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quarta-feira, junho 07, 2006

Casa Mário Amaral mutilada (e apartes)

A «Casa Mário Amaral» (1953) aparece referenciada por Fátima Fernandes e Michele Cannatá no Guia de Arquitectura Moderna do Porto 1925-2002 (edições ASA) e é da autoria de Arménio Losa e Cassiano Barbosa: Num gesto concilia-se o respeito e o cuidado com a tradição e a assimilação da modernidade, lê-se. Não se trata, como é notório, de um exemplar grandioso da arquitectura desta parelha (como por ex: Edifício Soares & Irmãos na Rua de Ceuta ou Bloco da Carvalhosa na Rua da Boavista), mas é um edifício pelo qual sempre tive uma certa ternura (se é que me é permitida tal confiança). Demorei a descobri-lo e, no entanto, passava por lá diariamente a pé. Se não fosse o olhar mais atento de um amigo, então estudante de arquitectura, ter-me chamado à atenção para esta «casota», não sei se a teria interpelado assim, cara-a-cara.

Esta casa-testemunho do modernismo portuense situa-se na Rua Latino Coelho. Quem por lá passar nestes dias constatará que por ali andou mão imprudente que prestou um mau serviço à cidade e à arquitectura. Todo o interior da casa foi demolido, tendo esta sido unida à casa do lado que também viu o seu interior demolido. O piso inferior, que originalmente servia de acesso à garagem e à habitação, foi reduzido na sua totalidade a um portão de garagem. As janelas de ambos os edifícios foram tapadas e revestidas com um cerâmico do bom gosto que se pode ver. Esta obra de Cassiano Barbosa/Arménio Losa é agora um armazém e uma garagem.

Duas questões: a) Se esta mutilação foi legal (coisa que duvido) gostaria de saber, em primeiro lugar, quem foi o técnico que borrou com a sua assinatura este «projecto de reconversão» e, em segundo lugar, que técnicos municipais deram o seu aval a esta aberração; b) Se a mutilação é ilegal, que raio andam os fiscais da Câmara a fazer que não cumprem as suas obrigações? Espero que alguém me possa esclarecer sobre este assunto.

Aparte 1: Pedro (Lessa), peço-lhe que não me interprete mal: eu admiro a obra do Siza e é justamente por isso que me incomoda a postura do homem Siza. Fica-lhe mal sujeitar-se à condição de uma espécie de Cavalo-de-Tróia ao abrigo do qual se impõe à cidade uma solução urbanística discutível. É um fim de caminho ingrato para quem entrou na profissão pela porta do diálogo e da participação. Mais, Siza devia ter uma postura mais exigente para consigo próprio e não devia «tirar o corpo fora» na questão do «loteamento» das praias que ele mesmo denunciou. Isto não é de hoje: em 2001, durante uma pequena conferência do Siza, que decorreu na Câmara Municipal de Matosinhos, o inevitável Narciso Miranda anunciou o desejo da autarquia em instalar um Museu da Arquitectura no município, convidando desde já o arquitecto para elaborar o respectivo projecto. Apanhado de surpresa, Siza sorriu a balbuciou: «Bem... parece que já ganhei o dia...». A resposta acertada e pedagógica seria: «Quem? Eu?! Não, obrigado. Que tal um concurso? Seria uma boa maneira de celebrar a Arquitectura...» (PS: Claro que aqui seria um concurso a sério, a doer, e não a fantochada do costume).

Aparte 2: Celebro de uma forma comedida a participação de Lino Ferreira n’A Baixa do Porto. Na verdade, pouco mais fez do que trazer para este blogue uma extensão da guerra da Câmara com o JN. Mas, lá está, isto pode ser impressão minha. No entanto, não resisto a perguntar ao sr. vereador se o “documento de reflexão sobre a futura localização do Conservatório” já está pronto (ou não) e qual é a posição actual da Câmara quanto ao encerramento do Carolina Michaelis.

Aparte 3: Caro Pedro Aroso. Este ano também não gostei do Serralves em Festa.

Comments on "Casa Mário Amaral mutilada (e apartes)"

 

Blogger Luís Bonifácio said ... (junho 07, 2006 9:22 da manhã) : 

Foi um arquitecto o autor desta "transformação/Destruição"?

 

Blogger David Afonso said ... (junho 07, 2006 11:24 da manhã) : 

Gostaria de acreditar que não.

 

Anonymous Anónimo said ... (junho 08, 2006 2:36 da tarde) : 

Relativamente ao post de David Afonso acerca da mutilação da designada “Casa Mário Amaral”, localizada na Rua de Latino Coelho, perto da Praça do Marquês de Pombal, a gravidade da situação é maior do que o anunciado. Na verdade, por trás da demolição do miolo e da sua transformação numa garagem a céu aberto (visível por quem passa na rua, se o portão da garagem não estiver encerrado), está… o Ministério da Saúde!!!

Pois é, os serviços distritais do Ministério, que funcionam num prédio contíguo, dos anos 70, precisavam de um espaço onde os senhores directores pudessem parquear as suas viaturas, oficiais ou não. E vai daí, provavelmente por um preço de ocasião, adquiriram os dois imóveis e neles promoveram a sua readaptação ao fim em causa, não cuidando do valor arquitectónico/patrimonial que se perdeu…

E – atenção! – duas casas mais abaixo, na mesma rua, está a decorrer idêntica “remodelação”, pelo que se pergunta: será que aumentou entretanto o parque automóvel do Ministério da Saúde no Porto?

 

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