O mistério do betão
A mais recente polémica sobre o edifício, ou edifícios na zona Lapa/Infante Santo, cuja construção não deveria sequer ter ocorrido, mas sobre a qual a câmara decidiu nem sequer cobrar licenças porque aparentemente nem sequer as chegou a emitir, revela duas ideias para Lisboa totalmente opostas e inconciliáveis. Como quase sempre falta equilíbrio, planeamento e organização e fundamentalmente respeito. Tudo o que se faz nesta cidade é sempre contra alguém. Nada se faz nada que não beneficie alguém em valores muito consideráveis com prejuízo da maioria.Ou melhor, não há nada que se possa fazer em que as diferentes forças políticas estejam de acordo porque os munícipes já são outra história. Estas duas ideias de cidade inconciliáveis jamais poderão estar de acordo. Uns defendem que a única coisa passível de se construir são jardins, equipamentos sociais e espaços de utilização pública e outros defendem que a única coisa passível de se fazer é mais e mais construção, algo entre os condomínios fechados e a habitação social aos montes, num conceito de cidade em que tudo é urbanizável. O mamarracho que se está a construir na Infante Santo são na realidade três edifícios, pelo preço (que afinal não foi pago) de um. Com uma volumetria muito para além do recomendável consegue incomodar toda a gente na zona e praticamente destruir qualquer tipo de património que possa existir por ali. É absolutamente escandaloso (porque não existe outro tipo de designação possível) que o (s) edifício (s) estejam a ser construído (s) com pilares encostados ao Aqueduto das Aguas Livres, a três metros do Chafariz das terras que fica junto ao aqueduto e com fantásticas varandas sobre o Aqueduto. Afinal quem é que não quer viver sobre um monumento nacional? As casas valorizam logo. É igualmente escandaloso que em Lisboa o património só seja recordado quando está prestes a ser destruído e não quando pura e simplesmente se encontra ao abandono, como acontece com esta secção do Aqueduto e o Chafariz das Terras, votados ao abandono há muitos anos. Mas de qualquer forma os problemas não podem resolver-se recorrendo à construção de mais e mais betão, cuja legalidade é questionável. Executivos camarários de todas as cores e feitios, mais ou menos corruptos, mais de esquerda ou mais de direita continuam à espera que todos os que vivem em Lisboa imaginem o surgimento do betão à volta, por baixo ou por cima como uma espécie de mistério da fé. Como se a construção avulso, sem planeamento, nem respeito por ninguém pudesse passar em claro. Mais informação poderá ser obtida no site bem organizado da SOS Infante Santo. |
Publicado por José Raposo às 15:15
Comments on "O mistério do betão"
A volumetria e implantação respeitam o PDM? Senão é um caso muito grave.
O IPPAR tem a obrigação de impugnar judicialmente as obras, tal como fez com o Túnel de Ceuta junto ao Museu Nacional Soares dos Reis. Se o IPPAR não cumprir o seu papel então tb deve ser alvo se um processo de averiguações. Começo a ficar farto de toda esta merdinha... (desculpem o desabafo...)
Pois, mas o IPPAR não fez nada disso...
IPPAR, Sr. Dr. Jorge Sampaio, etc. e tal - de nada nos servem, só oneram o "défice" da tanga.
Ler e reler o Dr. Paulo Morais: só quem conhece o Poder Local por dentro sabe quanto ele pode ser lesivo e perigoso para o interesse público!
Li o "site" SOS: desde Outubro que não é actualizado! Mas se de facto o edifício não respeita o PDM - apesar de não esperar grande coisa do PDM de Lisboa, deste e menos ainda da sua revisão, em termos de salvaguarda EFECTIVA já não digo da qualidade de vida urbana da população, mas até da salvaguarda do Património da Cidade -, não teria sido fácil interpor uma providência cautelar para PARAR AS OBRAS?
Em Caxias não foi difícil e o "infractor" era o próprio M. da Justiça (para acomodar a... P. J.!), e parece-me que o movimento "Por Caxias" também não tinha mais de cem subscritores!
E o "buraco" da «Teixeira Duarte» lá continua, à espera que o edifício da Gomes Freire se tranforme um dia, também ele, num "condomínio de luxo" powered by o Min. da Justiça, em estreita conivência com... a C. M. L., concerteza...
Peço desculpa:
(...) E o "buraco" feito pela «T. Duarte» lá continua à vista de todos em Caxias, à espera que o edifício da P. J. na R. Gomes Freire se transforme, um dia, (...)
Anónimo, o site que indiquei pode estar sem actualização desde outubro até porque o único factor que alterou desde essa altura foi a continuação da construção.
Ms a polémica actual que resultou num parecer do provedor de justiça e no processo a decorrer no DIAP sobre este assunto, deve-se ao trabalho destes 100 moradores que trouxeram o assunto para a praça pública
Passei por lá ontem, de propósito, ao regressar a casa.
Por causa das obras, mastodônticas, até a própria Av. Infante Santo tem as vias ascendentes reduzidas, por um estrangulamento, com a invasão da faixa de rodagem (e do passeio, claro) por parte do estaleiro da obra!
Parabéns aos moradores inconformados e com razão: se a deixarem à solta descontrolada, a besta do betão acabará por devorar-nos a Cidade inteira!...