000m3 de aterro! Sim, esta é uma solução sem preconceitos. Mas também sem um milímetro de bom senso. É preciso topete (como diria o Freitas) para vir falar de conservação da natureza a propósito do projecto imobiliário da Marina da Barra! 4. Para não pensarem que apenas digo mal, ficam aqui as minhas congratulações por finalmente alguém se ter decidido a recuperar o Jardim Oudinot. Apesar de tudo. |
Publicado por David Afonso às 16:36
Comments on "Marina da Barra: entrevista de Ribau Esteves"
Mas o "inteligente" não diz absolutamente nada na entrevista. E o jornalista e o editor apenas deixaram o tipo encher papel. Aqui para nós que ninguém nos lê nem ouve, o tipo apenas fez ruído. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)
Também achei a entrevista muito mansa... Nem no "Povo Livre" seria tão bem tratado!