O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais para rotundas@gmail.com
Para acabar em beleza a série Tomar. Sempre que vou a algum lado (às vezes mesmo quando não vou a lado algum) visito o posto de Turismo. Sinto muita curiosidade não tanto pelo sítio que vou visitar (que para isso existem fontes mais seguras e completas do que a disponibilizada pelos serviços oficiais de turismo), mas mais para apreciar a representação que cada localidade faz de si própria, qual a imagem que ela pretende vender de si mesma. Qualquer cidade, vila ou aldeia tem sempre duas faces (pelo menos) as quais se regem por princípios e objectivos distintos: um face interna que é de difícil acesso ao visitante que não faz parte de tribo (e às vezes é a mais interessante pelas pequenas glórias e grandes misérias que oculta); uma outra face externa que é publicitada em roteiros mais-ou-menos photoshopeiros, mais-ou-menos kitsches, mais-ou-menos fantasiosos sobre a terrinha e a sua história. São documentos únicos que mereciam um verdadeiro estudo antropológico (qualquer coisa do género: «Portugal visto pelo olhar dos roteiros turísticos – De Fátima a Albufeira»). Bem, o caso é que sou viciado em postos de turismo e pronto!
Cheguei a Tomar no dia 13, Quinta-feira, portanto. Após de ter tratado das coisas mais urgentes fui ao posto de turismo para ver as novidades. Para minha estupefacção estava e estaria fechado durante todo o fim-de-semana da Páscoa! Motivo? Os funcionários estariam a gozar a ponte e feriado, tal como qualquer outro funcionário público. Sem colocar em causa este justo direito, pergunto: Não é um tanto quanto imbecil encerrar um posto de turismo durante um dos períodos mais concorridos do ano? É claro que é imbecil! Felizmente existia mesmo por ali um “posto” do Programa Pólis que fazia as vezes e que nos forneceu alguma informação e bastantes pedidos de desculpas pela incúria dos funcionários do Turismo.
Nesse mesmo dia, enquanto tomava um café no belíssimo e modernista Café Paraíso, li no Público uma notícia muito edificante: «Produtividade mínima no turismo português – Valor acrecentado bruto por profissional sobe 0,1 por cento em dez anos, abaixo da média final.» Não é de admirar, pois não? Tudo isto é triste, tudo isto existe.
Caro David, li o seu texto com o entusiasmo de quem encontra nele muitas afinidades. Há no entanto um só ponto que me leva a escrever estas linhas: não lhe parecerá um pouco injusto classificar como "incúria dos funcionários do Turismo" o fecho do respectivo posto, decerto determinado superiormente? Não pretendo iludir reponsabilidades (e todos sabemos o quanto é preciso melhorar a prestação dos funcionários, em geral, e dos que lidam com público, em particular), mas a responsabilidade maior aqui parece-me caber àquele género de superiores hierárquicos (técnicos ou políticos) que não atendem à especificidade das funções em causa e que manifestam um profundo menosprezo pelos funcionários que servem precisamente os seus objectivos de (auto-)representação, fazendo-os meros fantoches dos seus joguetes de interesses, dos quais o interesse público está normalmente muito afastado. Em suma, neste cenário confesso que não me choca o fim-de-semana prolongado (ou a "eterna" greve) do, chamemo-lo assim, "mexilhão". Porque a incúria, essa tem muitas caras...
David Afonso said ... (maio 02, 2006 3:10 da tarde) :
Acho que podemos chegar aqui perfeitamente a um acordo: a incúria também será dos funcionários superiores e terá de o ser em grau superior, mas também o será do funcionário-mexilhão que nada mais faz do que esperar pela maré. A gestão dos postos de turismo (do ICEP ou municipais) é uma das grandes vergonhas do sector. Os sindicatos e quem dá a cara ao público deviam ser os primeiros a protestar contra esta situação.
Anónimo said ... (maio 02, 2006 4:48 da tarde) :
A escolha do termo não podia ser melhor, David - "maré". Remar contra ela, eis o que é difícil, mas o que nos deve continuar a mover, como ao Sísifo com a sua pedra...
Anónimo said ... (maio 02, 2006 4:50 da tarde) :
A escolha do termo não podia ser melhor, David - a "maré". Remar contra ela, eis o que é difícil, mas o que deve continuar a mover-nos, como ao Sísifo com a sua pedra...
Comments on "Produtividade mínima"
Caro David, li o seu texto com o entusiasmo de quem encontra nele muitas afinidades. Há no entanto um só ponto que me leva a escrever estas linhas: não lhe parecerá um pouco injusto classificar como "incúria dos funcionários do Turismo" o fecho do respectivo posto, decerto determinado superiormente? Não pretendo iludir reponsabilidades (e todos sabemos o quanto é preciso melhorar a prestação dos funcionários, em geral, e dos que lidam com público, em particular), mas a responsabilidade maior aqui parece-me caber àquele género de superiores hierárquicos (técnicos ou políticos) que não atendem à especificidade das funções em causa e que manifestam um profundo menosprezo pelos funcionários que servem precisamente os seus objectivos de (auto-)representação, fazendo-os meros fantoches dos seus joguetes de interesses, dos quais o interesse público está normalmente muito afastado. Em suma, neste cenário confesso que não me choca o fim-de-semana prolongado (ou a "eterna" greve) do, chamemo-lo assim, "mexilhão". Porque a incúria, essa tem muitas caras...
Acho que podemos chegar aqui perfeitamente a um acordo: a incúria também será dos funcionários superiores e terá de o ser em grau superior, mas também o será do funcionário-mexilhão que nada mais faz do que esperar pela maré. A gestão dos postos de turismo (do ICEP ou municipais) é uma das grandes vergonhas do sector. Os sindicatos e quem dá a cara ao público deviam ser os primeiros a protestar contra esta situação.
A escolha do termo não podia ser melhor, David - "maré". Remar contra ela, eis o que é difícil, mas o que nos deve continuar a mover, como ao Sísifo com a sua pedra...
A escolha do termo não podia ser melhor, David - a "maré". Remar contra ela, eis o que é difícil, mas o que deve continuar a mover-nos, como ao Sísifo com a sua pedra...