Arte vs Djambe
A caminho de Bilbao fizemos uma «paragem técnica» em Vigo, a qual foi aproveitada para esticar as pernas e ver as novidades. Apesar de se tratar de uma cidade algo desinteressante, as autoridades locais têm vindo a seguir uma estratégia de requalificação urbana que tem dado os seus frutos. Dentro dessa estratégia desempenha um papel central o Museu de Arte Contemporânea de Vigo (MARCO), uma instituição que se enquadra numa lógica de descentralização do acesso à cultura seguida pelos últimos governos centrais espanhóis. Já hoje quase todas as cidades espanholas têm o seu centro de arte contemporânea e a coisa não ficará por aqui. Por cá é como se vê: Lisboa, Lisboa, Lisboa e Porto, para além de algumas –poucas- honrosas excepções. Um Centro de Arte Contemporânea em cada capital de distrito, pelo menos, faria muito mais pelo país do que uma colecção Berardo em Lisboa. Encontra-se em exibição no MARCO uma exposição de artistas contemporâneos de Israel intitulada «Artistas de Revés». O programa alerta o público para o facto deste evento se situar «longe de qualquer discurso institucional ou intento de instrumentalização política», considerando que «esta nova geração de artistas parece ter superado a ideia sionista de unidade de Israel». Reconhece-se que não havendo neutralidade absoluta na arte e ainda mais se tratando de uma amostra de autores de Israel, onde ninguém se pode situar na terra de ninguém, onde o facto de se existir é já, em si, um compromisso ideológico, o comissariado da exposição prefere, todavia, chamar a nossa atenção para o denominador comum a todas as obras expostas: a paisagem e o território. Esta nova geração pode estar a ruminar um novo destino para Israel... Ora, à porta do MARCO os visitantes foram recebidos por uma manifestação anti-israelita. E o que contestavam os manifestantes? Nada. Apenas a nacionalidade dos artistas. Não importa a obra, não importa o que cada um deles pensa, não importam as posições político-ideológicas eventualmente assumidas por cada um desses jovens artistas. Apenas importa o facto de terem nacionalidade israelita. Esse é o ponto que incomodava os manifestantes de Vigo. É uma ratoeira difícil de compreender: a esquerda a recuperar o nacionalismo como categoria moral e, quiçá, estética. De certo que esta «esquerda djambé» não hesitaria em comemorar e festivalar uma exposição de artistas palestinianos apenas porque estes seriam palestinianos. Estamos então de regresso ao crepúsculo. Podem consultar o programa da exposição no site do MARCO: www.marcovigo.com. Mas também podem consultar o programa dos manifestantes no site indicado nos panfletos distribuidos nas ruas de Vigo: www.nodo50.org/antimperialistavigo . |
Publicado por David Afonso às 02:10
Comments on "Arte vs Djambe"
a exposição parece ser interessante. eainda bem que estou de férias junto à fronteira com vigo a meia hora de distância...
Isso, vale bem a pena. Recomendo ainda uns pimentos de padron e um vinho ribeiro fresquinho. Nada de mariscadas nesta altura do ano ;)
Excelente posta.
"esquerda djambé" :)
No festival de Músicas do Mundo (FMM) em Sines, a "esquerda djambé" (variante JCP?), "atacou", com um "lençol pacifista", o músico libanês, Rabih Abou-khalil, que, um pouco constrangido, lá teve que improvisar umas palavras sobre a guerra...
Obrigado António.
Mas que fique claro uma coisa: este não é um post de um ressabiado de direita ;)
Fosga-se! "ressabiado de direita" :)
Outro sinal do "crepúsculo", mas de sentido contrário, o "embargo" à colaboração entre o Ry Cooder e músicos cubanos.
Aqui: http://www.freemuse.org/sw6135.asp
E aqui: http://news.bbc.co.uk/1/hi/entertainment/music/2863903.stm
Muito triste.
É inacreditável! Isto está a ficar bonito está...