(Des)concertação
Quando a realidade parece suplantar a ficção, dou por mim a imaginar cenários. Com uma boa ajuda do Governo e da comunicação social surgem duas noticias aparentemente isoladas mas que facilmente se podem relacionar. O Governo reuniu com os parceiros sociais para discutir a reforma da Segurança Social e mais concretamente a sua sustentabilidade para o futuro. Independentemente da opinião que se possa ter sobre este assunto, e com mais ou menos sacrifício de direitos que julgávamos garantidos, todos aguardamos que o resultado acabe por ser: mais trabalho, durante mais tempo e com mais descontos. O cenário parece obscuro e nem com uma possível retoma a nível europeu que nos puxe para cima (sim, já perdi as esperanças de chegarmos lá sozinhos) haverá particulares alterações às limitações que agora vierem a ser criadas. No mesmo dia desta primeira reunião da Concertação Social, uma empresa de estudos de mercado, a TSN, apresentou um estudo que efectuou baseado numa grelha de comparação dos países a uma marca, de forma a identificar o nível de aceitação ou não de um determinado país, neste caso Portugal. Os Resultados são desastrosos. Além da conclusão, mais que previsível, de uma desmotivação generalizada, 85% dos portugueses entrevistados afirma não nutrir pelo país qualquer tipo de sentimento especial, afirmando mesmo a disponibilidade de emigrar, não o fazendo apenas por causa dos actuais empregos e das famílias. Ora imaginemos por um momento que estes 85% de portugueses das actuais gerações, contribuintes líquidas para o orçamento da Segurança Social, não pretende continuar a assegurar o sistema para lá das suas próprias reformas e preferem optar por deixar essa responsabilidade para as gerações futuras? O cenário é altamente improvável, mas perante este elevadíssimo nível de descontentamento é fácil imaginar uma posição de forte confronto social entre um governo que pretende receber uma fatia cada vez maior do rendimento das famílias e um número cada vez maior de portugueses que não se revê na forma como somos governados e prefere tomar nas suas mãos a responsabilidade pela sua reforma. |
Publicado por José Raposo às 17:52
Comments on "(Des)concertação"
Será que dentro dos 85% de portugueses que não se revêm no nosso país não teremos a sorte de ter alguns dos empresários que ainda vão sustentando uma visão estratégica quase inexistente? É que se assim fôr, eu não me importo nada de gastar alguma da minha futura reforma e pagar-lhes o bilhete de avião daqui para fora...
Não me parece que esse confronto social vá mesmo para a frente, pois se os portugueses começassem mesmo a "gerir" as suas próprias reformas, não sei até que ponto não estariam falidos técnicamente em poucos anos... (ok, esta deve ser influência de ter apanhado um episódio da Oprah a meio... tenho de me lembrar de não entrar assim na cozinha tão de repente...)
Esse confronto já existe. Há uma guerrilha fiscal e social, pela qual muitos portugueses escapam às suas obrigações e armam autênticas ciladas ao bem comum. Muita boa gente está cá para tratar da sua vidinha à custa da vida dos outros. Diz-me qual será a tua reforma e eu dir-te-ei de que lado estás.