Confronto com a história
Freitas do Amaral hoje à tarde em conferência de imprensa: Portugal recusa ordens da Austrália. Portugal reiterou que não aceita subordinar a GNR ao comando de militares australianos na missão em Timor-leste. "Portugal não aceitou, não aceita nem aceitará nunca, que a GNR fique subordinada ao comando operacional de um militar estrangeiro (...) Tal é a nossa posição e, como posição de princípio, ela é inegociável" disse o MNE. Freitas do Amaral disse: "é uma questão de soberania, Portugal tem mais de oito séculos e meio de independência nacional e não aceita que forças militares suas sejam comandadas por militares estrangeiros, a menos que se trate da situação única de uma força formada e assumida como força da ONU". Segundo explicou, a missão australiana composta por um General e por um segundo elemento, foi enviada a Lisboa para esclarecimentos sobre a adenda ao acordo entre Portugal e Timor-leste, assinada quinta-feira, estipulando que a GNR tem um comando próprio, independentemente de quaisquer outros acordos celebrados com países terceiros. " O pretexto da reunião era discutir aspectos técnicos de coordenação das forças no terreno, mas rapidamente se percebeu que o problema era de facto uma tentativa de nos convencer a aceitar o comando unificado nas mãos de um general australiano." via Vodafone Live! É também aconselhável a leitura deste link para o The Australian News que entre outra vastíssima imprensa australiana publicou estes dois parágrafos que aqui destaco para quem não tem paciência para ler tudo. "This envisages that Australia will control military security in the short term through the Australia-led coalition that now exists and influence East Timor's military structure in the long run. The aim is to minimise the influence of the UN or other nations, notably Portugal, on East Timor's military structure."(...) (...)"The lesson Australia has drawn from the intervention is that its security views cannot be marginalised any longer as they were ignored at the time of independence. The feature of East Timor's brief history is that Portugal has exercised more influence than Australia, notably on its language, constitution and institutions. This is one of the reasons for its failure. It is obvious that as ultimate security guarantor, Australia must exert a greater authority." Ora parece que temos um problema, muito mais politico e muito mais complexo do que inicialmente parecia fazer crer a situação em Timor-Leste. Além disso, ou melhor, como sempre a situação em Timor-Leste continua a ser discutida de fora para dentro numa lógica de clara intromissão em relação aos destinos dos próprios, mas com grande culpa da ineficácia das instituições timorenses e do fracasso em tornar o pequeno e jovem pais numa verdadeira nação, com uma identidade própria. Aparentemente o papel dos vizinhos australianos vai além da simples ajuda requerida pelo governo Timorense e como o Max nos Devaneios tinha já referido, obedece a uma lógica "imperialista" que o afilhado de Washington para aquelas zonas, Jon Howard, parece querer organizar, tornando-se o grande pacificador da região. As forças australianas no terreno são mais do que o Governo Timorense pediu e não actuam em estrita colaboração com as poucas forças timorenses, numa perspectiva de tornar claro que os problemas surgem de uma relativamente extensa facção de amotinados, mas sim substituindo-as, obrigando ao acantonamento das forças timorenses, alimentando a ideia do caos e da ingovernabilidade do país, forçando a assinatura de acordos, cujos contornos se desconhecem, às cinco da manhã num qualquer ministério timorense. Portugal tem e provavelmente continuará a ter um papel em Timor-Leste. A questão de saber se as forças da GNR são ou não comandadas por um Australiano é uma questão de somenos importância, enquanto as actividades das forças de manutenção de paz se cingirem ao papel de pacificadores e não quando têm pretensões a influenciar a politica Timorense e a mudar de forma significativa as instituições deixadas pelo governo da ONU apesar de os protagonistas poderem ser os errados. Se assim for, a posição aparentemente "inegociável" de Portugal faz sentido e cria mossa ou não teria vindo a Portugal uma delegação australiana, com a intenção de demover Portugal dos seus objectivos. Neste mundo nada se faz sem uma boa pitada de interesses económicos. E a coroar todos os interesses económicos está o ouro negro que aparentemente o Mar de Timor dispõe e que Al-Katiri vendeu caro aos australianos. Mas ainda que o interesse de Portugal na região possa também passar por interesses económicos, através dos quais a maior parte das nações modernas faz a sua politica externa, temos de perceber a responsabilidade histórica e o renovar do confronto histórico com o ciclo do império que esta posição inegociável nos pode levar a tomar. É preciso que Portugal perceba que nos une uma história nem sempre pacifica, e um património cultural em que a língua portuguesa é um factor de união dos timorenses em torno de referências comuns, fora das suas habituais questões étnicas, ainda que uma geração de Timorenses nascidos durante a ocupação indónésia a considerem resquício de colonialismo. Se Portugal pretende assumir realmente essas responsabilidades, num processo mais vasto de pacificação do país e construção das infra-estruturas civis e politicas que permitam aos timorenses ser donos dos seus próprios destinos, então terá de fazer escolhas e terá de assegurar uma presença militar mais expressiva e a mais longo prazo no país, assim como programar directamente investimentos fortes para a resolução dos problemas mais imediatos de Timor-Leste. Essa responsabilidade, a ser assumida, tem custos. E apesar da posição aparentemente inegociável divulgada hoje por Freitas do Amaral, está ainda por esclarecer se Portugal está disposto a suportar esses custos. |
Publicado por José Raposo às 22:58
Comments on "Confronto com a história"
Não só disposto como também é preciso saber se tem capacidade para tal. Um dedo da pata do skippy tem mais força que toda a GNR junta... e a verdade é que falhámos por causa do nosso optimismo irresponsável. Deviamos ter pressionado a ONU para se manter no território. Mas isso sou eu a falar depois de amerda estar feita...
David, nós nesse aspecto até pressionámos. Foram oa americanos que vetaram o prologamento da missão da ONU por mais um ano.
Mas estamos perante questões que podem não ser conciliáveis com este tipo de posição do MNE e importa o governo esclarecer que planos tem para Timor. Afinal, parece que toda a gente tem planos, nós também deviamos ter se acharmos que temos capacidade.
Então não pressionámos o bastante, não? Talvez o melhor era que Timor se tornasse num protectorado australiano. Era o melhor para todos.
Não concordo. Isso é atestado de menoridade a um povo que apesar das suas diferenças internas sempre lutou pela sua auto-determinação. É razoável a existência de acordos de segurança com países estrangeiros. Mas convêm que esses países não tenham demasiados interesses estratégicos...
Timor para mim é um erro histórico. A mais nova das nações num tempo de declínio das nações...
Bem, também há quem nos considere um erro histórico e nós por acaso até descobrimos quase metade do mundo :)
Outros tempos! E a verdade é que as descobertas só se compreendem à luz do luso-desenrascanço: é melhor dar umas voltas por aí a ver no que dá do que trabalhar. E assim nasceu Portugal de Minho a Timor.
Ok, mas isso tem de valer para alguma coisa... aliás a Europa acbou por se fazer mais ou menos toda à volta de algum tipo de desenrescanço. Gente mesquinha e embirrante que por força que tinha que se desembaraçar de inimigos à paulada para lhes ficar com os terrenos mais ricos :) e assim se fez Portugal... e os outros... ehehe
Ó Zé,
- e agora algo completamente diferente -
já tentaste decifrar o Go (lá mais em baixo)?
PS: Solução de recurso quando me apercebo de que esta conversa não nos leva a lado algum :)
Esperemos que esteja disposto...É absolutamente necessário que o esteja.
Jose'
o teu comentario "e nós por acaso até descobrimos quase metade do mundo" esta' incorrecto. a maior parte dos territorios "descobertos" por nos, ja' eram ocupados por nativos. julgo que as unicas excepccoes sao a Madeira e os Acores.
nic, o meu comentário está parcialmente incorrecto. Na realidade nós descobrimos porque ninguém fazia ideia aonde ficavam. A questão que colocas é outra e tem mais a ver com colonialismo e não com descobrimento.
Jose',
quando te referes a "ninguem", referes-te aos europeus, nao e'? Os que ja la' estavam, ja' sabiam onde ficavam e ate' onde ficavam os outros (nós).
A Historia e' contada de acordo com os que a viveram, nao sendo necessariamente a unica versao. Certos factos historicos sao verdades universais para um povo, mas podem nao nao passar de farsas para outros.
A Historia dos "descobrimentos" portugueses, e' incrivelmente distinta, quando contada pelos colonizados!