Frontex
Aqui há umas semanas era noticia que num só fim-de-semana as lhas Canárias foram invadidas por 1200 imigrantes ilegais, que encontraram nas pequenas e frágeis embarcações, uma alternativa ao arame farpado e aos tanques de Ceuta e Melilla. Na semana que passou a noticia era, desde o início do ano terem sido resgatados nas mesmas águas 500 corpos de imigrantes ilegais que não tinham conseguido chegar às Canárias. Por mais idiota que possa parecer a ideia dos espanhóis manterem enclaves em território marroquino, como por exemplo Perejil, que é uma pedra a 200 metros de Marrocos, esta não é uma questão de soberania mas sim uma questão económica. A generalidade da classe politica europeia agradece o esforço espanhol de evitar as hordas de imigrantes ilegais no próprio território africano, para não ter de se preocupar particularmente com a resolução do problema no espaço natural da União, à excepção de uns episódios em Itália, Chipre e Malta. Portugal também participa desse esforço. Muito embora as nossas costas estejam longe da capacidade dos barcos dos imigrantes, ajudamos a proteger a fortaleza Europa lá longe, ao abrigo do programa HERA2 da Agência europeia de gestão das fronteiras externas da União, o FRONTEX, que prevê uma protecção muito além das fronteiras europeias. Uma corveta da marinha portuguesa esteve até esta semana a fiscalizar uma parte do Atlântico ao longo das costas dos países independentes, Cabo verde, Senegal e Mauritânia, de forma a dissuadir qualquer tentativa de imigração ilegal dos nacionais destes países. A questão não é sabermos se é correcto fecharmos a porta aos imigrantes ilegais ou se vamos escancarar a porta para os deixar entrar. A questão é saber como é que vamos resolver este problema, porque a Europa não pode continuar a considerar que ele se resolve mantendo navios de guerra e grande aparato militar nas suas fronteiras exteriores, sejam elas no sul de Espanha ou já dentro do território africano. A questão está directamente relacionada com o papel que a Europa rica pode e deve desempenhar em África, facilitando condições de vida adequada, exigindo democratização dos regimes e o estabelecimento de verdadeiros direitos liberdades e garantias. Se a Europa pretende proteger-se das supostas invasões, tem de saber que isso tem um preço. Resta saber se o pretende pagar em medidas tampão, totalmente avulso, ou se pretende pagar esse preço em projectos de desenvolvimento sérios, para que Àfrica se possa realmente desenvolver de forma sustentada. |
Publicado por José Raposo às 22:03
Comments on "Frontex"
É o que se poderia chamar de um "Pugrama" prá-frentex
Este assunto é sem duvida em dos problemas mais urgentes que a Europa tem para resolver.
Se olharmos só exclusivamente para os interesses europeus, não será difícil concluir que sairá sempre muito mais barato para a Europa manter as suas fronteiras mediterrânicas bem patrulhadas pelas suas marinhas de guerra do que investir na qualidade de vida das populações africanas nos seus próprios países.
O problema é o que é que moralmente é correcto fazer, tendo em conta o passado de exploração "branca" por parte de muitos países europeus em relação a quase todo o continente africano e principalmente á maneira como as descolonizações foram feitas, não só não houve uma saída progressiva de quadros técnicos "brancos", que permitissem um enquadramento de pessoal especializado local de modo a não deixar as economias destes países pararem, mas também á maneira como as fronteiras destes países foram feitas, (a régua e esquadro) pelas potências europeias, não tendo sido levadas em conta as diferentes etnias e religiões o que hoje em dia é responsável por grande parte das guerras que ao longo das ultimas décadas têm contribuído para uma degradação da qualidade de vida de quase todo o continente africano.