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A partir de hoje, e mesmo com uma abstenção relativamente alta, os catalães reconheceram em referendo que a Catalunha é uma nação, embora integrada numa comunidade de nações que é a Espanha e que a sua primeira língua é o Catalão. A Catalunha sempre foi, apesar da opressão dos governos centrais de Madrid, uma parte da Espanha que conseguiu manter a sua identidade própria, conservando o seu idioma e a sua cultura, muitas vezes mais forte que na generalidade da Espanha. Esta região e a sua posição periférica em relação ao Atlântico, onde grande parte do tempo os reis católicos dedicaram concentrar o esforço de Espanha para a tornar uma nação descobridora e conquistadora, foi alimentando sonhos independentistas barbaramente esmagados de forma sazonal pelos vários governos espanhóis confiantes no ideal da unidade da Espanha. Mas esta alteração politica sobre o estatuto da Catalunha mudará muito pouco na vida dos catalães. Depois da morte de Franco e do referendo de 1979, a Catalunha tem vindo a consolidar a sua especificidade em relação ao estado espanhol, tendo instituições próprias, parlamento e partidos políticos regionais. Mais recentemente os catalães aproveitaram a oportunidade que as novas tecnologias lhes têm dado para reforçar o papel da língua catalã nos meios de comunicação social, por oposição à anterior hegemonia da informação em castelhano.
Desde o início da democracia espanhola que os catalães tem a possibilidade de se expressar livremente na sua língua e expressar as suas diferenças em relação aos restantes espanhóis, mas essa liberdade e essa diferença foi sempre permitida e autorizada por Espanha e fundamentalmente por Juan Carlos, que desempenhou um papel fundamental na democracia e na autonomia das regiões/nações de Espanha. Este novo estatuto apenas vem transmitir aos catalães a certeza das pretensões que tinham há muito, mas não alterará nada no seu dia a dia, até porque a democracia e a autonomia serviram para que houvesse uma maior aproximação entre Espanha e Catalunha o que veio mitigar algumas diferenças que pudessem existir. Politicamente a Catalunha ganha muito mais com este estatuto. O poder de se auto governarem através da Generalitat passa a estar definido como um poder que emana do povo da Catalunha e não da constituição espanhola. Aumentam as competências da Generalitat em matérias como a gestão de águas, protecção social, trabalho, segurança pública e imigração, e especialmente no destino de parte dos impostos que cobra. Mas também politicamente existem vencedores e derrotados. Perdem o PP, que tradicionalmente se opõe a qualquer discussão com as autonomias e a esquerda Republicana (ERC) de Carod Rovira que espantosamente apelou ao voto contra o novo estatuto apesar de inicialmente o ter negociado junto com o PSC, mas que agora o considera aquém dos objectivos da Catalunha. Ganha Pasqual Maragall do PSC e a CiU (convergência e união) o partido conservador nacionalista que desde a autonomia governou os destinos da Catalunha até à chegada do Partido Socialista. Este estatuto alimenta claramente a ideia que o estado espanhol mais tarde ou mais cedo acabará por se tornar uma federação de nações eliminando ou diminuindo a existência de fenómenos terroristas como a ETA.
Anónimo said ... (junho 19, 2006 12:52 da tarde) :
A história repete-se...
Anónimo said ... (junho 19, 2006 1:51 da tarde) :
Parabéns pelo post. Espanha e Catalunha continuam a surpreender, pela polémica talvez, pela vitalidade sem dúvida. E pelo sentido de estratégia que outros países, caso não tenham nascido ensinados, bem podem aprender.
filipe guerra said ... (junho 19, 2006 6:46 da tarde) :
É engraçado por uma "nação" ser autorizada a sê-lo ou não por um Estado. Vide os motivos do não em : www.oquotidianodamiseria.blogspot.com continuações...
José Raposo said ... (junho 19, 2006 9:29 da tarde) :
Filipe, podemos considerar que este estatuto fica aquém do que seria desejável para os catalães. Mas têm de ser os proprios a demonstrar isso em vez de irem para a praia. Além disso, apesar de todas as razões histórico-culturais que podem justificar a auto-determinação e independância da Catalunha, não podemos ser ingénuos ao pensar que aquilo que o estado espanhol faz mal passaria a ser feito melhor por um estado catalão. E parece-me que é isso que neste momento interessa mais aos catalães.
filipe guerra said ... (junho 20, 2006 2:09 da tarde) :
De facto a abstenção foi enorme, enquanto que no último referendo sobre a autonomia rondou apenas 1%. Imagino que muitos catalães se tenham recusado a votar sim, mas também não foram capazes de votar não. Teoria minha... De facto acredito, que aquilo que o Estado espanhol faz mal um governo catalão faria melhor, caso contrário, até podemos por em causa a existência de Estados, procurando-se criar um "estado-ideal" que de todos nós tomasse conta. E até é o que me parece que estar a acontecer na UE (vide a Constituião europeia, que não tarda está de volta). De qualquer forma, mais importante que discutir causas de abstenção ou quem gere melhor, o que importa é ser-se Nação a sério(com todas as consequências que daí advém) e o direito consagrado pela ONU (por exemplo) á autodeterminação dos povos. Isto é que devia ser discutido em Espanha e na Europa. É mais do que tempo de nações históricas com o País basco, a Catalunha, a Galiza (estas só em Espanha)terem uma opurtunidade de decidir o seu futuro. Que tal?
filipe guerra said ... (junho 21, 2006 12:57 da tarde) :
A expressão "rastilho da revolução" é sua. As nações que refere nem eram as que tinha em mente, eu pensaria mais depressa por exemplo da Irlanda do Norte ou da Escócia. "Todas as nações têm um fim, e quando chega a sua hora não vele a pena tentear enterdecê-lo" Al-curão.
José Raposo said ... (junho 22, 2006 11:29 da tarde) :
Filipe, geralmente concordo que todos os povos que se pretendem auto-determinar e tornar-se independentes mais tarde ou mais cedo acabarão por o conseguir. Aqui a questão que coloco é mais sobre a forma como o poderão conseguir. No caso da Catalunha ou do país Basco tenho dificuldade em aceitar que exista uma forma diferente deste lento caminho da auto-determinação, porque julgo (teoria minha...) que é esse o interesse da maioria dos catalães e bascos, fartos da violência do passado. Parece-me que existe (como sempre) um legítimo interesse de fazer vingar uma determinada identidade, aproveitando uma cultura ascendente e uma economia pujante.
Tiago, a revolução é muitas vezes a forma evidenciar uma quebra com o passado. Foi o que aconteceu connosco independentemente de se concordar ou não ou até de se poder fazer uma análise negativa do processo revolucionário. A diferença entre as nações que fala o Filipe e as que o Tiago identifica e que em Florença, na Baviera ou na Normandia não existe uma vontade de auto-determinação de um povo em concreto, o que não quer dizer que não venha a haver.
Infelizmente, a meu ver, os comentários passam ao lado dos dois aspectos mais importantes deste acontecimento, no que a nós portugueses diz respeito:
1º - A Espanha consegue já discutir e concretizar, civilizadamente, "up-gradings" do seu processo regionalista, enquanto nós em Portugal continuamos apenas a mal conseguir soletrar imberbemente a primeira sílaba de todo este complexo processo (que tristeza...);
2º - Portugal estará melhor como Estado-Nação, com selecção nacional e lugar na UE, OTAN, ONU, etc., ou... melhor seria que fosse uma Região Autónoma, como a Catalunha, de uma futura República Federal Ibérica (muita areia? Talvez, para os tempos presentes...)?
Comments on "Nou Estatut"
A história repete-se...
Parabéns pelo post. Espanha e Catalunha continuam a surpreender, pela polémica talvez, pela vitalidade sem dúvida. E pelo sentido de estratégia que outros países, caso não tenham nascido ensinados, bem podem aprender.
É engraçado por uma "nação" ser autorizada a sê-lo ou não por um Estado.
Vide os motivos do não em : www.oquotidianodamiseria.blogspot.com
continuações...
Filipe, podemos considerar que este estatuto fica aquém do que seria desejável para os catalães. Mas têm de ser os proprios a demonstrar isso em vez de irem para a praia. Além disso, apesar de todas as razões histórico-culturais que podem justificar a auto-determinação e independância da Catalunha, não podemos ser ingénuos ao pensar que aquilo que o estado espanhol faz mal passaria a ser feito melhor por um estado catalão. E parece-me que é isso que neste momento interessa mais aos catalães.
De facto a abstenção foi enorme, enquanto que no último referendo sobre a autonomia rondou apenas 1%. Imagino que muitos catalães se tenham recusado a votar sim, mas também não foram capazes de votar não. Teoria minha...
De facto acredito, que aquilo que o Estado espanhol faz mal um governo catalão faria melhor, caso contrário, até podemos por em causa a existência de Estados, procurando-se criar um "estado-ideal" que de todos nós tomasse conta. E até é o que me parece que estar a acontecer na UE (vide a Constituião europeia, que não tarda está de volta).
De qualquer forma, mais importante que discutir causas de abstenção ou quem gere melhor, o que importa é ser-se Nação a sério(com todas as consequências que daí advém) e o direito consagrado pela ONU (por exemplo) á autodeterminação dos povos. Isto é que devia ser discutido em Espanha e na Europa. É mais do que tempo de nações históricas com o País basco, a Catalunha, a Galiza (estas só em Espanha)terem uma opurtunidade de decidir o seu futuro.
Que tal?
A expressão "rastilho da revolução" é sua. As nações que refere nem eram as que tinha em mente, eu pensaria mais depressa por exemplo da Irlanda do Norte ou da Escócia.
"Todas as nações têm um fim, e quando chega a sua hora não vele a pena tentear enterdecê-lo" Al-curão.
Filipe, geralmente concordo que todos os povos que se pretendem auto-determinar e tornar-se independentes mais tarde ou mais cedo acabarão por o conseguir. Aqui a questão que coloco é mais sobre a forma como o poderão conseguir.
No caso da Catalunha ou do país Basco tenho dificuldade em aceitar que exista uma forma diferente deste lento caminho da auto-determinação, porque julgo (teoria minha...) que é esse o interesse da maioria dos catalães e bascos, fartos da violência do passado. Parece-me que existe (como sempre) um legítimo interesse de fazer vingar uma determinada identidade, aproveitando uma cultura ascendente e uma economia pujante.
Tiago, a revolução é muitas vezes a forma evidenciar uma quebra com o passado. Foi o que aconteceu connosco independentemente de se concordar ou não ou até de se poder fazer uma análise negativa do processo revolucionário. A diferença entre as nações que fala o Filipe e as que o Tiago identifica e que em Florença, na Baviera ou na Normandia não existe uma vontade de auto-determinação de um povo em concreto, o que não quer dizer que não venha a haver.
Parabéns pelo artigo, muito oportuno.
Infelizmente, a meu ver, os comentários passam ao lado dos dois aspectos mais importantes deste acontecimento, no que a nós portugueses diz respeito:
1º - A Espanha consegue já discutir e concretizar, civilizadamente, "up-gradings" do seu processo regionalista, enquanto nós em Portugal continuamos apenas a mal conseguir soletrar imberbemente a primeira sílaba de todo este complexo processo (que tristeza...);
2º - Portugal estará melhor como Estado-Nação, com selecção nacional e lugar na UE, OTAN, ONU, etc., ou... melhor seria que fosse uma Região Autónoma, como a Catalunha, de uma futura República Federal Ibérica (muita areia? Talvez, para os tempos presentes...)?
Bom fim-de-semana...