Cova da Moura ou onde o Estado de Direito mete baixa
A RTP, à semelhança dos restantes órgãos de comunicação social que exploram os casos judiciais até à exaustão, tem vindo nos dois últimos dias a reproduzir na íntegra a mesma reportagem, a que apelidou de Zona 77, ou Àrea 77, (esta coisa de se dar nomes às reportagens a meio de um noticiário é uma coisa que me transcende) em que é patente a tristeza dos polícias da Amadora perante o falecimento dos seus colegas na Cova da Moura no ano passado. A exploração, pura e simples dos sentimentos dos polícias e das famílias dos militares mortos, nem sequer tem como objectivo demonstrar se houve alterações na rotina do bairro e se porventura foram tomadas algumas medidas para os trágicos acontecimentos do ano passado não se voltarem a repetir. Nesta reportagem apenas se consegue vislumbrar com clareza a capitulação das forças de autoridade, que devem assegurar o normal funcionamento do estado de direito, perante um grupo localizado e mal organizado de malfeitores que apenas reconhece a força em inócuas e desarticuladas mega-operações carregadinhas de repórteres. Isto leva-me a concluir que passado um ano nada foi feito e que independentemente da pena hoje aplicada a dois dos assassinos, o festival dos recursos e o arrastar do processo em tribunal apenas vai contribuir para mitigar os acontecimentos, o que neste país geralmente resulta em inércia. Estou em Portugal há três dias e tive já a rara oportunidade de assistir a uma cena de pancadaria com exibição de taco de basebol devidamente aprovisionado na mala do carro e a uma tentativa falhada de assalto numa estação de comboio. Acontecimentos a que não assisti no leste Europeu. E numa rápida pesquisa com o olhar pelas zonas em causa, nem um policia à distância de um olhar pitosga como o meu. Não há policia a quem se possa recorrer na via publica, não há policia a pé, apenas se encontra policia que passa de carro de mota ou de qualquer outra forma. No entanto à porta dos mais miseráveis supermercados de bairro existe em permanência um polícia, ou melhor um gratificado. Não me compete apontar caminhos ou soluções, mas enquanto tudo isto acontece, o governo e as associações sindicais da polícia parecem assobiar para o lado e divertirem-se sobre a questão essencial da localização da patilha de segurança nas armas que ainda não têm. A mim apenas me compete exigir, como contribuinte, que o relatório anual de segurança pública que insistentemente refere uma queda dos níveis de criminalidade, seja melhor interpretado. |
Publicado por José Raposo às 21:07
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