Lisboa e o resto
![]() Normalmente não me aquece e nem arrefece a eterna questão Lisboa Vs Porto. Nem a novíssima questão do Metro me incomoda por aí além e, ao contrário do que diz a Cristina, aqui neste caso, só nos podemos queixar de nós próprios. Que venha um novo modelo de gestão para a Metro do Porto por aí abaixo que eu apenas me limitarei a encolher os ombros. Se eu desejasse algum mal a Lisboa até propunha que Valentim & Cia fossem estagiar para o Metro de Lisboa, mas até consta que eles por lá também estão muito bem servidos. Aliás, não há empresa pública alguma entre nós que não esteja bem servida de Valentins e diria até que é para isso mesmo que elas existem. Adiante. O que me irrita são as pequenas coisas. Aquelas coisas que me atrapalham no dia a dia e que vão confirmando que em Lisboa se perde cada vez mais o sentido de realidade. Dois pequenos exemplos: 1. Quando procurava informações sobre o Novo Regime de Arrendamento Urbano (NRAU) no http://www.portaldahabitacao.pt/ encontrei este interessante e útil documento Método de Avaliação do Estado de Conservação dos Edifícios. Trata-se de um manual de instruções para preenchimento da Ficha de Avaliação do Estado de Conservação (a ficha tem 2 páginas, mas o manual de instruções tem 26...). A páginas tantas deparo-me com o ítem Época de construção onde se lê: «a época de construção deve ser classificada em uma das seguintes categorias: anterior a 1755 – Edificações pré-pombalinas; 1755-1864 – Edificações do período pombalino e similares; 1865-1903 – Adulteração das referências pombalinas e significativo aumento do número de pisos. Período compreendido entre a entrada em vigor das primeiras posturas municipais sobre construção, em Lisboa (1865), e a publicação do Regulamento de Salubridade das Edificações Urbanas (1903)». Pois é... pergunto se estas instruções serão aplicáveis a todo o resto do país. Mesmo para o Porto esta periodização tem o seu quê de excêntrico, não obstante os Almadas... Parece que alguém se esqueceu de alertar o LNEC para a circustância de o NRAU ser uma Lei nacional e não uma disposição municipal. A não ser que, olhando pelas janelas dos seus gabinetes, estes técnicos acreditem que não há nada mais para além de Lisboa. 2. Com o intuito de analisar as potencialidades de um edifício na zona histórica do Porto para aí se instalar um pequeno equipamento hoteleiro, tentou-se marcar uma reunião na Direcção Geral de Turísmo (DGT). Como existe uma delegação dessa Direcção-Geral no Porto, pensámos que poderíamos resolver aí mesmo o nosso problema. Para nosso espanto a delegação do Porto só poderia se pronunciar sobre projectos no âmbito do Turismo Rural! Para qualquer outro assunto deveríamo-nos dirigir a Lisboa porque só aí existem os técnicos habilitados a emitir pareceres sobre projectos para empreendimentos em contexto urbano. Resultado: perdeu-se um dia de trabalho de duas pessoas (do cliente e do técnico que o acompanhou), quando numa meia-hora se poderia resolver o problema por cá. E ainda por cima nem sequer consideram a possibilidade da videoconferência. (PS: Ora aí está um excelente serviço que a Loja do Cidadão poderia fornecer ao país. Salas de Videoconferência ligadas aos serviços sitiados em Lisboa!). Etiquetas: Porto |
Comments on "Lisboa e o resto"
1) Segundo sei o Terramoto de 1755 afectou todo o país e não apenas Lisboa, apesar dos estragos terem sido menores em zonas fora do Vale do Tejo. No entanto, o período das construções pombalinas representa um tipo de construção que se começou a fazer daí para a frente, como se fosse o estilo gótico ou barroco, e julgo que se aplica de igual forma a todo o país. Também me parece que a referência às posturas municipais de Lisboa de 1865 servem para que se compreenda o período a que diz respeito e não que se aplica exclusivamente a Lisboa. O regulamento de 1903 calculo que se deveria aplicar normalmente a todo o país. Mas claro que isto são conjecturas minhas...
2) Sem comentários... não há palavras para este tipo de centralismo em 2006
1. Nada disso. Se existe algum acontecimento bem documentado (consultar inquéritos paroquiais)na nossa história é justamente o Terramoto de Lisboa. Algumas cidades sofreram danos, mas tal não obrigou a uma reformulação urbanistica e arquitectónica. A expressão da arquitectura ponbalina no Porto é a dos Almadas, a qual não se confunde com o caso lisboeta. Um exemplo fora desta bipolarização Porto/Lisboa: arranja-me aí um exemplo de arquitectura pombalina em Aveiro ou Viseu. Até ver um ou outro exemplar, mas não irrelevante. A régua de Lisboa não serve para medir o resto do país...
onde se lê «mas não irrelevante» deve ler-se «mas irrelevante»
Caro David Afonso,
Tomei a liberdade de reproduzir este seu post no Regionalização.
Cumprimentos,