Anti-Babel
Não sou anti-espanholista nem nada que se lhe pareça. Na verdade, em alguns aspectos, sinto-me profundamente iberista (ou talvez interregionalista). Mas coisas há nos nossos vizinhos que extravasam a minha compreensão. Preocupa-me, sobretudo, aquele misto de provincianismo e de imperalismo que, no dizer de um amigo meu, leva os espanhóis a pedir sempre um mapa-mundi de Espanha. Onde esta mistura se faz sentir de uma forma mais evidente é na incapacidade que eles manifestam em compreender e em falar outras línguas que não o castelhano. Às vezes, nós portugueses, até caimos na asneira de acreditar que a proximidade fonética de algumas palavras nas duas línguas permitiria o mútuo entendimento. Que nada, não há maneira de nos fazermos entender! Vejam estas três situações que aconteceram comigo: 1. No cibercafé para conseguir parar a minha conta, tentava explicar ao funcionário o número do computador por mim usado: - «Ordenador numero dez» - ? - «Dez» (insisto) - ? - «Ten?...» (arrisco) - ? (Aponto para o computador) - Ah! Diez! (A dificuldade estava no "i", ou melhor, na falta dele) 2. No hotel enquanto tentava fazer o check-out, a barreira linguística torna a se manifestar: - «Habitacion numero cento e sete» - ? - «Cento e sete» (Ai, queres ver?...) - ? - «Uno, zero, sete» (tentei) - ? (Em desespero de causa aponto para o número do quarto na ficha de consumo do mini-bar) - «Ah! Ciento y siete!» (Novamente, o "i" que parece fazer toda a diferença) 3. No restaurante, uma corajosa tentativa de pedir frango: - «Pollo y...» (pronunciando "polo") - ? - «Chiken?...» (ai o caraças...) - ? Penso um pouco sorrio e peço, convicto: - «Pollo» (pronunciando correctamente, desta vez, "polho") - «Sí senõr!» - (Suspiro...) Gosto de pensar que isto é apenas azelhice deles, mas não é. Espanha é uma espécie de anti-babel, onde todas as línguas são eclipsadas pelo cristalino castelhano (excepto as linguas regionais como o galego ou o catalão e mesmo assim...). Este autismo é de quem tem o rei na barriga. Etiquetas: Espanha |
Comments on "Anti-Babel"
Já tive esta experiência (quem a não teve?) e na minha opinião a falta de entendimento que revelam é propositada.
"Dez" e "Diez" é a mesma coisa. Se alguém me disser "qatre" em vez de "quatro" eu não entendo ? Ao fingirem que não entendem, forçam-nos a tentar falar a língua deles.
É uma arrogância sem limites e sempre que posso dou-me ao superior prazer de não fazer a compra.
Escusado será dizer que sempre que um espanhol me pede informações cá em Portugal, é Natal para mim ...
Situações semelhantes também me aconteceram.
Mas pensava eu que quando fosse ao Mac Donald's a coisa fosse mais simples.
Experimentem pedir um Mac Chicken!!
Qual quê?!! Não existe tal coisa. É um Mac Pollo e é se queres.
Oriunda de perto da fronteira garanto que já passei por situações muito semelhantes... Mas existem algumas explicações para o facto:
1_Em Espanha, tudo se traduz para castelhano, existe quem jure a pés juntos já ter ouvido o nome Xutos e Pontapés traduzido para "Patadas e Patadas", logo eles não têm contacto auditivo com outras línguas.
2_ Ao contrário do português, o castelhano é pobre em termos fonéticos, logo os fonemas que não existem na própria língua são sempre mais difíceis quer de ouvir (diferenciar) quer de reproduzir.
3_Acho que também existe um pouco de preguiça...
Mas que é muito irritante, é.
Olhe que podia ter sido pior...
Quando o nosso castelhano é pior que sofrível, pode tornar a nossa vida social mais agitada que o pretendido.
Exemplos de frases que aprendi a evitar para não comprometer futuras amizades:
-eres muy engrasada. [lubrificada];
-estas un espanto! [susto];
-(o já clássico) espiero que no te quedes embarasada, pero... [grávida].
Ah, sim. Acrescento esta: quem tiver um todo-o-terreno «Pajero», fique sabendo que quando atravessar a fronteira passa a conduzir um... masturbador! É por isso que lá esse modelo é denominado «Montero».
E atendido por uma gaja com ar absolutamente entediado, a fumar atrás do balcão enquanto te prepara uma sandes de "ramon" (jamon)?? Isso é que são recordações de Barcelona...
há um truque que costuma resultar
Sentam-se e falam o vosso melhor espanhol, nem que seja portugues com o sotaque deles bem carregado, leiam as ementas com esse sotaque e nunca apontem nas «tabelas», insistam sempre como se falassem muito bem a lingua...
Não tarda o empregado esta a dizer
- no entiendo o teu espanhol, habla portugues por favor.
Para o numero de quarto
- Trezientos e quareienta e noeve. (como se fosse premio de lotaria)
se não percebem voces respondem
- qui passa? kieres que te escreva el numeroi num paielé?!
Da proxima vez, ainda estão a entrar já eles estão a entregar a chave correcta.
Serio, comigo resulta sempre, eles não aturaram dois minutos do meu espanhol .
E devo dizer que face aos v. relatos tenho tido muita sorte Peço descontos nos Hoteis e hostais e eles fazem, nem sequer regateiam ( se calhar é habito lá);
houve uma vez ( no hotel) que não jantei um dia , no dia da partida disseram-me ke se quisesse podia almoçar, agora sempre que acontece sou eu propria a pedi-lo e não fazem qualquer objecção, no Algarve é bem diferente;
Se peço tranferem-me o pequeno almoço para o bar por mais uma hora;
Acho que são muito prestaveis.
Agora claro depende dos sitios, ainda não fui a Bilbao esperava lá ir em breve, em Barcelona é preciso escolher coisas mais regionais , em vez de ficarem na capital fiquem em Badalona, se o fizerem no fim dos «menús» oferecem sempre xopilhos e graças pós ninhos.... quanto mais movimento pior atendimento
Acho que da próxima vez vou seguir o conselho da Cristina ... :-)
Já experimentou pedir Batatas?
Não, acho que não , quando se pede chuletas já traz as patatas, há algum truque não se pronuncia como se lê?!