Férias
É muito interessante a forma como as pessoas abordam os sítios para onde viajam. No meio de uma conversa banal sobre férias alguém atira, como se aquilo estivesse atravessado na garganta há muito tempo: "Eu vou para Nova Iorque...". Como se não se conhecer Nova Iorque fosse um crime de lesa-majestade, como se o mundo se dividisse entre os que conhecem Nova Iorque e os outros, esse tipo de herege, que nunca foi às compras à capital do mundo civilizado. Existem um pouco por todo o mundo sítios agradáveis que se podem visitar. Existem sítios com praia em que podemos andar de chinelos, passar o dia a torrar ao sol, hidratando o corpo com caipirinha. Existem sítios cosmopolitas onde se passa o tempo a correr em transportes públicos em hora de ponta, para se ver um museu de que ouvimos falar ou uma exposição que está mesmo no último dia. E existe Nova Iorque. É longe, a viagem é uma seca, ninguém consegue perceber os preços sem “tax”e sem “service charge”, os transportes são nojentos, e existe uma elevada probabilidade de se ser atropelado num passeio por um americano excessivamente obeso, ou agredido por alguém a quem se teve a audácia de pedir uma informação. Mas um carimbo no passaporte que diga “Department of Homeland Security” torna-nos de alguma forma pessoas melhores. É o sindroma do Novo Mundo. Não existe nada de particularmente novo no mundo novo, passo a redundância, mas todos queremos redescobrir o caminho ousado dos navegadores que atravessaram o Atlântico em pequenas cascas de noz. É imaginar que nada será igual a este lado do Atlântico. Ainda que em Nova Iorque se viva tão mal como em qualquer outra cidade sub-dimensionada para o número de pessoas que a habita, quem a visita olha para a cidade como se tivesse ocorrido um terramoto tremendo durante a viagem de avião, e a cidade fosse inversamente proporcional aos locais de origem dos visitantes. Como se houvesse uma inversão total da escala de valores e tudo fosse possível e imaginável numa cidade supostamente louca, que segundo a lenda, nunca dorme. É procurar um pouco mais para oeste um sítio "where the grass is greener". |
Publicado por José Raposo às 22:16
Comments on "Férias"
Eu também já lá estive, lembras-te?
e então?
Pronto, pronto, não te irrites. Era só uma forma de mostrar que nem todas as pessoas se gabam dos lugares que visitam ou que tentam impingir os seus destinos aos demais mortais...