Uma lógica de miséria
O subsídio de desemprego lá vai sofrer alterações. O costume num país em que cada vez mais se começa a construir a ideia que existem uns preguiçosos que não querem trabalhar para o desenvolvimento do país, mas que ninguém tem a certeza de quem são, pois estamos demasiado ocupados a construir a verdade absoluta de sermos nós os únicos a trabalhar mais que os outros. Ainda assim a nova legislação parece ser esclarecedora quanto baste para prevenir os abusos que todos sabemos existirem. Segundo se prevê, com o acordo das centrais sindicais, o novo subsídio será prioritário e durante mais tempo para quem é mais velho e tem mais descontos o que à primeira vista parece justo. Mas importa perceber quem é que realmente contribuiu para o esforço de credibilizar esta prestação social do estado, evitando a fraude e permitindo garantir uma maior rapidez e eficiência na atribuição assim como uma maior responsabilidade da componente do IEFP na procura de emprego. Desta vez parece que não foram os demoníacos sindicatos a bloquear o sucesso desta iniciativa da concertação social, nem sequer a generalidade dos pequenos e médios empresários reunidos nas suas confederações patronais. Desta vez foi a CIP... Não surpreende este comportamento até porque sempre que se vê o Van Zeller na TV imagina-se que o homem só ficaria verdadeiramente contente quando por cima da entrada das suas fábricas estivesse a conhecida expressão "Arbeit macht frei". De quem sempre exige tanto ao Estado que crie condições para o desenvolvimento da economia, de quem tantas e tantas vezes pede que o Estado não intervenha mas que continue de forma encapotada a permitir o fenómeno da mão estendida de que se alimentam muitos dos nossos empresários, não fica bem não apoiar uma medida clarificadora do papel do estado em relação ao desemprego. A CIP não concorda que as rescisões por mútuo acordo passem a ter um limite, porque Van Zeller e os seus teriam sempre maiores possibilidades de dispensar trabalhadores acenando-lhes com uma indemnização vergonhosa e com os três anos de subsídio de desemprego. A CIP que não concorda com o papel do Estado na economia, prefere passar para o Estado a responsabilidade das asneiras na gestão das empresas, a ter que abrir os cordões à bolsa perante a mais que provável resistência dos trabalhadores às indemnizações por mútuo acordo. Alguns dirão que se o estado continuar a sobrecarregar as empresas desta forma, a retoma não será possível. Eu digo que aqueles que ao longo de muito tempo e de forma abusiva não cumpriram as suas responsabilidades em relação ao país e à riqueza que geraram para os seus exclusivos bolsos, concordam que a CIP pretenda manter uma lógica miserabilista das condições de trabalho, uma mão-de-obra barata, explorada e silenciosa porque isso beneficia uma forma de ver a economia em que a exploração do homem parece fazer sentido. |
Publicado por José Raposo às 21:16
Comments on "Uma lógica de miséria"
Excelente artigo...
Gosto do artigo ..em termos de ideia global, isto é: alerta contra a exploração e alerta contra a ideia de que somos uns preguiçosos a perseguir...
MAS (há sempre um mas) discordo de duas ideias centrais que o José reflecte:
1º O subsídio de desemprego, efectivamente, tem de ser mudado, mas por estas razões: actualmente é indiferente a um trabalhador estar a receber subsídio de desemprego ou a trabalhar (o líquido é igual); perante isto muitos desempregados só aceitam empregos com remunerações bem acima da anterior, ou então, tentam sempre a "burla mais fácil": eu trabalho para si mas você paga-me por fora..e eu recebo dos dois lados!...há que controlar este mercado paralelo!!
2º Também não gosto da figura e do estilo do Van Zeller...mas...limitar a rescisão por mútuo acordo não me parece um "instrumento" muito válido!...muitas vezes essa rescisão é a ÚNICA saída para ambas as partes...e beneficia normalmente o trabalhador!...lembra-te que o despedimento com processo em tribunal..prove-se ou não a justa causa...é sempre penalizante quer para o trabalhador quer para o empregador.
1º - esta revisão do subsidio prevê que um trabalhador não possa recusar uma proposta de emprego adequada à suas capacidades se o valor a pagar for igual ou superior a 25% do ordenado que recebia anteriormente
2º - A legislação prevê esses mesmo casos em que a única solução é o mútuo acordo e por isso mesmo impõe um limite a esse tipo de rescisões que deve ser correctamente gerido pelos empresários.
Acho mesmo que se chegou a bom porto com esta revisão desta prestação social. Aliás a concordância das centrais sindicais revela que optaram por não ser intransigentes, optaram por flexibilixar de forma a tornar mais justo.