A29 e A1: uma história teimosa
1. Antes da Linha do Norte, quem viesse pelo litoral e tivesse de passar por Aveiro no sentido norte/sul ou sul/norte teria duas hipóteses: ou passava ao largo, a oeste da cidade, usando a antiga Estrada Real (que mais tarde virá a ser a Estrada Nacional n.º1); ou embarcava numa das extremidades norte e sul (Ovar e Mira) da Ria, interrompendo assim o normal trajecto terrestre. 2. No século XX, a A1 reproduz, como seria de esperar, a primeira solução. Já a nova A29, em grande parte paralela à A1, nos remete para uma solução semelhante à segunda. Vejamos: se o caro leitor vier pelo norte a baixo, saindo de Gaia e passando por Ovar, quando chegar a Estarreja, vai ter de sair da sua estrada, não para apanhar uma barca, mas para apanhar a A1 até Aveiro, onde poderá retomar, se quiser, a A29. A história é teimosa. 3. Em abono da verdade é bom esclarecer que não é suposto ser assim. Existem até duas soluções previstas para a ligação pela A29 entre Aveiro e Estarreja: uma a nascente e outra a poente, as quais têm dado azo a uma querela politiqueira na qual me abstenho de entrar por razões de profilaxia mental. Independentemente das razões locais que vão puxando esta sardinha de asfalto com 12 km, as duas soluções criam mais problemas do que aqueles que resolvem: 4. Se a via passar a nascente vai ficar colada à A1 e isolará ainda mais as povoações já condicionadas pela presença da auto-estrada do norte. Não sei o que pensarão, mas eu por mim acho que é perfeitamente imbecil manter duas auto-estradas paralelas, separadas por escassas centenas de metros. É um insulto aos contribuintes e um insulto a todos os portugueses que não têm direito a acessos rodoviários condignos. 5. Se a via passar a poente não só se mantém o problema do impacto negativo junto das povoações (é um zona bastante povoada e ainda por cima de uma forma dispersa), como também levanta um sério problema de impacto ambiental, dado que atravessaria a bacia e zona de influência da Ria de Aveiro e Vouga. É claro que os autarcas preferem chamar a estas zonas «terra de ninguém», o que - como se sabe - não é bem verdade porque na verdade são «terra de todos nós». Não se pode continuar a desbastar desta maneira acéfala o nosso património ambiental. Alguém tem de açaimar os nossos autarcas. São um verdadeiro perigo público no que toca à preservação ambiental. 6. Qual a solução? Nenhuma das duas. Quando a história é teimosa é porque lá deve ter as suas razões. A solução que eu proponho é simples, elegante e económica: a A29 passa a entroncar em Estarreja na A1, tal como agora acontece, sendo esta alargada com mais um canal ou dois em cada sentido. Qualquer bezerro vê que esta é a solução mais elementar. 7. Pode consultar um mapa aqui. PS: Sei de muita gente que vai saltar da cadeira quando ler isto mas tenho de o dizer na mesma: acho PORNOGRÁFICO que a A29 seja de uso gratuito. PORTAGENS JÁ! Os meus compatriotas das regiões mais carenciadas não têm nada de me pagar os passeios dominicais ao Furadouro. |
Comments on "A29 e A1: uma história teimosa"
Não era (também?...) para evitar estes problemas que se inventaram aquelas coisas chamadas Planos Directores Municipais?
Onde estavam estes autarcas desaçaimados quando os PDM's dos seus Municípios foram aprovados?...
Já quanto às portagens, a questão não é assim tão simples... Ainda não a conheço (antigo I. C. 1?), mas tenho a impressão de que a tal A 29 não deve só utilizada para passeios dominicais...
Claro que não. Até sou a favor de uma diferenciação das cobranças (por ex: transportes públicos e industriais/comerciais: 0€, mas transportes individuais: o preço justo). Existem alternativas rodoviárias viáveis e a linha do norte entre Porto e Ovar é eficiente, bons horários e com um preço ridiculamente baixo. Não faz sentido uma auto-estrada gratuita entre Ovar e Porto. A não ser para os Shoppings de Gaia que conseguem desse modo captar a sul muita da sua clientela..
Muito bem. É exactamente isso que eu defendo.