Baralhar e voltar a dar
Xanana acabou por não resistir ao papel de grande herói nacional, que salva o povo timorense crise após crise. Numa altura em que a situação tendia a normalizar-se e as instituições legitimamente eleitas poderiam voltar à sua rotina habitual, Xanana retira a confiança que manteve até aqui em Mari Al Katiri, e opta por formas de pressão como a ameaça da sua própria demissão caso Al katiri não se demita voluntariamente. Não me parece razoável alimentar qualquer ideia de golpe de estado institucional em relação a Mari Al Katiri da parte de Xanana. Este, recorrendo à interpretação da constituição timorense, que neste capítulo é idêntica à portuguesa, poderia ter demitido o Primeiro-Ministro e todo o governo no início da crise, nomeado um governo de iniciativa presidencial a que chamaria de unidade nacional, contentando quase todas as tendências, mas não o fez. Embora existam dúvidas quanto a esta interpretação da constituição (tal como em Portugal). Mas também não me parece razoável pedir a demissão de um Primeiro-Ministro com base em boatos, que em Timor parecem ser fogo em pasto seco, e com base numa reportagem feita por uma televisão australiana com os militares revoltosos, supostamente armados por Rogério Lobato a pedido de Mari Al Katiri para executarem missões tipo esquadrão da morte. Se Xanana pretende que a ONU volte ao território e assegure uma presença policial a longo prazo, então deveria ter esperado que os investigadores internacionais concluíssem, se houver alguma coisa a concluir, que os culpados da agitação pertencem ao governo e mais concretamente agiram a mando de Al Katiri. O primeiro ministro não parece interessado em abandonar o seu posto e a proposta de abandonar apenas a pasta dos Recursos Energéticos parece indiciar que o problema está mesmo no controlo do petróleo. Mas que tipo de solução procura Xanana para a crise politica? Existe alternativa à Fretilin? Não pertence Xanana precisamente à Fretilin, apesar da sua actual condição? Não existem em Timor organizações politicas tão estruturadas como a Fretilin embora haja imensa boa vontade e gente muito capaz, que esteve no exílio durante a ocupação indonésia. Parece existir uma divisão cada vez mais desmistificada entre os Lorosae e os Loromuru, sendo os primeiros supostamente defensores de Al Katiri e os seguintes apoiantes de Xanana. Mas o problema é que a Fretilin, os militares, a policia, o governo e o presidente misturam-se nestas duas realidades e nenhuma solução é possível sem a Fretilin. Portugal fica numa posição difícil. Depois de ter descarregado em cima de Xanana e do governo timorense a batata quente GNR, exemplarmente gerida pela experiência de Ramos-Horta, uma das instituições que dissemos respeitar por oposição ao desrespeito dos australianos, resolve caminhar no sentido da crise politica. Freitas terá de repensar estratégias enquanto a ONU estuda, num escandaloso prazo de seis meses, as necessidades de uma força internacional para Timor. Esperemos que não se precipite nas declarações, como habitual. |
Publicado por José Raposo às 15:32
Comments on "Baralhar e voltar a dar"
O problema é que os próprios protestos contra Alkatiri não fazem sentido. Resta saber onde vai parar.
Tal como escrevi: "Os protestantes querem a demissão do PM Alkatiri alegando que este não é capaz de suster a rebelião iniciada e continuada pelos próprios protestantes e que, segundo os mesmos, só terá fim quando o PM finalmente se demitir."
http://ailusaodavisao.blogspot.com/2006/06/soldados-do-infortnio-ou-da-fortuna.html
É o que se chama uma pescada de rabo na boca...
Caros amigos,
Peço licença ao José Raposo para fazer aqui uma pergunta que não tem a ver com este post.
Quem é que está a cantar sempre que se entra aqui ?
A Rádio Eventual dz que é os Velvet Underground, mas o estilo e a voz não batem certo.
A voz é fantástica ...
Mário,
em 1º lugar, não é suposto o nosso player começar a tocar automaticamente. Estranho, ele não está em autostart.
Sim, a música é dos velvet underground. O vocalista é o velhinho Lou Reed. Uma das minhas músicas preferidas.