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sábado, setembro 16, 2006

Ponto caramelo

Como alguns dos meus amigos sabem eu gosto muito do fenómeno "pescadinha de rabo na boca”.
Já todos sabíamos que o Bento tinha ideias bem mais "radicais" sobre teologia que o seu antecessor, não tivesse sido o próprio, responsável pela organização reciclada da Inquisição.
Mas a questão aqui é um pouco mais vasta do que a simples ideia, que afinal todos temos, sobre o Islão e sobre a violência que, pelo que nos é dado ver, lhe está associada.
Deste suposto lado ocidental do planeta obedecemos a uma reversão do ónus da prova em relação ao mundo islâmico. Em vez de serem os próprios a deixarem claro as diferenças que os separam dos extremistas, temos de ser nós todos ao mesmo tempo a compreender o alcance e a doutrina de uma religião que muita gente diz ser de paz, e ao mesmo tempo combater aqueles que a pervertem, como se a responsabilidade da interpretação do Corão fosse nossa e que por não a fazermos é que não compreendemos a razão de nos atacarem.
É estranho, mas o resultado é só um. Não se pode dizer objectivamente nada sobre alguém que nem sequer pode ser retratado, mesmo que isso seja num contexto de análise do fenómeno.
Quando nos atacam são os extremistas, quando deste lado alguém fala, já fazendo todas as ressalvas que evitem fenómenos de racismo, xenofobia e intolerância, todo o mundo árabe parece ficar afectado porque aparentemente não possui o discernimento mental para perceber que por aqui também temos extremistas e o Bento pode perfeitamente ser um deles.
É a pescadinha de rabo na boca que principalmente faz grande sucesso na Europa devido ao fenómeno de arrastamento destes assuntos para as comunidades islâmicas imigrantes.
Parece que nos auto-castigamos sempre que temos os ímpios pensamentos de considerar que as minorias étnicas nos nossos países podem estar erradas. Se falamos é porque não respeitamos a diversidade. Se não falamos é porque somos arrogantes tal como todos os colonizadores no passado, como se fosse possível responsabilizar as actuais gerações pelo colonialismo e a arrogância doutros tempos, ou até mesmo pelo imperialismo que tão ferozmente combatem, sem saberem bem o que pretendem para o substituir.
Como sempre, minorias étnicas = bom, minorias sociais = mau. Não se pode dizer nada sobre imigrantes ou sobre outras culturas mas pode criticar-se abertamente estilos de vida e manter-se perpetuamente a estratificação social que caracteriza as sociedades ocidentais e as divide entre pobres e ricos. Aliás o melhor é mesmo não fazer nada porque pode ser que o problema acabe por passar. Entretanto acumulam-se os fenómenos de intolerância de parte a parte, a integração não se faz e temos quase dentro de casa problemas tão complexos ou pelo menos tão sérios quanto no mundo árabe, no que toca a um ódio aos ocidentais.
Ratzinger falou sobre um Imperador Bizantino e todos, sem excepção, somos resultado de uma história. Se as declarações de Ratzinger não são felizes, não o teriam sido no tempo do Imperador (apesar do politicamente correcto não existir na altura) assim como também não são felizes as declarações de Maomé sobre a forma de propagar a sua religião. Mas a questão é que foram ditas em determinado momento e ninguém as desmentiu. Ainda assim, o mundo árabe parece ter ficado incomodado com a aparente interpretação que fizemos, ou que Ratzinger fez, das palavras que Maomé terá dito.
Não é clara a intenção de Ratzinger quando profere estas palavras. Poderá ter intenção de separar as águas entre dois lados de uma espécie de conflito civilizacional, mas se o faz é igualmente legitimado pelas interpretações do Corão feitas por Sheiks, Mulahs e outros que nas mesquitas interpretam semanalmente as palavras do profeta numa espécie de bolo anti-ocidental.
A verdade é que o politicamente correcto nos arrasta para uma espiral de violência contra tudo o que seja diferente do mundo islâmico, não nos restando outra saída que não compreender essa espiral de violência num respeito pela diversidade cultural que acabará por fechar a porta da diversidade no final da festa.
Mas não há nada a fazer, as declarações do Papa vêm arrastar irremediavelmente o problema para um plano de onde o queríamos retirar – a religião. A partir de agora esta tornou-se uma guerra fundamentalista entre conceitos parolos de religião que nuns e noutros momentos se comportaram praticamente da mesma forma.
Quem deve estar a esfregar as mãos é o Bush que só pode beneficiar do arrastamento do conflito para um plano ainda mais maniqueísta do que já possuía.

Comments on "Ponto caramelo"

 

Blogger Arauto da Ria said ... (setembro 17, 2006 2:33 da manhã) : 

"A pescadinha com o rabo na boca" é sem dúvida a terminologia certa para analizar este problema,mas para mim o Bento meteu-se por caminhos demasiado sinuosos e não imaginava a guerra que ia comprar.
Se esta for só dele tudo bem, mas prevejo que ainda vai sobrar alguma coisa, para os inocentes dele. Religiões!? Todas tem o seu calcanhar de Aquiles e ele se calhar não pensou na Inquisição.
Este Bento aprendeu pouco com J.PauloII.O Presidente dos EUA teve um bom seguidor nas bacoradas.

 

Blogger David Afonso said ... (setembro 17, 2006 2:54 da manhã) : 

Raposo,
excelente!

 

Blogger Pedro Santos Cardoso said ... (setembro 17, 2006 10:19 da manhã) : 

O José anda inspirado.

 

Blogger Nuno Guronsan said ... (setembro 17, 2006 9:20 da tarde) : 

Amigo, esta tua última frase poderá indicar que andas a criar as tuas próprias teorias da conspiração? ;)) Temos que mudar rapidamente o teor das nossas conversas de café...

 

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