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terça-feira, junho 27, 2006

Código 402345

1. Este é o Código de Identificação da Escola Secundária de Oliveira Martins, situada lá para os lados da Santos Pousada no Porto. Vai encerrar no final deste ano lectivo, ou seja, em finais de Agosto. Mais uma.

2. Manda a razão simples das coisas que 250 alunos não chegam para justificar a manutenção de uma escola secundária situada num centro urbano. É só fazer as contas como diria o outro. Podemos até tratar a matemática como uma estranha superstição, mas a verdade está lá. Nada a fazer. O problema é que, pelos vistos, nem com a razão do seu lado consegue este ministério da educação agir de uma forma aberta e leal. Ao comunicar aos professores, aos alunos, aos pais e, enfim, à cidade, o encerramento desta escola apenas a 60 dias do término do ano lectivo, quando muitas das avaliações já estão feitas e alguns alunos de férias junto da suas famílias, revela apenas medo. Medo do justo pedido de explicações dos pais, medo dos protestos dos professores, medo da opinião pública. Podem até argumentar que esta é uma decisão inevitável, já falada há mais de 5 anos, mas então, nesse caso, manda o bom senso e a responsabilidade que se comunicasse essa decisão no início de um ano lectivo, de maneira a permitir que os pais e alunos tivessem na sua posse todos os dados que pesam na escolha de uma escola ou de um curso. É tudo uma questão de lealdade.

3. Tanto quanto se sabe, também se falava da possibilidade de se transformar a Oliveira Martins numa escola profissional. Solução inteligente e repleta de virtudes porque o Grande Porto se encontra carenciado de mão-de-obra especializada e adequada à reconversão económica que o país em geral e o norte em particular, têm de levar a cabo já nesta década, sob pena de nos transformarmos numa espécie de Albânia atlântica. O pior que podíamos ter feito, foi termos extinguido sem critério as antigas escolas comerciais e industriais. Agora seria o tempo de as ressuscitarmos. Mas, na opinião da DREN, não. Não vamos ter ali uma escola profissional, mas «um espaço para a educação». Eu traduzo: ainda não pensaram no assunto.

4. O encerramento desta escola marca o ponto de não retorno da decadência demográfica do centro do Porto. Não há política de reabilitação da Baixa que resista a esta tenaz: o recuo demográfico para os concelhos vizinhos e a política da debanda do próprio estado. Era inviável esta escola? Talvez. Mas o que dizer dos externatos privados que subsistem em pleno coração da cidade, sem que lhes faltem os alunos? Talvez tenham mel, não sei (estou a mentir: sei muito bem que têm mel e até que mel é esse...). O que sei é que muitos são procurados não só por jovens residentes no Porto, como também oriundos de outros concelhos mais ou menos próximos. O ensino público tem obrigação de lutar pelo seu próprio espaço e de abandonar a passividade e de resistir à erosão da cultura e da cidade.

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