Filhos de fronteira
Não há governo neste país que não acabe por meter os pés pelas mãos e acabe por se enrolar numa espiral de disparates e incoerências. Relativamente ao encerramento dos blocos de partos de alguns hospitais e maternidades do país, importa perceber que tipo de orientação segue o governo e se ela se justifica ou se simplesmente se trata de um capricho absurdo para alimentar um défice que não olha a princípios, valores ou pessoas. Recentemente o governo resolveu perceber que o país se encontra em crise demográfica, o que qualquer um de nós com dois dedos de testa teria percebido na década de 80 pois perante uma crise económica é de La Palisse que as famílias têm tendência a controlar a sua natalidade, e resolveu passar a beneficiar famílias mais numerosas em escandaloso detrimento em relação aos que de nós optaram por não ter filhos ou apenas ter um. Ora aqui é que a coisa parece começar a complicar-se.... Então se o objectivo é fomentar a natalidade, claramente em contra-ciclo com o desenvolvimento económico do país, então que sentido faz fechar blocos de partos e maternidades onde aparentemente eles fazem mais falta, que é no interior? Mas no meio de tudo isto existe um objectivo sério dos responsáveis políticos em resolver um problema que terão identificado? A argumentação do ministro parece querer confirmar que sim, e sustentado por um relatório que aponta caminhos que evitam um aumento da mortalidade infantil, que constitui um dos principais indicadores de desenvolvimento avançou para o encerramento de várias unidades. Mas a questão não é essa. O problema do encerramento de blocos de partos ou maternidades neste momento não pode ser uma decisão exclusivamente clínica, é uma questão de ordenamento do território e de desertificação do interior. Até pode ser bastante evidente para todos que existem hospitais que não garantem as condições ideais para se realizarem partos, mas se pensarmos que um dos pressupostos dessas condições são equipas experientes com a prática de cerca de 1500 partos por ano, então em breve estaremos a fechar novas maternidades muito perto do litoral e a obrigar as pessoas que estupidamente insistem em viver no interior a fazerem 300 km para o litoral ou 300km para o interior de Espanha para poderem ter os seus filhos. É um absurdo de proporções ainda não totalmente claras, (embora nenhuma de nacionalismo tótó) estabelecer um protocolo com um país estrangeiro, onde as portuguesas poderão não ter a prioridade nos tratamentos e não conseguirão expressar-se com a facilidade exigida, para permitir a existência de partos em certas zonas do país, quando no litoral existem centenas, senão milhares de médicos provenientes desses mesmos países. Urge encontrar soluções que não penalizem as populações, ainda que se justifique o encerramento de algumas unidades, podendo recorrer-se à rotatividade de equipas de partos entre o litoral e o interior para que se possam manter-se ao nível das melhores. Urge alterar as condições de Saúde nestes blocos assim como a qualidade de Saúde em geral no interior do país, mas para isso é preciso abrir os cordões à bolsa o que o poder politico não parece querer fazer. Como é que alguém pode explicar às gerações futuras que até são portugueses, mas por ironia de um destino adverso em que os governos portugueses nos têm deixado, tiveram de ir nascer a Espanha? |
Publicado por José Raposo às 14:49
Comments on "Filhos de fronteira"
Acha que as pessoas vão começar a ter mais filhos porque têm uma maternidade à porta de casa? O problema da natalidade não está na abertura ou fechamento de maternidades...porque a pessoa que tem o «objectivo» de ter um filho não vai estar a pensar que 9 meses depois terá que percorrer 30km para fazer o parto...criticar o fecho de maternidades com o argumento do fomento da natalidade não me parece muito válido...até porque o controlo da natalidade por parte das famílias não está só relacionado com picos de crise económica... o fenómeno alastra na Europa, independentemente das maiores ou menores crises económicas que assolam diferentes países...
Não, não me parece que as pessoas tenham mais filhos porque têm uma maternidade à porta embora pareça que é isso que pretendem. O que me parece é que as soluções encontrada e principalmente no caso de Elvas têm como objectivo poupar e não melhorar a qualidade dos cuidados de saúde no interior.