D. Maria III, a Repovoadora
Não queria deixar passar em branco os grunhidos que ecoam em determinada blogoesfera, que continua a ver o mundo dividido entre crentes e hereges, sobre o repovoamento que está a sofrer o centro do País e mais concretamente Vila De Rei. Demagogias, como ("já cá havia tantos", "com um país com quase meio milhão de desempregados vão buscá-los ao estrangeiro" ou "isto daqui a bocado é tudo deles") à parte, não vejo qualquer razão para esta não ser uma interessante medida para combater a desertificação do interior e para reverter a actual crise demográfica que estamos a viver. Maria Joaquim, Presidente da Câmara Municipal de Vila de Rei, e que aqui caracterizei de repovoadora fez aquilo que tem de ser feito pelo Estado e que nunca antes foi aplicado de forma tão correcta. Como a maioria de nós sabe, compete ao Estado, ou melhor, competiria ao Estado definir um sistema de quotas através dos quais se poderia permitir a entrada de estrangeiros, e para que sectores eles seriam fundamentais, mas nunca o chegou a fazer com clareza suficiente que permitisse credibilizar o sistema e que permitisse perceber quais são os critérios pelo quais uns estrangeiros são deportados e outros nem por isso. Maria Joaquim revelou principalmente a coragem de tomar uma decisão que sabia polémica e de entendimento difícil pela população do seu concelho assim como pelas autoridades do País. Ainda assim, não teve medo e avançou. Estabeleceu um número das pessoas que precisava e para que funções essas pessoas iriam ser necessárias, estabeleceu um plano de acolhimento e de condições necessárias à vinda destas pessoas e avançou para o repovoamento de diversas localidades do seu concelho. Nesta matéria não há lugar à demagogia fácil que rapidamente encontrará argumentos que sustente a necessidade destes "colonizadores"serem portugueses, mas não é possível esquecer que foram os portugueses que por razões conjunturais, familiares e económicas, foram desertificando o interior, fugindo para as cidades e muitas e muitas vezes para o estrangeiro. Portugal sempre viveu em crise demográfica em relação a todos os restantes países Europeus com tendências expansionistas. Nunca tivemos gente suficiente para garantir uma presença efectiva no Império e muitas vezes foram estrangeiros que colonizaram as nossas conquistas. Sempre nos faltou iniciativa e cada vez mais, tarda a escolaridade, a formação e a tecnologia que permita aos portugueses criarem soluções para escaparem ao isolamento. É certo que existem compensações financeiras, mas será possivel ou será exigível, a um concelho como o de Vila de Rei, ou qualquer outro, dar compensações a portugueses que eventualmente se fixassem no concelho, compatíveis com as necessidades/exigências que aparentemente desenvolvemos? Julgo que não. É muito desagradável concluir que os brasileiros ficam mais baratos, mas a culpa disso não é da Maria Joaquim, nem da sua iniciativa, mas do país que temos andado a construir com as premissas todas ao contrário. |
Publicado por José Raposo às 21:25
Comments on "D. Maria III, a Repovoadora"
Raposo,
Por acaso pensava em fazer um post sobre este assunto, mas como ainda não tinha arranjado tempo fui adiando. E ainda bem porque acaste por defender aquela que é também a minha posição. A ideia foi excelente e a única dificuldade que aqui vejo estará em fixar o repovoamento, já que como se sbae, o nosso país é inclinado para o litoral e lisboa. De resto, que venham eles. Muitos. Alguém de pagar a minha reforma :)
Excelente post.
Se soubesse fazer links punha um na Barrica, quero dizer, Tonel para este post. Como não sei, resta-me dar-lhe os parabéns.
Brilhante!
David, confesso que não estava a pensar na tua reforma. Mas é bem capaz de ser a solução para as nossas reformas, tal como os portugueses foram a solução para as reformas de outros.
De qualquer forma ontem vi o pró e contras (que às vezes até tenho medo de ver) e estou convencido das virtudes do projecto da Câmara de Vila de Rei
A iniciativa da Presidente da Câmara Municipal de Vila de Rei é de aplaudir, finalmente alguém faz um plano com "cabeça, tronco e membros" em relação a vinda de mão de obra estrangeira (neste caso brasileira) para o nosso pais.
Esperemos que esses brasileiros se fixem realmente no nosso interior e que não venham passado pouco tempo para o litoral engrossar os "tantos" que já ca temos.