Museu de Arte Popular
A decisão de se encerrar o Museu de Arte Popular para dar lugar a um museu de língua portuguesa é irracional. Neste texto de Pedro Sena-Lino e Rui Santos encontrarão argumentos muito pertinentes contra o encerramento desta unidade museológica. Por mim, isto não passa de uma aberração produto da vontade indómita que todos os governantes têm de deixar a sua marca, um vestígio que seja, uma reforma ou uma lei com o seu nome. Isto de se matar um museu para dar lugar a uma outra espécie de museu não lembrava nem ao diabo! Será que não existem outras alternativas? É claro que existem, mas no imaginário politiquês nacional é sinal de fraqueza reconhecer e emendar os próprios erros. Daí que estes sejam coerentemente levados até às suas últimas consequências. E como se ainda não fosse suficiente tamanha azelhice, a ministra parece ainda não saber lá muito bem o que há-de fazer com o espólio do Museu que se prepara para encerrar. Aparentemente vai ser redistribuído por várias instituições museológicas espalhadas pelo país fora. Como é possível? Como é possível que se desmembre um núcleo tão importante que vale sobretudo pelo seu todo e não pelas suas partes tomadas isoladamente? Como é possível que as as médias e pequenas cidades estejam a deixar escapar esta oportunidade? Por que razão não pode ficar o Museu de Arte Popular em Santarém, Évora, Faro, Coimbra, Aveiro, Porto, Braga ou Vila Real? Se Lisboa não quer, há (?) mais quem queira! Dos males o menor: se o Museu de Arte Popular vai ser despejado do seu edifício original, então que, pelo menos, a integridade do seu acervo seja preservada. A solução menos má seria, portanto, realojá-la numa outra cidade. Tenho uma sugestão: já que Guimarães vai ser Capital Europeia da Cultura... |
Publicado por David Afonso às 18:40
Comments on "Museu de Arte Popular"
O problema é outro.
Isabel Pires de Lima faz parte da verdadeira Geração Rasca de Portugal, a do Maio de 68, não aquela que o também rasca Vicente Jorge Silva quis dar o epiteto. Esta geração, que não acredita em Portugal, que odeia tudo o que é Português, que acha que tudo o que é estrangeiro é melhor (reflexo da sua própria inferioridade), tem um particular ódio à arquitectura do Estado Novo, talvez por esta ser muito Portuguesa e pouco estrangeira.
Não é só o Museu de Arte Popular que está em risco, o Clube Naval de Lisboa já foi despejado das instalações (também construídas para a exposição de 1940) e provavelmente serão demolidas, resta saber se o Padrão dos Descobrimentos também será riscado do mapa.
Luis, completamente de acordo. Com excepção para essa de que a arquitectura do Estado Novo é muito portuguesa. Não, nem por isso...
Caro David Afonso
A "transladação" da colecção para uma cidade "menor" não é solução, embora possa vir a ser o menor dos males.
A colecção e o museu constituem um todo, por assim dizer, "indivisível".
(Concordo que a arquitectura do Estado Novo tem muito pouco de português...)
Madre de Deus, Encarnação, Alvito. Alvalade - Bairros de Arquitectura estrangeira ?????
Se calhar Chelas é que é portuguesissíma? Pelo menos provoca orgasmos ao graça dias.
Ó Luis, caramba! Essa de Chelas põe-me numa posição delicada. É que isso é um exemplo de uma argumentação falaciosa, ou seja, a falácia do falso dilema. Por isso, essa passa sem resposta.
Mas o resto não. Acho muito discutível falar em arquitecturas nacionais (tal como é discutível falar em filosofias nacionais)por dois motivos: 1) raros são os casos em que há uma uniformidade tipológica, variando a arquitectura de região para região. Foi esta a grande decepção de salazar quando ordenou um inquérito em busca da «casa portuguesa» e os arquitectos e restantes especialistas descobriram não uma única, mas praí uma dezena. A verdade é que a arquitectura popular é extremamente variada consoante as caracteríticas climatéricas, topológicas e económicas da região em causa; 2)Quando se fala em arquitectura erudita (à falta de melhor designação...) o que acontece é que maior partes das vezes estamos perante movimentos ideológicos de âmbito internacional que se impõem num determinado momento. A arquitectura do Estado Novo de cariz monumentalista (a alta de Coimbra, por exemplo) é importada do fascismo italiano e alemão (está tudo muito bem documentado). Já agora, Chelas, também é um exemplo de um outro modelo importado (e não adaptado à realidade nacional).
Os bairros do Estado Novo (espalhados um pouco por todo o país)são - salvo honrosas excepções - resultado de uma interpretação mitológica do que devia ser a «casa portuguesa» (cujo paradeiro ainda hoje se desconhece). São originais, é verdade, mas não nacionais no sentido de materializarem quintaessencia da portugalidade.