Rivoli e o resto
1. Privatização e ocupação do Rivoli: compreendo e aceito a operação de ocupação do Rivoli. Pessoalmente, desaconselharia qualquer um, nestas circuntâncias, a avançar para tal forma de protesto, todavia não me atrevo a condenar os (ex)barricados. Apenas lamento que as coisas tenham chegado a tal ponto. Ainda mais acrescento que, dada a crispação que se sente nesta cidade haveremos de, infelizmente, vir assistir a outros episódios como este. Sem me alongar muito mais, sempre pensei que a ocupação do Rivoli não passaria de um fait-divers porque, dia menos dia, a coisa teria um fim. Os barricados que me preocupam são outros, aqueles que estão mentalmente barricados atrás de uma maioria. Não pretendo os desalojar, até porque democraticamente merecem o posto que ocupam, pretendia apenas que abandonassem a postura de eternos barricados. (OBS: estou em total consonância com o que a Cristina diz nestes posts: Não é a cultura, é património cultural e Pagamos para que ouçam as nossas críticas) 2. Este post do Helder Sousa levanta uma série de questões muito interessnates. A minha posição é a de que o Rivoli deveria continuar sob gestão pública dando cumprimento a um projecto autárquico. Todavia, não excluo a hipótese de uma gestão privada. Sinceramente, até gostava que o Porto testasse esse modelo, apesar de tudo. Mas quando falo em privatização, não me refiro a um sacudir de responsabilidades das autoridades municipais. Na minha opinião, só com alguma generosidade, cumplicidade partidária ou entusiasmo inconsciente (ou todos juntos) é que poderemos chamar a isto que se passa actualmente com o Rivoli de privatização. Para mim, não deve haver lugar para meias medidas: ou é ou não é. E se é, então parece-me que alguns procedimentos elementares estarão em falta por parte da Câmara: Em primeiro lugar, deveria ter esclarecido o seu propósito no momento próprio, ou seja, durante o período eleitoral e no programa de governo proposto aos portuenses, até porque o descalabro das contas do Rivoli não são de hoje; Em segundo lugar, o processo de privatização deveria ter obedecido a um projecto devidamente ponderado e não a uma espécie de “Plano B”; Em terceiro lugar, o concurso de privatização deveria ser o mais transparente possível, isto é, sem produtoras convidadas a apresentaem candidaturas, com um regulamento exaustivo e claro, com uma ampla divulgação do mesmo regulamento na comunicação social e com a nomeação de um júri independente (um representante da autarquia, outro do Ministério da Cultura e outro nomeado, por hipótese, pelos agentes e produtores culturais do Porto); Em quarto lugar, o concurso deveria ser internacional (a mim nada me incomodaria em ter um produtor espanhol ou britânico à frente do Rivoli); Em quinto lugar, as propostas deveriam estar disponíveis para apreciação e discussão públicas. Isto, sim, seria uma privatização. Tudo o resto é qualquer coisa que faz lembrar uma privatização mas que não o é. Já ouvi demasiada gente a expôr as suas reservas quanto à transparência de todo este processo. E mesmo que a Câmara não mereça estas suspeitas, entra aqui a velha história da mulher de César, com a agravante de que em política o que parece, é. 3. Mas a vida continua. A Rua das Flores tem um longo caminho a percorrer, mas está bem e recomenda-se. Esta é a minha rua e sei que um dia hei-de lá viver (só não sei quando). Não tarda nada vamos ter mais notícias dessas bandas da cidade. Até lá – e em termos de oferta cultural – ainda temos a POLLEN até dia 4 de Novembro e de 21 a 29 de Outubro, mesmo ali ao lado, na Casa dos Maias (sítio fabuloso, que não me importava nada de um dia também poder usar num projecto na área das artes visuais) o ESMAE e as Produções Suplementares apresentam Relíquias, a partir d’A Relíquia do Eça (reservas: 225 193 763). |
Publicado por David Afonso às 02:44
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